Acompanhados por Nuno Adriano, grande conhecedor da Estrela e dos seus trilhos pedestres, envolvemo-nos no desafio de descobrir as belezas e os segredos desta serra que a maior parte das pessoas apenas visita na época em que está coberta de neve.
Desiludam-se aqueles que acham que só nessa época a Estrela tem encanto.
Esta cordilheira reúne, uma multiplicidade de cenários naturais, cujas propriedades, surpreendem aqueles que, ansiosos ‘ousam’ penetrar no seu interior selvagem que tem tanto de austero e difícil, como de belo e inesquecível.
Com a chegada da Primavera, as flores e a restante vegetação formam um arco-íris de vida, revelando belezas insuspeitas e recônditos esconderijos.
A nossa caminhada começou pela manhã, na Mata da Nave de Santo Antonio, uma floresta composta por várias espécies de vegetação arbórea, num misto de espécies autóctones e exóticas, como a Tramazeira, o Pinheiro-do-Oregon, o Larício-europeu, o Pinheiro-negro ou o Pinheiro-silvestre que nos reportam para um cenário alpino. À sua sombra, escutamos os sons típicos de uma floresta com vida. Várias espécies de aves, onde se destaca o melódico Tentilhão-comum, o Verdelhão, a Cia, revela-nos que aqui a vida decorre ao ritmo que a montanha determina.
Um pouco mais à frente deparamo-nos com um ‘mar’ de blocos graníticos que foram depositados numa orientação específica, fruto do degelo de um glaciar que no planalto da torre atingiu os 80 metros de espessura, mas que foi bem superior nos glaciares, que escoavam lentamente pelos vales periféricos.
Apelidada de “Moreia da Nave de Santo António” estes monstros rochosos foram depositados pelo gelo e aqui perduram até hoje, imutáveis e silenciosos. Destaca-se na paisagem o colossal Poio do Judeu, provavelmente o maior bloco errático da Península Ibérica e que parece nos vigiar atentamente enquanto percorremos o seu território.
No topo destes blocos, somos brindados com as poses altivas de algumas aves, como o Chasco-cinzento, a Ferreirinha-comum ou chamativo Melro-azul. Um autêntico paraíso para os amantes de fotografia de natureza.
E eis que chegamos a uma das paisagens de maior beleza da Serra da Estrela. Situada a cerca de 1.550 metros de altitude, a Nave de Santo António, é uma antiga lagoa de origem glaciar que foi colmatada por comunidades de turfeiras e cervunais, abrigando ainda hoje os últimos rebanhos estivais da Serra da Estrela. Este habitat maioritariamente húmido e de natureza orgânica permite o desenvolvimento de algumas espécies de plantas, que vão desde as mais comuns, como os Narcisos, o Açafrão-da-montanha, a Campânula-da-Estrela, a Genciana-das-turfeiras, entre outras, até às mais raras como a Orvalhinha, uma espécie insectívora.
A água cristalina que corria pelo ribeiro que atravessa a Nave, convidou-nos a uns momentos de descanso para saborear um café, com que o nosso guia nos presenteou.
Da Nave de Santo Antonio, descemos até ao Covão d’Ametade, local bem nosso conhecido. E se em abril, a última vez que o visitamos, a neve era o elemento predominante, agora a cor dominante é o verde. O rio corria alegremente e o sol brilhava por entre os ramos frondosos das arvores.
O passeio da manhã terminou aqui. Já era hora de almoço e tínhamos um belo repasto à nossa espera, num dos bons restaurantes da zona que nos obsequiou com um divinal arroz de zimbro e uma aba de vitela assada de se lhe tirar o chapéu.
Da parte da tarde, em breve, vos daremos conta de outro trilho, outras paisagens, outras belezas que nos extasiaram com a sua beleza e diversidade.