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“Cante pela sua saúde” O poder transformador da música

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“Cante pela sua saúde” O poder transformador da música
“Cante pela sua saúde” O poder transformador da música - ®DR

Conferência com oradores nacionais e internacionais contou com a participação de académicos, musicoterapeutas, sociólogos  entre outros profissionais da área de Intervenção Social e reuniu online mais de 150 pessoas, na apresentação do projeto “Cante pela sua saúde”, que  teve um grande impacto na área do envelhecimento ativo e  é uma das primeiras reações do ser humano que permanece até ao fim da vida.

Sentir-se melhor, esquecer problemas, ganhar orgulho, entusiasmo, ao mesmo tempo que se vivencia uma boa experiência, são apenas alguns dos efeitos que a música tem, além de promover a saúde física, contato social e o ganho substancial a nível cognitivo, desenvolvimento linguístico, criação de laços emocionais e de proximidade, reduzindo o sentimento de solidão e aumentando o interesse pela vida.

Estas foram algumas das principais conclusões obtidas durante a Conferência Música para a Saúde e o Bem-estar, uma importante iniciativa do Iscte-Saúde organizada pelo CIS-Iscte, na qual foram apresentados os resultados do Projeto “Cante pela sua saúde”.  

Durante o encontro, onde intervieram vários especialistas das mais diversas áreas, nomeadamente da académica, científica, musical, sociológica e psico-social, foram partilhados os resultados do estudo e da intervenção da música na promoção da saúde, bem-estar e comportamental, além da apresentação do documentário making of visto pelos seus protagonistas, assim como um original momento musical ao vivo, em modo de pausa, pelo músico Pedro Baião ao piano.

Neste evento que decorreu online estiveram presentes vários especialistas nacionais e internacionais, tendo a conferência sido moderada pelas responsáveis pela direção científica Maria Luísa Lima(Iscte-Saúde) e Iolanda Galinha (CIP-UAL) e Anabela Pires coordenadora artística, entre outros intervenientes.

A apresentar o projeto “Cante pela sua saúde” esteve Iolanda Galinha, a Coordenadora da comissão científica do evento, que falou de forma sumária sobre o Sing4Health – Estudo Experimental Efeitos de um Programa de Canto em Grupo no Bem- Estar Subjetivo e Social de Seniores, e da estratégia de intervenção, desde a busca evidências de benefícios, com controlo capazes de testar a causalidade dos benefícios com validade científica e com medições, assim como do acompanhamento das populações-alvo mais estudadas.

O universo de intervenientes escolhido foram adultos menos idosos, com escolaridade elevada, que procuram ativamente programas de canto em grupo, sem problemas de autonomia ou vulnerabilidade social.

Os resultados do mesmo, segundo a responsável confirmaram “uma forte validade científica, mostrando que participar no Programa de Canto em Grupo (PCG) aumentou o afeto positivo nos adultos mais velhos, tendo tido também um efeito significativo no bem-estar social e marginalmente significativo na auto-estima dos participantes que completaram 75% das sessões, em comparação com o Grupo de controlo e os que desistiram”, a professora Iolanda Galinha asseverou que ”os efeitos mantiveram-se seis meses após a intervenção e foram corroborados pelos relatos dos participantes. O estudo ainda forneceu evidências da eficácia do PCG suficientemente fortes para defender a sua implementação para esta população-alvo”. Como advertência futura fica a advertência que “os futuros estudos devem replicar o estudo com a mesma população-alvo e testar a consistência dos resultados, se possível em amostras com maior equilíbrio de género”.

A professora apresentou também no final da sua explanação necessidades a serem colmatadas em futuros PCG, nomeadamente de maior duração que “poderão consolidar os benefícios no bem-estar e na integração social no grupo de canto e favorecer a sua transferência para outros contextos sociais dos idosos (centros de dia)’.  Estas ações junto de adultos vulneráveis (idades avançadas, problemas de saúde, baixa motivação) devem ter grupos mais reduzidos, com apoio individualizado, contribuindo assim para maiores benefícios sociais”. A responsável científica assinalou também que, no caso da existência de participantes “com baixa escolaridade e défices cognitivos os objetivos do programa devem ser ajustados, assim como o apoio disponibilizado mediante as caraterísticas, de forma a contribuir para maior realização pessoal dos adultos com fortes restrições de mobilidade e problemas de saúde”. A responsável deu ainda como exemplo a possibilidade de implementar os grupos de canto nos centros de dia, de forma a evitar deslocações dolorosas.

