O concurso 7 maravilhas da Cultura Popular pretende elevar o património cultural material e imaterial de Portugal elevando a cultura popular a um patamar de causa pública.
O desafio é evidenciar a vivência e reconhecimento desse património e eleger o que de melhor Portugal tem, enfatizando as tradições, associadas a uma determinada região do país.
O Entroncamento é um município recente, cuja pouca história brotou do surgimento dos caminhos de ferro, no entanto também soube criar a sua tradição singular, através das histórias de fenómenos, relatos de casos insólitos, ou bizarros ou gigantes ocorridos na localidade.
Estas histórias foram publicadas na imprensa diária nacional, nomeadamente nos periódicos Diário Popular, Diário de Notícias, Diário de Lisboa e O Século, e também num Diário de Notícias que se publicava na América para os emigrantes portugueses, nos anos 1950 e 1960, da autoria de Eduardo O. P. Brito, e uma delas até saiu no jornal France Soir. E marcaram uma época no país.
Nos anos oitenta, novos relatos houve de bizarrias da natureza, do foro botânico e relativos a animais, publicados pelo jornalista Antero Fernandes no Correio da Manhã. Os fenómenos eram sobretudo um estado de alma que procurava a diferença, o exótico e a diversidade para sair à norma desses tempos.
Um dia, um comerciante local, contemporâneo dessas notícias, teve a ideia de passar as histórias mais conhecidas para peças que vendia, as mais populares vinham em coleções de copos, e isso aumentou ainda mais a divulgação dos fenómenos, sobretudo entre o público que não lia jornais, mas admirava estes exotismos naturais, e por vezes também produzidos com alguma imaginação.
O Entroncamento ganhou assim uma dimensão mítica e popular de terra dos prodígios, cristalizada nas expressões “terra dos fenómenos” e, face a algo que parecia mais invulgar, “isso parece mesmo um fenómeno do Entroncamento”. E desde então estas expressões ficaram na língua portuguesa, a primeira para designar o Entroncamento, e a segunda como metáfora logo que ocorre algo de insólito ou de extravagante.
Um cronista, condensou numa crónica, publicada em 1959, uma listagem bastante extensa de todos os fenómenos publicados até então no Diário Popular, ao qual chamou “relato de maravilhas”, que dão bem conta da atmosfera vivida nessa época e que até hoje perpétua a memoria coletiva da população do Entroncamento, alguns exemplos disso: – Chuva amarela – Um círculo violáceo no céu – Árvores com cinco frutos diferentes e cravos verdes – Uma cabra deu à luz quatro crias – O Toureiro que morde no Touro – O cão que fala – O carneiro com quatro cornos – Batatas por baixo. Tomates por cima.
Todos os fenómenos, publicados nos jornais de época, ouvidos nos espaços de convívio e no comércio local, ficaram célebres nas séries de copos que, ao longo dos anos, têm sido vendidos numa na loja local e que, hoje numa abordagem moderna, sem perder o cariz de origem numa das mais antigas montras do comércio entroncamentense, vão muito para além dos copos. Atualmente, já existe uma vasta gama de produtos utilitários, de coleção de fabrico exclusivo da Casa Carloto, no Entroncamento, para todos os gostos, usos e necessidades, com a marca genuína da “Terra dos Fenómenos”.