A nova Ala do Palácio Nacional da Ajuda está concluída e pronta para acolher o Museu do Tesouro Real que irá abrir ao público em novembro.
Este espaço único e simbólico do património nacional vê agora escrita uma nova página na sua história, de relevância incontornável para a oferta cultural de Lisboa a nível internacional.
A obra que irá albergar o Museu do Tesouro Real remata a ala poente, com a imponência e escala monumental características do Palácio da Ajuda, para a seguir receber um novo espaço museológico. Com um sistema de segurança do mais alto nível, o núcleo central deste edifício, que se apresenta com uma estrutura em vidro atravessada por lâminas verticais, irá ter uma caixa-forte com 40 metros de comprimento, dez de altura e dez de largura, três pisos e duas portas em aço, com cinco toneladas e 40cm de espessura cada. É aqui que está a ser instalado o futuro Museu do Tesouro Real, onde poderá ser visitada a exposição permanente de um acervo de valor histórico, artístico e cultural em coleções de ourivesaria e joias da antiga Casa Real, cujo restauro das peças está a cargo dos técnicos do Laboratório José Figueiredo.
A totalidade do projeto, que também inclui a requalificação do espaço público na Calçada da Ajuda, tem um valor de investimento de 31 milhões de euros, maioritariamente viabilizado pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa. O projeto de arquitetura é da responsabilidade da Direção Geral do Património Cultural (arquiteto João Carlos Santos) e o de museologia e comunicação gráfica da “Providência Design”. A gestão e implementação da obra está a cargo da Associação Turismo de Lisboa, por incumbência da Câmara Municipal de Lisboa.
O acesso ao novo edifício da ala poente fica altamente reservado durante os próximos meses para que os trabalhos de instalação do Museu do Tesouro Real sejam realizados com a máxima segurança, sendo esta uma das prioridades deste projeto dado o valor do acervo museológico. Posteriormente, irá decorrer uma campanha de valorização no Palácio Nacional da Ajuda, nomeadamente a recuperação do pátio, das fachadas e dos espaços exteriores.
As vicissitudes do Palácio Nacional da Ajuda
- A primeira pedra do Palácio Nacional da Ajuda foi lançada, a 9 de novembro de 1875, pelo Príncipe Regente D. João.
- As obras iniciadas em 1875, com um projeto do arquiteto Manuel Caetano de Sousa segundo uma estética barroca, foram interrompidas pouco tempo depois e reiniciadas em 1802, após a sua morte, segundo um projeto dos arquitetos Francisco Xavier Fabri e José da Costa e Silva, mais moderno, já com uma estética neoclássica, expressão arquitetónica dominante nessa época na Europa.
- Em 1807, com as invasões francesas, a obra é de novo interrompida e posteriormente retomada tendo António Francisco Rosa assumido a condução dos trabalhos em 1818. O Palácio que, a ser construído conforme projeto inicial, seria um dos maiores da Europa e do Mundo, viu a sua dimensão reduzida para um só pátio, tornando-se a fachada nascente a fachada principal.
- Apesar das inúmeras tentativas que se fizeram, durante o século XIX e século XX, com vários projetos de remate ao longo de mais 200 anos, só em 2016 se iniciou finalmente o projeto e as obras necessárias ao remate poente do Palácio Nacional da Ajuda para instalação do Museu do Tesouro Real, numa parceria que envolveu o Ministério da Cultura / Direção Geral do Património Cultural, a Câmara Municipal de Lisboa e a Associação de Turismo de Lisboa.
O futuro Museu do Tesouro Real
A exposição permanente do futuro Museu do Tesouro Real foi pensada em 11 núcleos, numa abordagem aprofundada sobre a origem e percurso das peças que os compõem.
O primeiro núcleo da exposição é denominado (1) Ouro e diamantes do Brasil onde é apresentada uma amostra de exemplares em bruto dos metais e das gemas que simbolizam dois importantes monopólios da Coroa, a extração de ouro e de diamantes no Brasil. No segundo núcleo, onde se expõe parte selecionada do conjunto de (2) moedas e medalhas da Coroa.
No terceiro núcleo são apresentadas as (3) Joias que compõem o acervo do PNA. Provenientes da joalharia antiga pertença da Coroa, ou seja, do Estado e as joias provenientes das antigas coleções particulares de diferentes membros da família real.
O quarto núcleo é dedicado às (4) Ordens Honoríficas reúne um conjunto ímpar a nível nacional, testemunho secular das intensas relações internacionais da corte portuguesa e da importância histórica destes instrumentos de soberania e diplomacia. O quinto núcleo apresenta as (5) Insígnias Régias: Objetos Rituais da Monarquia e onde são exibidas algumas das mais simbólicas e valiosas joias da Coroa, como as condecorações ricas das Três Ordens Militares – Cristo, Avis e Santiago –, a coroa real, os cetros, e os dois mantos subsistentes.
O sexto núcleo é dedicado aos objetos de uso civil em prata lavrada de diferentes centros de produção, com destaque para um conjunto muito expressivo, a (6) Prata de Aparato da Coroa com salvas e pratas portugueses quinhentistas. Segue-se o sétimo núcleo (7) que remete para as antigas Coleções Particulares do rei D. Fernando II e do seu filho, D. Luís I, com outras reputadas peças de prata de uso civil.
O oitavo núcleo é dedicado às (8) Ofertas Diplomáticas decorrentes da diplomacia ao longo dos séculos. Os cerimoniais religiosos são evocados no nono núcleo dedicado à (9) Capela Real, com uma seleção de alfaias litúrgicas e paramentos, dos muitos que antigamente integraram o património da Coroa.
O décimo núcleo é dedicado à (10) Baixela Germain, assim designada por ter sido encomendada ao ourives François-Thomas Germain após o Terramoto de 1755. Conjunto de referência da ourivesaria francesa de setecentos a nível internacional pela qualidade e raridade. O último núcleo, (11) Viagens do Tesouro Real, pretende dar a conhecer a mobilidade do tesouro que estava em regra junto ao rei.