Sérgio Valente é um fotógrafo da resistência e da revolução. Resistiu ao regime e fotografou, para memória futura, manifestações contra a ditadura. No dia em que o país reconquistou a liberdade, saiu de casa sem a sua mítica Rolleicord e levou consigo apenas uma pequena câmara de amador que quase se esqueceu de usar.
As suas verdadeiras fotografias do 25 de Abril são, por isso, as dos dias seguintes. Fotografias de espanto e da liberdade experimentada nas ruas que agora serão publicamente exibidas na exposição que se manterá patente por duas semanas na Câmara do Porto. A exposição será inaugurada pelo presidente Rui Moreira.
“Percorrendo os negativos que Sérgio Valente conservou, somos surpreendidos por pessoas, expressões, figuras e factos que entraram na saga da resistência e nas lendas do chamado processo revolucionário em curso. O espólio de Sérgio Valente deve, por isso, ser visto como uma sequência em que as fotos do pré-25 de Abril já fazem parte da revolução”, escreve Carlos Magno, que desafiou o presidente da Câmara do Porto a apresentar estas imagens durante as comemorações dos 45 anos da revolução.
Numa das fotografias que estarão expostas poderemos ver Vital Moreira e Pacheco Pereira ainda muito jovens. Medina Carreira, com a revista Seara Nova debaixo do braço no Congresso da Oposição em Aveiro, mostra já o estilo que o país lhe reconheceu mais tarde na televisão. Noutra, estão Eugénio de Andrade, José Régio, Júlio Resende, Vergílio Ferreira, Cruz Santos e Armando Alves. Há fotografias com Álvaro Cunhal, António Macedo, Ângelo Veloso e Cal Brandão. Virgínia Moura está em quase todas. Uma fotografia especialmente importante, tirada em frente ao edifício da Câmara, mostra o inconfundível Miguel Veiga a falar aos microfones da Emissora Nacional, da Rádio Renascença e dos Emissores do Norte Reunidos.
Para o curador, Carlos Magno, “entre a Praça da Liberdade e a Câmara Municipal do Porto, com a estátua do Garrett na praça General Humberto Delgado, fica o palco de uma cidade sem medo, cujas metamorfoses o Sérgio Valente e outros fotógrafos foram registando”.
E acrescenta: “O 25 de Abril foi o ponto de encontro dos nossos desencontros e a Avenida dos Aliados continua a ser o espaço que faz a ligação do Porto consigo próprio. Todos nos podemos reconhecer nas fotos das multidões das festas ou das manifestações políticas e desportivas. Nos 50 anos do 25 de Abril, a Câmara do Porto deveria organizar uma exposição colectiva dos fotógrafos que por aqui andaram. Fica o desafio”.
Esta exposição, produzida pela Câmara do Porto, complementa as comemorações oficiais, organizadas pela Comissão Promotora das Comemorações Populares do 25 de Abril no Porto, e que contam também com o apoio do Município.
Concertos, fogo-de-artifício, jogos tradicionais, uma homenagem aos resistentes antifascistas e o tradicional Desfile pela Liberdade integram o programa deste ano das comemorações do 25 de Abril, no Porto. A celebração começa na véspera do feriado, com dois concertos na Avenida dos Aliados.
Fonte: CMP