De entre os vários  intervenientes destacou-se Graça Fonseca, Ministra da Cultura, que salientou a importância “deste projeto ter sido financiada no âmbito da primeira edição do Orçamento Participativo Portugal, em 2017”, altura na qual era ainda Secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administrativa “e de ter sido votado pelos portugueses e por todos aqueles que acreditam que a música tem um poder transformador na vida das pessoa, no ano em que existiram mais propostas para o Orçamento Participativo para diversas áreas, nomeadamente cultura, ciência e saúde”.

A ministra afiançou ainda que o projeto “Cante pela sua saúde”, em concreto, teve um grande impacto na área do envelhecimento ativo, e que são instituições como as que fizeram parte do mesmo, que tornam também possíveis estas ações e transformações junto da comunidade sénior.

Das diversas apresentações realçou-se a intervenção de Glenn Schellenberg, professor da Universidade de Toronto e Iscte, sob o tema “Quando é que a exposição à música tem efeitos secundários positivos?” que em modo de conclusão avançou que “a música em geral oferece ganhos cognitivos e no desenvolvimento linguístico, na saúde física, contato social e bem-estar emocional, não só quando a ouvimos, mas também quando a executamos”, o professor acrescentou ainda que “a música está ligada intrinsecamente às emoções, que no sistema cognitivo se produz através dos estímulos positivos e comportamentos.”

Muitas foram as conclusões obtidas através dos diversos painéis dos palestrantes, que fizeram uma abordagem transversal sobre as várias populações. Houve consenso entre os diversos intervenientes, no sentido de aprovar de que desde tenra idade a música melhora as ligações sociais, prolongando-as até ao estado adulto. 

De acordo ficaram também os intervenientes sobre a influência muito positiva nos laços entre as populações envolvidas, o sentimento de proximidade, da saúde mental e física, sobretudo quando praticada em grupos canto coral, aprendizagem e execução de um instrumento musical – equilíbrio da respiração, produção de oxitocina (a hormona do bem-estar) e a felicidade.

O último painel trouxe uma abordagem diferente e muito pedagógica ao tema:Cantar pela saúde e bem-estar: lições aprendidas e erros a evitar!, apresentado por Hilary Moss, professora da Universidade de Limerick (República da Irlanda), que é também Musicoterapeuta com MBA em House Service Management. Desenvolve disciplinas múltiplas em programas de saúde, artes, ciências humanas e musicoterapia em prol do bem-estar. Encontra-se ainda a promover um projeto que visa promover o papel da música para pessoas com demência e dores crónicas. Foi responsável pela promoção e desenvolvimento de competências junto de profissionais do Sistema Nacional de Saúde irlandês.

Dos estudos que Hilary Moss tem levado a cabo, juntamente com outros investigadores, criou um universo de 54 participantes divididos entre seis grupos de canto coral, com o objetivo de investigar e descobrir os benefícios do canto em grupo. Das conclusões obtidas “encontram-se provas qualitativas na redução do stress, motivação laboral e melhores vínculos sociais”, a professora acrescentou ainda que “a maior parte das pessoas do coro tinham todas elas diplomas universitários e eram mulheres com mais de 40 anos, muito envolvidas com o seu trabalho antes de se envolverem no coro”.

A título pedagógico a autora e musicoterapeuta salientou que a música é uma das primeiras reações do ser humano que permanece até ao fim de vida, mesmo quando os indivíduos têm incapacidades em casos como a demência, em que as pessoas conseguem cantar, mesmo que já não consigam falar “cantar motiva-nos, leva-nos ao movimento é um canal de expressão emocional e promove o relaxamento, além de criar um espaço individual e reforçar a identidade” assegura, adiantando que “sabemos que os pais criam um elo com os bebés através do canto, e esta é uma das primeiras formas de comunicar com o bebé”.

