O Júri deliberou atribuir o Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural, em quinta edição, a Carlos do Carmo, por ser uma “individualidade exemplar numa área que Vasco Graça Moura muito prezava e para a qual contribuiu com numerosos poemas: o Fado”.
Da ata do Júri, presidido por Guilherme d`Oliveira Martins, ressalta que Carlos do Carmo, “proveniente de uma família ligada ao Fado, desde cedo se revelou uma das suas principais vozes. Os prémios nacionais e internacionais que obteve pela qualidade das suas edições discográficas, onde surge como um dos maiores intérpretes de um Fado que ele soube renovar, dão conta de uma das mais exemplares carreiras do panorama artístico português. Desde cedo que a sua voz soube quebrar fronteiras, atravessar gerações, tornando o Fado uma manifestação artística de expressão universal. Essa expressão universal foi determinante para a Candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, de que Carlos do Carmo foi um dos embaixadores”.
O júri do Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural reconheceu ainda “o papel fundamental de Carlos do Carmo na divulgação dos maiores poetas portugueses, de que Vasco Graça Moura é um exemplo. Esses poetas foram cantados nas mais conhecidas salas de espetáculo do estrangeiro. Nelas, o Fado foi levado a públicos diversificados, que aplaudiram o Fadista, mas também o homem que, nascido na cidade de Lisboa, soube tornar-se um cidadão do Mundo”.
Carlos Alberto do Carmo Almeida é um dos intérpretes de Fado mais reconhecidos em todo o mundo. Filho único da fadista Lucília do Carmo e do livreiro e empresário Alfredo Almeida, nasceu em Lisboa, a 21 de Dezembro de 1939. Os seus pais eram proprietários do conhecido restaurante “O Faia”. A morte do pai, em 1962, levou Carlos do Carmo a assumir a gerência d’O Faia, que, com o passar dos anos, se tornara numa concorrida casa de Fadosda capital. N’ O Faia começou a atuar para os amigos e clientes da casa, até que em 1964assumiu definitivamente a carreira artística.
Carlos do Carmo estabeleceu, bem cedo, uma relação íntima com o fado. Aventurou-se por novos registos do fado, escolhendo criteriosamente o seu repertório, no qual sobressaem letras de nomes consagrados como, por exemplo, José Carlos Ary dos Santos. A sua vasta discografia inclui clássicos como, por exemplo, “Por Morrer uma Andorinha”, “Bairro Alto”, “Gaivota”, “Canoas do Tejo”, “Os Putos”, “Lisboa Menina e Moça”, “Estrela da Tarde”, “Pontas soltas”, “O homem das castanhas” ou “Um homem na cidade”. Com o tema “Flor de Verde Pinho” (baseado no poema de Manuel Alegre), representou Portugal no XXI Festival Eurovisão da Canção, em 1976.
Foi, também, um Embaixador do Fado em vários países, passando por grandes e prestigiadas salas de espetáculo, como o Olympia de Paris, ou as Óperas de Frankfurt e de Wiesbaden, além do Canecão do Rio de Janeiro ou o Savoy de Helsínquia. A nível nacional são de salientar os numerosos concertos no Salão Preto e Prata do Casino Estoril, bem como outras atuações na Fundação Gulbenkian, Mosteiro dos Jerónimos, ou no Centro Cultural de Belém.
Um dos momentos incontornáveis da sua carreira surgiu, em 2014, quando recebeu um Grammy Latinode carreira por excelência musical. Foi premiado numa das categorias mais consideradas, o “Lifetime Achievement”,entregue pelo conjunto da obra produzida ao longo da carreira e não devido ao êxito obtido com determinada canção ou álbum.Nesse mesmo ano, foi distinguido com o Prémio Personalidade do Ano – Martha de la Cal, da Associação Imprensa Estrangeira em Portugal.
No ano seguinte, em 2015, recebeu a “Grande Médaille de Vermeil”da cidade de Paris, “a mais alta distinção” da capital francesa, e, um ano depois, foi-lhe atribuído o título de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, da Presidência da República.
Ao longo da carreira colecionou outros prestigiantes prémios: É Cidadão honorário da cidade do Rio de Janeiro, membro da Honra do Claustro Ibero-Americano das Artes, passando por outras distinções, como o diploma conferido pelo Senado de Rhode Island, nos Estados Unidos, pelo seu contributo para a divulgação da música portuguesa, o Globo de Ouro de Mérito e da Excelência, o Prémio da consagração de carreira da Sociedade Portuguesa de Autores, até ao reconhecimento Nacional com a Ordem do Infante D. Henrique.
Recorde-se que, no passado dia 9 de Novembro, Carlos do Carmo encerrou a sua carreira artística, dizendo adeus aos palcos com um último concerto realizado no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. O fadista recebeu, em palco, a chave da cidade de Lisboa, entregue pelo presidente da câmara, Fernando Medina, uma honra dada habitualmente aos chefes de Estado que visitam Portugal.
Assistiram, à sua última atuação, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Secretário Geral da ONU, António Guterres, juntamente com o Primeiro-Ministro, António Costa, e a Ministra da Cultura, Graça Fonseca.
Instituído pela Estoril Sol, o Prémio, com periodicidade anual, foi criado em homenagem à memória de Vasco Graça Moura. Recorde-se que nas edições anteriores foram distinguidos, Eduardo Lourenço, José Carlos Vasconcelos, Vitor Aguiar e Silva e Maria do Céu Guerra.
O Júri que atribuiu o Prémio, presidido por Guilherme D`Oliveira Martins, foi integrado porMaria Alzira Seixo, José Manuel Mendes, Manuel Frias Martins, Maria Carlos Gil Loureiro, Liberto Cruz, José Carlos de Vasconcelos. e, ainda, Dinis de Abreu, pela Estoril Sol.
É de referir, ainda, que nos termos do Regulamento, o Prémio Vasco Graça Moura “visa distinguir um escritor, ensaísta, poeta, jornalista, tradutor ou produtor cultural que ao longo da carreira – ou através de uma intervenção inovadora e de excecional importância -, haja contribuído para dignificar e projetar no espaço público o sector a que pertença”.
A cerimónia da entrega do Prémio será anunciada oportunamente.