Cascata das Ninfas: o paraíso desceu à terra, na Serra da Estrela
Ao longo da nossa história, sempre tentámos definir o que consistia o paraíso: a palavra para descrever algo que é o ideal, detentor de beleza interminável, de algo que é extraordinário e incopiável. Será possível desvendar, na Serra da Estrela, tal divindade da natureza?
Um vale enfeitiçado pela beleza.
Estamos sobre a ponte que permite a melhor perspetiva sobre praia fluvial de Loriga. O silêncio, digamos, é a regra, quando aqui paramos e nos mantemos a observar este pedaço do céu terreno, uma das maravilhas da natureza no nosso país e sem o fervelhar de gente que aqui recebe as energias vindas destas águas puras que escorrem por um dos vales glaciários da Serra da Estrela.
Foi então que lancei o repto aos meus convidados: – vamos ver do paraíso? Os olhares e expressões faciais foram um ‘sim’ mudo, mas que neste contexto vale por mais de um milhão de palavras. Um tour turístico não se pode resumir meramente ao asfalto. Há que criar a expetativa nos nossos convidados, criar um ambiente de descoberta e de manter sempre o interesse no máximo. É isto o verdadeiro pilar do turismo. Fazer com que estes momentos fiquem gravados na memória e sejam relembrados vezes sem conta.
À descoberta do paraíso
Lentamente fomos subindo o vale, seguindo um trilho não marcado, mas visível. Num zénite, estamos envolvidos na montanha, no reino onde ela é a rainha e define as suas regras. Quando respeitada, ela mostra-nos todo o seu esplendor e, neste caso, ela revela-o sem pudor, algo que já é apanágio nesta montanha.
O som da água que se aproxima aguça-nos o interesse, deixa-nos nervosos e força um nó que nos aperta o estômago. Este presente que nos faz tremer de emoção, não está debaixo da árvore de Natal, mas sim encaixado num vale profundo, intocável e ladeado por maciços graníticos moldados há milhões de anos pela água das chuvas e do degelo.
‘Ninfas’ de Homero.
Tal como uma das versões da lenda desta montanha, em que a estrela se ergueu a um pastor, sacando-lhe o amor que tinha no coração e elevando a sua paixão por ela, a paisagem sulcada por esta cascata que brota de forma selvática por este vale, leva-nos a equacionar uma frase que fervilha a nossa mente: o paraíso desceu à terra e estamos face a face com ele. Este enquadramento faz jus ao seu nome: ‘Ninfas’.
Ninguém se pronuncia perante a Milíade da Estrela, mais uma vez, como que embriagados compulsivamente por esta deusa dos tempos de hoje. Sentamo-nos abaixo das três quedas água e somos tremendamente enfeitiçados pela sua divindade e beleza, do seu poder curativo da mente e que nos nutre de um sentimento de leveza, que só a natureza em estado puro transmite. A água gélida e de uma transparência sem-par comprova sua espiritualidade e razão de elevação a diva. Aqui, tal como Homero, somos uns comuns mortais perante ela.
O regresso (não desejado) à realidade.
É impossível estarmos sempre neste mundo de sonho preconizado pela Serra da Estrela. Regressamos ao ponto de partida comentando entre nós, e de forma irónica, se a Cascata das Ninfas não seria a reminiscência de uma espécie de ‘Grécia Antiga da Natureza’, em antagonismo com o período onde a filosofia e a interpretação e respeito pelo mundo que nos rodeia teve um peso imenso, construindo as bases para a civilização / cultura ocidental moderna.
Chegados ao ponto de partida e antes de reiniciarmos o nosso tour, com que por magia, saímos deste feitiço e regressámos à nossa singela realidade. Uma realidade a que alguns não desejavam regressar tão precocemente…
NOTA IMPORTANTE: No percurso que efetuamos rumo à Cascata das Ninfas, na Serra da Estrela, aconselha-se vivamente a visita com acompanhamento de guia
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