Um dos exemplos mais marcantes adiantados por Hilary Moss foi o facto de nas instituições onde é desenvolvido um grupo de coro de trabalho “concluiu-se que esta atividade desmembra a institucionalização, desmantelando as hierarquias existentes”, disse acentuando que “a música é importante na terapia da fala e para o trabalho clínico, cantar na nossa vida quotidiana e cantar no hospital é fundamental” dando como exemplo : “em centros psiquiátricos é um verdadeiro ato de libertação, já que nestes casos o ambiente é extremamente controlado. Sem dúvida que cantar permite um maior envolvimento com inúmeras atividades, sejam elas a leitura, a prática desportiva, entre outras” garantiu a professora.

Contudo, também na sua exposição Hilary Moss falou da necessidade de haver o cuidado por parte dos profissionais de saúde em avaliar os efeitos colaterais que música possa ter, estando atentos às reações dos doentes, “já que a música pode também pode trazer memórias dolorosas, e ter algumas contra indicações em ambientes hospitalares em que existe uma regulamentação auditiva, como as unidades neonatais, os pacientes que apresentam distúrbios de consciência ou que não querem peremptoriamente ouvir música” concluiu.

Em modo de reflexão e conclusão, José Soares Neves, sociólogo, Diretor do Observatório Português das Atividades Culturais (OPAC) referiu “que existem já uma vasta diversidade de projetos aliados a diversas populações alvo, levados a cabo por vários centros de investigação, para diversas faixas etárias e com diversas patologias, que por sua vez tomam em conta a articulação entre a ciência e a emoção, representadas pela razão e pelo coração” acrescentando ainda que a Música aliada à saúde e ao bem estar é importante tendo-se concluído que existem inúmeras abordagens e pontos de vista, e que o Projeto Cante pela Sua Saúde, em destaque na conferência é um excelente exemplo de como a intervenção deve ser continuada, existem aspetos que não são controláveis – e a pandemia foi um deles – mas que acima de tudo são merecedores de mérito artístico e pessoal a todos os que estiveram envolvidos no mesmo”, terminando assim com estas alegações o evento que envolveu cerca de 150 participantes.

Sobre o projeto “Cante pela Sua Saúde”:

“Cante pela sua saúde” nasceu de uma ideia da cantora Anabela, apresentada e financiada no âmbito do Orçamento Participativo Portugal 2017 e implementado pela Direção Geral das Artes (DGARTES) em parceria com a Santa Casa da Misericórdia (SCM) de Almada, a SCM de Lisboa, a Cooperativa de Ensino Universitário – Universidade Autónoma de Lisboa (CEU-UAL, CIP, UALMEDIA),  o CIS-Iscte e o Organismo de Produção Artística/Teatro Nacional de São Carlos (OPART/TNSC).

A direção científica esteve a cargo de Iolanda Galinha (CIP-UAL) e Maria Luísa Lima (Iscte-Saúde).  A direção artística a cargo de Anabela Pires e João Frizza e a direção musical de Sérgio Fontão.

As entidades associadas parceiras envolvidas foram a Câmara Municipal de Almada (Convento dos Capuchos, Fórum Municipal Romeu Correia), a Universidade Lusófona, a Faculdade de Motricidade Humana e o Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa. O evento foi a primeira realização pública do Iscte-Saúde, uma iniciativa transversal a todo o Iscte, desenvolvida com a finalidade de contribuir para uma melhor resposta aos desafios da saúde na sociedade atual, através da conjugação entre a investigação, formação e intervenção.

O Iscte-Saúde assume-se numa perspetiva de saúde social, que é nova e alarga o conceito de saúde à participação do cidadão, ao papel das políticas públicas, à transformação digital e à investigação colaborativa. Este evento, que juntou muitos exemplos de saúde social, foi uma ótima forma de apresentar o Iscte-Saúde.

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