Os Prémios Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural e o Prémio Literário Fernando Namora, referentes a 2016, foram entregues pelo Presidente da República a José Carlos Vasconcelos e a Afonso Cruz, respetivamente.
Marcelo Rebelo de Sousa, que presidiu à cerimónia realizada no passado dia 12 de outubro, ‘justificou’ a sua presença na entrega destes dois Prémios da Estoril Sol “como um reconhecimento do seu evidente mérito cultural. Estamos perante um ato de resistência cultural. Também este é um encontro de cidadania cultural. Em tempos de voracidade de outras conjunturas e de dispersões e de descasos nomeadamente no domínio da Cultura, aqui vamos resistindo”.
“Quero sublinhar uma característica importante dos dois premiados: a sua humilde generosidade, ou se quiserem a sua generosa humildade. Assim é José Carlos Vasconcelos e Afonso Cruz. Isso é tão importante do ponto de vista cultural. Só quem é verdadeiramente excecional se permite ser tão humilde, tão civicamente humilde, tão generosamente humilde”, disse o Presidente da República, na sua intervenção.
Marcelo Rebelo de Sousa evidenciou “a militância cultural” de José Carlos Vasconcelos que tem sido consolidada ao “longo de décadas com uma invejável saúde e perseverança”. E prosseguiu, referindo, ainda, que o Jornal de Letras, Artes e Ideias que se mantém, há 37 anos, nas bancas, é uma prova “bem evidente dessa resistência e perseverança cultural”.
Em relação a Afonso Cruz, sublinhou que “não só se desmultiplica em atividades criativas, – músico, realizador, ilustrador -, como tem já uma obra literária marcada pela multiplicidade de registos e pelo magnífico acolhimento do público e da crítica. O Prémio Fernando Namora vem, assim, juntar-se a um número considerável de distinções”.
No enquadramento das obras vencedoras, Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Júri, recordou que “Flores”, de Afonso Cruz, foi distinguida pela “elevada qualidade estética, o domínio da linguagem de ficção, a capacidade de construção de uma história e das suas personagens, sabendo lidar com a introdução do aleatório numa estrutura bem montada, capaz de compreender o mundo da vida”. Em relação a José Carlos Vasconcelos, referiu que se tem “afirmado e destacado, em todos os domínios em que tem exercido atividades, como das figuras mais marcantes da vida portuguesa nos dias de hoje. (..) O júri salientou especialmente considerando a natureza do prémio, o papel desempenhado, com inteligência e elevado sentido profissional, pelo premiado na criação, direção e manutenção de um órgão de comunicação social único no panorama da língua portuguesa”.
Afonso Cruz usou da palavra, explicando que “Flores” é “um livro especial sobre a memória que por vezes é subvalorizada, apesar da sua importância. Fazendo uma análise da conjuntura internacional, o premiado recordou “os erros históricos do passado que são reeditados atualmente. A aprendizagem da História não nos ajuda a poder corrigi-la”.
Por seu lado, José Carlos Vasconcelos afirmou: “A minha honra e satisfação por receber este prémio são redobrados por ele homenagear Vasco Graça Moura, tendo o seu nome, e por na edição anterior, a primeira, haver distinguido Eduardo Lourenço”. O premiado confessou ainda, que esta distinção, “constitui um reconhecimento que muito me toca, um raro reconforto e estímulo. Que recebo como sou, alguém sem ambição pessoal, que não busca o êxito nem pensa na “posteridade”, não procura qualquer lugar em qualquer galeria de retratos”, que vive o efémero como futuro – e como se o efémero fosse eterno”.
Por sua vez, Paulo Teixeira Pinto, Presidente do Conselho de Administração da Babel, parceira da Estoril Sol na atribuição do Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural, evocou a memória de João Lobo Antunes, recordando o facto de o antigo membro do Júri ter, ainda, estado presente na cerimónia de entrega dos Prémios da Estoril Sol, referentes a 2015.
Na abertura da cerimónia, o Presidente da Estoril-Sol, Mário Assis Ferreira, referiu: “Juntámos, este ano, na mesma cerimónia solene, dois Prémios instituídos pela Estoril Sol que se revestem de profundo significado para quem, como nós, tem dedicado à Cultura uma importância e um interesse que lhe são antigos e intrínsecos. Um deles, o Prémio Literário Fernando Namora foi lançado, há quase três décadas, contribuindo persistentemente para a valorização do romance e dos seus autores. Já o outro, mais recente, o Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural, constitui uma homenagem e reconhecimento de uma personalidade intelectual singular, de invulgar polivalência – enquanto escritor, poeta, ensaísta, tradutor de clássicos, polemista ardoroso – e que nos deixou cedo demais”.
“A cultura tem sido, desde que, em 1987, assumi a gestão da Estoril Sol, a tónica dominante que nos norteou. Mais do que o estereótipo de um Casino, foi nas Artes Plásticas, nas Artes Cénicas, na Música, no Teatro, na Literatura, nos Prémios Literários, na publicação dessa revista de culto que é a “Egoísta”, que buscámos a sede própria de uma matriz conceptual e vocacional que é a nossa, da Estoril Sol, e que abraçámos com rigor e convicção”, concluiu.
O Júri desta 19.ª edição do Prémio Literário Fernando Namora, além de Guilherme d`Oliveira Martins, foi ainda constituído por José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, convidados a título individual e, ainda, Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, pela Estoril Sol.
Por sua vez, o Júri que atribuiu o Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural, além dos elementos do júri do Prémio Literário Fernando Namora integrou, ainda, José Carlos Seabra Pereira, em representação da Babel.