A esta pergunta Hélder Sucena responde com um grande sorriso “São máquinas diabólicas, feitas de materiais tão simples como madeira ou corda, que usam apenas a energia mais acessível do mundo: a humana” e a inspiração de onde vem? “A inspiração vem do que vejo no dia a dia. Alguns são criados a partir de jogos já existentes (medievais, de computador, até da televisão), alguns são inventados a partir de outros jogos, e ainda há aqueles que são baseados nas necessidades dos idosos.”
Foi num desses eventos, na cidade das Caldas da Rainha, enquanto saboreávamos um café, que Hélder Sucena, de 45 anos, nascido em Águeda, contou a historia não só dos “Jogos do Hélder”, mas também do “Ganhar Sorrisos”, dois projetos que lhe enchem o coração e a vida.
Com uma licenciatura em gestão, viu-se desempregado, quando a sua empresa de importação de madeiras, faliu, em consequência da crise que se abateu sobre Portugal em 2007.
Com família e compromissos para cumprir e porque baixar os braços não estava na sua maneira de ser, começou com a mulher a fazer licores que ia vender a uma feirinha em Águeda.
Mas para ter sucesso Hélder sabia que tinha de atrair pessoas e pensou “Vou criar um jogo, vou fazer barulho, para as pessoas virem ao pé do jogo, ao ficarem ao pé do jogo, ficam junto aos licores e acabam por comprar”. Ao dar conta que as crianças se entusiasmavam com um tipo de jogos que não faziam parte da sua realidade e que inclusivamente transmitiam aos pais esse entusiasmo, Hélder, sentiu que estava no caminho certo. E assim nasceram os “Jogos do Hélder”.
Não passou muito tempo, para que a Santa Casa da Misericórdia de Águeda o convidasse para um evento.
Os jogos foram levados para as crianças, mas os idosos também lá estavam e Hélder apercebeu-se que também eles se aproximavam a pouco e pouco e com a mesma curiosidade das crianças, começavam a jogar. “Reparei numa senhora idosa que jogava e de repente teve necessidade de apanhar uma bola que tinha caído. Espontaneamente, baixou-se, apanhou a bola e continuou a jogar. Pensei, ninguém a mandou, foi espontâneo, mexeu-se, fez exercício físico”. Nesse momento começou a desenhar-se na sua mente o programa “Ganhar Sorrisos”.
“Ganhar Sorrisos” é um programa baseado nos “Jogos do Hélder” mas vocacionado para os seniores, diz este gestor, que mais parece um psicólogo “durante três anos estive a experimentar como havia de fazer porque é muito difícil, difícil mesmo, estimular aquelas pessoas que já se sentem perdidas, que já não querem saber da vida. É uma realidade muito triste quando já não se quer viver, e é esta indiferença perante a vida que mais me choca”.
Para contrariar essa indiferença criou um programa especifico. Durante um mês, o jogo está na instituição para a realização de um torneio. No final do torneio, há um prémio para o ganhador no sentido de aumentar a autoestima e o fazer sentir parte da sociedade. Isto incentiva os outros a querem participar no próximo torneio.
Este incentivo motivacional, que infelizmente falta muito nestas instituições, é por vezes conseguido com coisas muito simples e pouco onerosas. Segundo nos confidenciou Hélder Sucena o custo mensal desta atividade, é de 120€ já com Iva incluído. “O retorno, a motivação a alegria que se vê no rosto destas pessoas, não tem preço” diz Helder com os olhos brilhantes de alegria e continua “Já nos eventos ao ar livre, mais direcionado para as famílias, em que não há um grupo fechado, quando vejo os pais a jogarem com os filhos e a vibrarem em conjunto, sinto que é este o meu caminho”.
Preocupado com a sociedade que temos hoje, com o pouco tempo que os pais têm para dedicar aos filhos e aos seus idosos, acredita que os seus projetos podem vir a ajudar as relações entre as famílias.
Quando questionado acerca do retorno financeiro, que precisa para viver, este homem de sorriso franco, responde-nos com a simplicidade que o caracteriza “Quando se faz uma coisa bem-feita, com o objetivo não de ganhar dinheiro imediato, mas de ajudar, de fazer com que as pessoas vivam mais felizes, que gostem, aí o dinheiro vai aparecer de alguma maneira. E eu sinto que mais tarde ou mais cedo eu vou ter os jogos espalhados por Portugal inteiro. Então essa altura para alem do retorno financeiro eu vou ter o retorno e o reconhecimento do meu trabalho”.
A conversa já ia longa. Despedimo-nos do Hélder, com a firme convicção de que o Natal ‘é sempre que um homem quiser’ e este homem (Hélder Sucena) evidencia felicidade em fazer os outros felizes.