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T-Rex: “Enquanto a minha missão não estiver concluída, continuarei sempre com fome”

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T-Rex: “Enquanto a minha missão não estiver concluída, continuarei sempre com fome”
T-Rex: “Enquanto a minha missão não estiver concluída, continuarei sempre com fome” - ©Armando Saldanha (Aldrabiscas)

Em 2019, a série do canal AMC Hip Hop: The Songs that Shook America queria visar a importância do género musical na esfera de influência da classe média-baixa americana: tendo como local de nascimento os bairros de Bronx, uma camada de jovens imigrantes começara a pegar em microfones com o propósito de não utilizar o Hip Hop somente como um escape, mas primordialmente como uma forma de autodeterminação e união. A série, na sua premissa, não pretendia minudenciar o seu esqueleto, nem explorar nostalgicamente os arquivos das ruas nova-iorquinas – queria antes exibir como a sua relevância continua firme e é catapultada, agora mais do que nunca, a um panorama universal.

Há três anos, o Hip Hop foi considerado o estilo mais influente de todos os tempos, ultrapassando a homogeneidade branca e privilegiada do rock clássico. Hoje, chega aos quatro cantos do mundo, com diversas ramificações, estatutos, dinâmicas e mutações culturais. Por cá, Boss AC, Zona Dread, Líderes da Nova Mensagem deram os primeiros passos num caminho que ainda hoje é percorrido e que constantemente dá à luz artistas que poetizam na língua portuguesa.

T-Rex faz parte de uma geração mais recente e de um universo mais digital. Para ele, o Hip Hop é mais do que uma expressão cultural: é já uma forma de identidade. Diretamente de Monte Abrão, Sintra, integra a família Máfia73, mas foi em 2016 que se fez ouvir pela primeira vez como um artista a solo. O pequeno projeto Rexpect angariou um nicho significativo de ouvintes que lhe deu alento para trabalhos vindouros: Chá de Camomila, dois anos depois; Gota D’Espaço, o ano passado.

Anotícia falou com o rapper em vésperas da sua apresentação no festival Super Bock em Stock deste ano: uma conversa que abordou o funcionamento do processo criativo do rapper, a importância de trabalhar em amigos e o que mais ouve nos headphones.

A questão da pandemia foi, para muitos, um momento decisivo – fechados em casa, com mudanças de rotinas, horários e hábitos. Para ti, no entanto, foi um tempo que deu frutos: um novo disco, novos singles e grande visuais. Como surgiu este processo criativo para ti?

Para mim foi mais uma “segunda-feira”, acho que posso dizer assim. Tirando a parte negativa que inclui o facto de não termos tido a oportunidade de partilhar as energias pessoalmente, pareceram dias normais, visto que o nosso forte sempre foi esse: de estar fechado no quarto, no cúbico da cota Fifa a criar e a tentar criar novas ideias. A rotina não mudou.

A verdade é que pouco depois de Gota D’Espaço, editado o ano passado, surgiste este ano com novos trabalhos: “Volta”, “É Assim, “Guud”, entre as principais. Já estás a pensar num novo disco?

Sim, com certeza; aliás, não estou a pensar num novo disco, já tenho mesmo o próximo em andamento. Já tenho vindo a dar um spoiler do “Cor D’Água” desde o ano passado, inclusive o “Volta”, que é o primeiro single do álbum que decidi dar ao público.

A família Mafia73 é um elemento que ainda hoje faz parte do teu presente enquanto artista. O que te fez seguir um caminho a solo?

A gente funciona como uma família normal tal como aquela que a que temos em casa, o que nos une é aquele laço de sangue, mas cada um tem a sua vida e a sua maneira de se expressar e viver – apesar de termos alguns traços de personalidade em comum. Com a Máfia73 não é diferente: cada membro tem a sua maneira de sentir a arte. Todos precisam do seu espaço individual, de relatar a sua própria história, é o que me faz a mim e ao resto dos membros investir também num caminho “a solo”.

Onde reside a principal diferença entre o Daniel Benjamin dos Mafia 73 e o Daniel Benjamin que veste a pele de T-Rex?

[risos] não há diferenças do Daniel Rex e do Benjamin Mafioso. Tudo farinha do mesmo saco. Pelo menos na vida pessoal. Mas se falar sonicamente, acho que o T-Rex é bem mais introspetivo numa faixa a solo e muito mais festivo numa faixa com o grupo.

Tendo em conta que tiveste uma mão pesada na produção do último single dos Mafia 73, “Nuvem”, também lançado este ano, vês-te a continuar como rapper no futuro ou a passar para o lado da produção?

Boa pergunta! Depende muito de que futuro falas, mas eu não gosto muito de fazer essas previsões, visto que me estou sempre a descobrir todos os dias, não sei se posso acabar como treinador do Sporting. Atenção! Sem querer tirar lugar ao cota Amorim, que tem feito um bom trabalho [risos].

A produção brilha em Gota D’Espaço. As batidas não são tão abrasivas como em trabalhos anteriores: elas têm mais tempo para respirar aqui. O objetivo foi trazer algo de diferente ao teu trabalho?

Sim, com certeza. Quis dar um novo flavour meu sem perder a essência dos projetos passados. Tentei apresentar algo mais maduro a nível de criação e que não fosse apenas uma salada russa de sentimentos e melodias.

De onde surgiu tal inspiração?

Surgiu do que vivo ao longo dos anos. Estou nos meus 20 e então é uma idade de começar a fazer decisões firmes, mas de muitas perguntas também. Ah! E o facto de não poder ir a lado nenhum também me inspirou mais ainda: fez-me ficar ainda mais introspetivo e lembrar muita coisa, ir “espairecer” leva-nos longe.

Em “Duvidava” cantas: Bastou uma beca dessa luz que é ‘pa aparecer enemies/Criaram enemies, a luz que disseram que não é pra mim, foda-se. Sentes que ainda tens de te destacar no mercado do rap nacional?

Claro. Não se deixem enganar pelo corpo fininho, eu sou um “fobado” natural. Acho que enquanto a minha missão não estiver concluída continuarei sempre com fome. Isso faz-me pensar que tenho ainda que me destacar muito mais, ainda tenho que levar a nossa arte para outro nível.

Reparei que normalmente há grandes visuais associados à tua música. O quão importantes são os vídeos para transmitires uma mensagem? 

Acho que os vídeos são ou devem ser a imagem que nos vem à mente quando ouvimos uma música. E visto que a gente nunca teve tantas ferramentas para o fazer como agora, estamos a explorar isso e a tentar dar às pessoas o que imaginamos quando ouvimos as nossas músicas.

O que andas a ouvir mais neste momento?

Esta semana estou numa de So Far Gone do Drake, Never Stop do Future e Damn do Kendrick.

aNOTÍCIA.pt