Com uma equipa de mais de 30 pessoas, de distintas áreas de formação e de diferentes nacionalidades, a responsável pelo projeto e arqueóloga Sara Almeida e Silva conta que “ este ano o objetivo foi descobrir e focar o trabalho na zona da muralha de forma a conhecer melhor a face externa da estrutura e perceber se restavam vestígios de ocupação na plataforma, visto que em 2018 tínhamos encontrado alguns restos de estruturas de difícil interpretação.”
O balanço é positivo como explica Sara Almeida e Silva. “Acabamos por alcançar parcialmente os objetivos, porque conseguimos definir com maior certeza a face externa da muralha – uma estrutura em xisto, construída numa zona de declive acentuado e bastante frágil. E confirmamos ainda que junto à muralha houve uma área de combustão, como nos havia sugerido os trabalhos de 2018.” Já na zona da plataforma surgiram alguns obstáculos. “Não conseguimos concluir os trabalhos de escavação até à rocha natural. Esta área encontrava-se bastante perturbada pelo plantio e, apesar de termos recolhido imenso material, não encontramos até ao final da campanha qualquer estrutura preservada”, explica a arqueóloga.
Entre vitórias e dificuldades, a equipa é unânime relativamente às descobertas neste local. “Salreu surpreende-nos sempre no que toca aos materiais. Recolhemos um grande número de cerâmicas e sabemos que alguns dos motivos decorativos são inéditos, pois nunca os tínhamos registado em Salreu. Encontramos novamente um grande conjunto de contas de colar em pasta de vidro, alguns pesos em xisto e objetos em ferro.” A grande novidade deste processo de descoberta da nossa história e de compreensão da existência humana foi “uma placa de xisto gravada que, nos próximos meses, que será tratada e estudada”.
A missão deste grupo de arqueólogos, voluntários ou simples curiosos não se resume à investigação e à recolha de novos dados para o conhecimento científico. É também tornar o conhecimento acessível à comunidade, permitir que todos entendam a sua História e ainda dar a conhecer estórias daqueles que habitaram em Salreu durante a Idade do Ferro. “Ao longo das três semanas recebemos visitas no local. Foi muito interessente receber grupos de centros de estudo e crianças acompanhadas pelos avós ou outros familiares, com vontade de saber mais. Infelizmente, durante o resto do ano não é possível ver o que restou daquela aldeia de há mais de dois mil anos, pois temos que proteger as estruturas. Mas durante estas semanas demos a possibilidade a estes “exploradores” de viajar e de tocar em pedaços daquela que é a sua história.”
Diamantino Sabina, Presidente da Câmara Municipal de Estarreja enaltece a iniciativa que tem contribuído para a preservação do património e da memória local. “Trazer para a Estarreja um grupo heterogéneo com elementos de diversas nacionalidades e com diferentes competências, que escavam e procuram sinais de um passado com mais de 2 mil anos, é fundamental para nos ensinar mais sobre as civilizações antigas que outrora habitaram em Salreu.”
Foi através das redes sociais que o arqueólogo espanhol Borja Rey que teve conhecimento desta campanha e diz que “aqui encontrei uma equipa fantástica e um projeto único”. Do país irmão chegou o estudante de arqueologia Marco Denzer. Com apenas 20 anos atravessou o Atlântico para ter uma experiência ímpar no terreno. Narural de Timor e estudante de História e Arqueologia na Universidade de Évora, Joanita Soares realça que “adorei esta experiência. Durante estes dias tive a oportunidade de aplicar na prática todos os conhecimentos que adquiri na faculdade.”
Fonte: CME