Reza a lenda que uma velha, muito velha e muito rica, deixou um grande legado à Igreja da Vila do Porco. Mas, para pôr a sua alma em bom recato, não deixou de exigir que, no final da festa que fariam com a sua dádiva, todos rezassem pela sua alma, um Padre-nosso todos os anos, volvido o Natal. Como se não se fiasse a velha que se cumprisse a dívida, até foram lavradas escrituras com a sua exigência:
“Tem obrigação de dar na primeira oitava de Natal cinco meios de castanha e cinco alqueires de vinho pela alma de uma velha que deixou noventa e seis alqueires de centeio a esta Igreja impostos na Quinta do Lagar de Azeite para que com esta castanha e vinho se fizesse no mesmo dia um magusto e todos dele comessem e rezassem na Igreja um Padre Nosso pela sua alma.”
A tradição remonta, pelo menos, ao século XVII, ao ano de 1698, e, apesar de ninguém sequer saber o nome da velha a quem encomendam a alma, ainda hoje se cumpre.
Assim, no dia 26 de Dezembro de cada ano, comemora-se o “Magusto da Velha”. E, para que tal continue a realizar-se, a Junta de Freguesia incumbe-se de arranjar as ditas castanhas. Depois, é só cumprir a tradição. Cerca de 150 quilos de castanhas são atiradas do cimo do campanário da Igreja, enquanto que os sinos repicam insistentemente. Perante tal chuva de carolos, a população, além de rezar pela velha, também quer forrar o estômago. Assim vemos miúdos e graúdos correr de um lado para o outro na tentativa de encher as abadas de castanhas. Algumas são assadas nas brasas do Madeiro do Natal que normalmente ainda aquecem quem assiste. A acompanhar são distribuídos 150 litros de vinho tinto que também serve para brindar à velha.
Durante o reviver desta tradição, um outro costume acontece: as cavaladas, que ocorrem quando as pessoas se baixam para apanharem as castanhas do chão e os mais novos saltam para cima das suas costas.
Fonte: JFAV