“TV Fest – de casa dos artistas para a sua televisão”, era o mote do festival que iria arrancar esta quinta-feira, 9 de abril, às 22h00, e cujos concertos seriam transmitidos na RTP Play e no canal 444 (disponível em todos os operadores de televisão por cabo).
Estavam previstos 120 concertos, cujas gravações já se iniciaram há uma semana, com conteúdos inéditos filmados nas casas dos próprios artistas. Para hoje, estavam previstas as atuações de Fernando Tordo, Marisa Liz, Rita Guerra e Ricardo Ribeiro, artistas escolhidos pelo apresentador de televisão Júlio Isidro. No final do concerto estes quatro músicos convidariam outros quatro, e daí em diante, durante pelo menos 30 dias.
De acordo com a ministra, seriam abrangidos “160 músicos”, “de todos os estilos musicais”, a quem era pedido que “envolvessem sempre equipas técnicas”, o que significaria o envolvimento de “cerca de 700 técnicos”, ao longo dos vários programas.
Graça Fonseca explicou que estavam já gravados quatro programas e que “suspender o projeto para repensar não significa não retribuir aos 12 músicos que já trabalharam”.
Depois de anunciada, a iniciativa foi criticada por vários músicos, sendo lançada uma petição online – em menos de 24 horas, mais de 16 mil pessoas subscreveram a petição. “A realização do TV Fest, no presente estado de emergência, constitui uma ameaça ao ecossistema cultural português que elimina curadores, diretores artísticos, músicos, técnicos e os demais, operando através de um jogo em corrente exclusivo, e de círculo fechado, aos seus participantes artísticos, que desclassifica a participação, representatividade e diversidade de um sector, constituindo uma medida antidemocrática e não inclusiva”, frisa a nota que acompanha a petição “Pelo cancelamento imediato do festival TV Fest”.
A petição ‘online’ que pedia o cancelamento imediato do festival TV Fest, foi iniciada maioritariamente por “pessoas ligadas ao setor Cultural, de vários pontos do país e sem ligações partidárias”, que partilhavam entre si a “perplexidade” perante a iniciativa do Governo, contou à Lusa um dos elementos desse grupo, o programador e produtor cultural Gui Garrido.
Depois do anúncio, nas redes sociais “várias pessoas [entre músicos, atores e outras figuras ligadas ao setor Cultural] mostraram a sua indignação”, e o grupo de amigos começou a tentar criar “um documento que servisse de porta-voz, para quem quisesse assinar”.
A petição pública “Pelo cancelamento imediato do festival TV Fest” foi colocada ‘online’ pelas 18:00 de quarta-feira e, menos de 24 horas depois, pelas 16:00 de hoje, já reunia mais de 18.600 mil assinaturas, tornando-se assim “num coro” a uma só voz, que não só pede o cancelamento do TV Fest, mas serve para todas as “atitudes e medidas não inclusivas”. “O caminho a seguir tem de ser o mais justo e abrangente possível, dentro de todo o país e dentro da visibilidade e invisibilidade dos profissionais”, referiu Gui Garrido, salientando também que “o setor das Artes e de Cultura é mais do que a Música” acrescentando que a indignação “nunca foi contra os artistas” envolvidos, “nem contra quem gravita à volta deles”.
Gui Garrido, afirma ainda “Temos de ser solidários e este momento exige um esforço ainda maior para que haja igualdade num mundo tão profundo de desigualdades. Não foi tentada a melhor maneira com esta iniciativa”, acrescentando que para os signatários da petição a realização do TV Fest, no presente estado de emergência, é “uma medida antidemocrática e não inclusiva”.
De acordo com os signatários da petição “O Ministério da Cultura não pode, em qualquer instância, criar um festival de música portuguesa, para apoiar músicos e técnicos. Não cabe ao estado criar eventos de cultura. Para isso, contamos com os agentes culturais, promotores, curadores e diretores artísticos ativos em todo o país, que atualmente viram toda a sua atividade cancelada, muitos dos quais não encontram qualquer cabimento em nenhuma linha de apoio a artistas, trabalhadores independentes e entidades”, entendendo que o que esperam da tutela é que “crie condições estratégicas e financeiras para que os projetos aconteçam e sejam promovidos e apoiados, em diálogo concertado com os mais variados agentes culturais, e tendo em conta as suas especificidades artísticas e técnicas, bem como pela sua geografia de ação no país”.
Na petição, os signatários dirigem-se ao Presidente da Assembleia da República, mas para que a mesma pudesse chegar ao Parlamento seria necessário que as assinaturas estivessem acompanhadas do número do cartão do cidadão ou bilhete de identidade dos signatários, algo de que Gui Garrido e os amigos só tomaram conhecimento já depois de terem colocado o texto online. “O anúncio foi feito na terça-feira à noite e o programa começa hoje. Para a petição surtir efeito tinha que ser imediata”, explicou Gui Garrido, referindo que a mesma acabou por tornar-se num “ato simbólico de criação de um coro” de indignação.