A Gulbenkian passa a ser a maior colecionadora privada da obra de Paula Rego, ao adquirir duas pinturas para a coleção do CAM.
A icónica pintura O Anjo reveste-se de uma enorme importância no contexto da produção artística de Paula Rego, sintetizando todo o seu programa artístico. A própria pintora confessou tratar-se do trabalho que gostaria de levar para a sua última viagem. Não sendo explicitamente um autorretrato, esta obra é, nas palavras da curadora Helena de Freitas, “uma imagem forte e irradiante que se identifica com o sentido interventivo do trabalho da artista: entre a espada e a esponja, a proteção e a vingança, o castigo e o perdão”.
Além de O Anjo, obra datada de 1998, a Fundação Gulbenkian adquiriu também, para a Coleção do CAM, uma outra importante obra da artista, O Banho Turco, de 1960, em cujo verso figura um retrato de nu de Paula Rego, realizado por Victor Willing, seu marido e onde a artista, logo no início da sua carreira e numa notável antecipação, faz uma ligação subtil, muito pessoal, mas assertiva, a um dos temas que hoje agita o mundo das artes, em Portugal e no mundo, como o feminismo e a representação da mulher.
Estas obras complementam de forma muito singular o acervo de Paula Rego na coleção do CAM, pelo potencial expositivo e mediático que comportam. Com esta incorporação, a Fundação Calouste Gulbenkian consolida a sua posição internacional como a instituição privada com o maior e mais significativo acervo da artista, constituído por 35 obras, entre pintura, desenho e gravura, reforçando a ligação histórica e os profundos laços profissionais e afetivos que ligam a artista à Instituição desde que foi bolseira Gulbenkian nos anos 1960.
“É uma grande felicidade para mim saber que dois dos meus quadros mais importantes vão viver na Gulbenkian“, afirmou a artista depois de confirmada a aquisição das obras. “A Gulbenkian apoiou-me quando eu mais necessitava de apoio. Eu sei que vão tomar conta do meu anjo e espero que lhes traga a sorte e o conforto que merecem“.
Esta aquisição dá-se num momento particular da vida artística de Paula Rego e numa etapa decisiva da sua consagração internacional, após ter exposto com grande êxito mediático em Paris, (Orangerie, 2018-2019) e no decurso da sua mais importante digressão, com a recente exposição na Tate Britain (2021), cuja itinerância prossegue no Kunstmuseum Den Haag e no Museo Picasso Málaga, instituições museológicas de referência.