Numa Iniciativa integrada nas comemorações do Dia Internacional dos Museus, o Museu Etnográfico da Madeira foi, ontem (18), palco do lançamento na Região do livro “Casas (pós-) rurais entre 1900 e 2015. Expressões arquitetónicas e trajetórias identitárias”, obra da autoria de Ana Saraiva e editada pela Editora Colibri.
“Tentar pensar com os presentes sobre a Casa enquanto lugar biográfico de cada um de nós, que liga, entre outros territórios, a Alta Estremadura, o Funchal e a região de Paris num mundo cada vez mais global e transnacional” foi o desafio lançado pela autora na cerimónia de lançamento.
Num relato que se estende por um século (1900-2015), são descritos três tipos habitacionais da arquitetura popular em Portugal: a “casa do trabalhador rural” (1900‑1960), ligada à agropecuária; a “casa do emigrante” (1970-2015), ligada à emigração e a mudanças profundas nos campos; e a “casa emblematizada” (1990-2015), ligada à reificação da tradição.
A obra apresenta uma teia de temas que se intersetam constantemente e que refletem a relação com as casas em aspetos como os materiais e técnicas de construção, o espaço construído, a genealogia familiar, a vizinhança, a economia, a política, a hibridização o consumo, a identidade e o património.
Narrativas e biografias em torno da casa incidem nos campos portugueses, com estudos de caso na Alta Estremadura e em Ourém, e estendem-se à periferia de Paris para mostrar os impactos da emigração em Portugal e em França. Estas leituras são feitas a partir de um olhar contemporâneo atento à globalização e ao transnacionalismo e que reflete continuidades e descontinuidades na arquitetura popular e nas trajetórias identitárias dos portugueses no último século.
Ana Saraiva é antropóloga, mestre em museologia e património e doutorada em antropologia (especialidade de políticas e imagens da cultura e museologia) pela Universidade Nova de Lisboa. Tem trabalhos de investigação no país (sobre representações identitárias, património e museus), com publicações, comunicações científicas e participações em projetos de desenvolvimento local. Chefia a divisão de ação cultural no Município de Ourém, sendo que programou e dirige o Museu Municipal de Ourém (museu da Rede Portuguesa de Museus).