Numa Festa de Verão que se bate por ser a única gratuita em território nacional, os desafios são muitos, as expectativas são altas e a festa faz-se em Família.
Decorria o ano de 1965 quando, por iniciativa dos pescadores de Cascais, se deu início às Festas do Mar, sendo as mesmas uma festa realizada em honra da Nossa Senhora dos Navegantes, a Santa Padroeira dos pescadores. De acordo com Bernardo Correa de Barros, membro da organização das Festas do Mar de 2016, após um interregno de quase duas décadas, consequência da convulsão política originada pela Revolução dos Cravos e da divisão que esta gerou, as mesmas “arrancam em 1992 com um formato totalmente diferente”. Nesse sentido e com a participação da Câmara Municipal de Cascais na organização das festividades, decide dar-se um novo alinhamento mais musical. No entanto, de acordo com António Ramos, presidente da Associação de Pescadores de Cascais, antigamente “as festas tinham animação (…), só que era uma noite de fado vadio, uma noite de fado com um fadista consagrado, ranchos folclóricos (…) faziam-se garraiadas na praia, a subida ao saco com o bacalhau, corrida de sacos, corrida de chatas…”. De há 7 anos para cá as “novas Festas do Mar” começaram a introduzir as bandas de Cascais, sendo esta uma das prioridades estabelecidas. Assim de acordo com o mesmo, “em 145 bandas, em 7 anos, 85 eram de Cascais”.
Outra particularidade interessante que marca as Festas do Mar é o envolvimento promovido pela organização que incentiva a participação da comunidade de Cascais vá para além do espectador. Neste sentido, para além da presença de vários artesãos de Cascais, as marcas presentes são tendencialmente de Cascais e as associações juvenis locais são responsáveis pelos bares que vendem as bebidas, sendo esta uma forma das mesmas “angariarem dinheiro para financiarem as suas atividades”.
Porém nem tudo são rosas. Assim, de acordo com Bernardo Correa de Ramos, dado o orçamento limitado disponível para a organização das Festas do Mar ao que se alia a gratuitidade das mesmas, existem alguns desafios no que toca nomeadamente, a “organizar um festival que seja fabuloso para as gentes de Cascais, para os artistas, para quem nos visita (…) e conseguir encaixar 20 bandas de grande calibre todos os anos”. No sentido de colmatar estes desafios inerentes à organização interna das Festas de Cascais, recentemente tem-se procurado agregar mais patrocinadores, destacando-se também a “excelência dos profissionais” que tornam o sonho possível. Futuramente e bastante sucintamente o objetivo é “não estragar”, remata Bernardo Correa de Barros.
No entanto e, apesar das alterações introduzidas e do alargamento que se tem verificado nos últimos anos e que se materializa no facto de “há 7 anos para cá se terem tornado [as Festas do Mar] no que é hoje conhecido como o maior festival gratuito do País”, a intenção é sempre “tornar as Festas do Mar umas festas de família, mantendo a tradição dos pescadores porque a base é a procissão da Nossa Senhora dos Navegantes”. Ou seja, “nasce primeiro a Procissão e depois as festas vêm a reboque”. De acordo com António Ramos já foi possível “contagiar o clube naval, a marina, as pranchas de surf”, sendo que este ano a Procissão que aconteceu no dia 21, pretendeu juntar o Clube Naval de Cascais, as embarcações à vela e os surfistas que, tal como Bernardo Correa afirma “também eles são ocupantes do mar”. Esta Procissão que tem início em terra e finda no mar é liderada pelos pescadores que levam andores e pessoas nas suas embarcações. De acordo com Bernardo Correa, apesar de toda a música é este o momento alto das Festas do Mar, afirmando que é “absolutamente extraordinária (…) É um momento lindíssimo…”, tendo este ano a Procissão contado com 17 andores. Assim por volta da 15.30h deu-se início à mesma conduzida pela filarmónica dos Bombeiros Voluntários de Carcavelos e de São Domingos da Rana. A procissão que partiu do Centro Cultural e findou na Baía de Cascais foi sempre acompanhada por populares curiosos e gentes de fé. Chegada ao final, por volta das 16.15h teve início um ritual no qual os santos presentes (nomeadamente a Nossa Senhora dos Milagres) são conduzidos mar adentro pelas embarcações pesqueiras vestidas a rigor, até ao Farol da Guia. De acordo com o Presidente da Associação de Pescadores de Cascais, a distribuição dos santos pelas várias embarcações é feita por sorteio, sendo a única exceção a Nossa Senhora dos Navegantes que “um ano é para um lado, um ano é para o outro (…) porque não pode ser repetida”. Num ambiente animado, de festa e entre de risos e conversa, honra-se a Santa Padroeira dos Pescadores tal como afirma António Ramos: “a gente vai pedir à Nossa Senhora saúde para o ano que vem”.