Nelson Mateus, impulsionador desta homenagem, diz-nos que para além de celebrar os 60 anos de carreira de Simone de Oliveira gostaria de “organizar uma exposição retrospetiva que retrate a mulher, a mãe, a avó, a cantora, apresentadora, porque as pessoas, por vezes não têm ideia de que quando a Simone, começou a cantar o Cristo Rei ainda não tinha sido inaugurado. Embora tenha 60 anos de carreira estamos a falar de uma mulher completamente contemporânea. A Simone atravessa três ou quatro gerações. E essa exposição seria mesmo isso. Permitir aos mais velhos recordar esta mulher que faz parte da nossa cultura desde sempre e permitir aos mais novos, saber quem tem sido esta mulher que tem sido tão impactante na nossa sociedade”.
Para alem da exposição Nelson, pretende ainda organizar no espaço Santa Catarina, “um jantar de homenagem à Simone que fosse à volta da comida alentejana que ela tanto aprecia. Um jantar para amigos, para familiares, intimista para comemorarmos estes 60 anos de carreira” acrescentando com visível admiração “Se Portugal, tivesse muitas mais Simone, seriamos todos muito mais ricos, porque foi uma mulher que rompeu com preconceitos ao longo da vida inteira”.
Rodeada pelos amigos, Simone de Oliveira, 81 anos de grande vitalidade e boa disposição fala dos seus 60 de carreira que agora se comemora. Em conversa com o aNOTÍCIA.pt, conta que “ tive muita sorte, trabalhei muito, chorei muito, ri muito! Andei por muito lado, conheci gente maravilhosa, músicos, maestros, compositores poetas, os meus colegas todos, os que estão cá e os que já partiram e que me deixaram uma saudade imensa, tive a sorte de trabalhar com toda a gente menos com o Antonio Silva e o Vasco Santana, trabalhei em todos os teatros de Lisboa até nos que já arderam, o que é que eu posso pedir mais?” conclui com o sorriso maroto com que já nos habituou.
Nuno Feist o grande companheiro de estrada de Simone que a tem acompanhado nas últimas décadas, em quase todos os espetáculos, tanto em Portugal como no estrangeiro, mostrou-se desiludido com as dificuldades com que se tem deparado, para montar um espetáculo no Coliseu dos Recreios, à grande senhora da música portuguesa. Como nos contou “Temos parte do dinheiro, a CML, na pessoa da vereadora Catarina Vaz pinto, disponibilizou logo, uma parte da verba (cerca de um terço), para fazermos o espetáculo, porque a Simone, merece este tributo, a outra parte da verba, não estou a conseguir arranjar, o que é frustrante porque a Simone merece isto. Já tentei entidades bancárias, particulares e grandes empresas e bato sempre com a cabeça numa parede de indiferença, tendo inclusivamente já ouvido, “mas ela ainda canta?”.
Com uma expressão triste e desanimada Nuno, continua “Estamos a falar da Simone de Oliveira, não estamos a falar de uma anónima. Acho triste, porque em Inglaterra, estava já tudo a dizer “queremos fazer”. Em Portugal está tudo a borrifar-se para o que é nosso. A Madonna, esgota três coliseus de imediato (não tenho nada contra ela) e com bilhetes a 150€. Não é só com a Simone, é com os artistas portugueses no geral. Apoiamos muito pouco o que é nosso. Só quando as pessoas morrem. Aí então somos os maiores”.
Para este músico e produtor, Simone é comparável a uma Shirley Bassey, a uma Barbra Streisand ou até a uma Judy Garland, “embora em Portugal não se reconheça o justo valor desta Diva, viva de boa saúde, a trabalhar como nunca e ainda com tanto para oferecer” conclui Nuno Feist.
Presente na festa, esteve também o Grupo de Cantadeiras do Redondo, que presentearam Simone com uma versão da “Desfolhada” . Emocionada a artista juntou-se ao grupo, para com elas interpretar a celebre canção.
Quase tudo já foi dito por esta mulher que sempre se manteve fiel aos seus princípios, e que hoje, tal como ontem, mantém uma aura de beleza incomparável.
Quisemos saber quais os próximos projetos. Disse-nos não os fazer. “Eu não gosto de falar do amanhã, uma semana de cada vez, vamos cantar, vamos andando vamos fazendo, não se pode fazer projetos a longo prazo, tenho 81 anos, a minha filha tem 60 e o meu neto 30. Como é que passou este tempo todo e nem dei por isso?”. Taxativamente termina “Por agora vou continuar a cantar!”