Num exercício inédito, da série ESCAPEX, realizado pela Marinha Portuguesa, o submarino NRP Tridente assentou no fundo da bacia da Base Naval de Lisboa, no Alfeite, de onde, (em ambiente real e controlado, e reunidas todas as condições de segurança e médicas), os oito militares treinados e clinicamente examinados abandonam um por um o interior do submarino até à superfície.
Na Base Naval de Lisboa, perto de 100 militares da esquadrilha de subsuperfície da Armada estiveram envolvidos no treino de ascensão livre “Escapex20”, entre a guarnição do submergível, os mergulhadores das lanchas salva-vidas, médicos e enfermeiros e outro pessoal de apoio.
Frente à bacia do rio Tejo, estava instalada a tenda do centro de comando das operações, a enfermaria de campanha e a importante câmara hiperbárica portátil, destinada a tratar os casos de descompressão demasiado rápida, conhecida por “doença do mergulhador”.
Este exercício enquadra-se no risco associado à operação dos submarinos, pelo que uma das antecâmaras do Tridente foi alagada, para simular a fuga através de uma escotilha, de cada um dos oito submarinistas, rumo à superfície.
Um dos efeitos colaterais da veloz subida à superfície, é a perda de consciência. Foi nessa situação que o segundo sargento Santos Carrilho, chegou à tona de água. Ainda com o fato impermeável e insuflável, cor de laranja, uma espécie de balsa humana que aguenta até 19 atmosferas de pressão hidrostática (180 metros), foi imediatamente recolhido e transportado em maca, para terra firme.
Já recomposto da subida de “três metros” até à superfície, “em dois segundos”, o segundo sargento Santos Carrilho, confidenciou que esta tinha sido uma experiência única. “Já tinha feito em Espanha (torre de escape livre de 10 metros, em Cartagena), num ambiente mais controlado. Assim, dá um bocadinho mais de pressão. O espaço é muito mais fechado, aqui a água fica ao nível dos olhos. É mais difícil, mas mais aproximado da realidade.”
Já o capitão-tenente Diogo Cavalheiro, médico, afirmou tratar-se sempre de uma situação “muito complexa” pelos problemas de “localização e comunicação com o submarino” para além do próprio “resgate, avaliação clínica e tratamento dos submarinistas”.
“Em potência, se nada for feito e não houver apoio médico adequado, pode ser mortal. Daí termos esta estrutura, porque se houver um tratamento rápido, nomeadamente uma recompressão na câmara hiperbárica no local, rápida, conseguimos evitar esse risco e evitar sequelas para o futuro dos nossos militares”, salientou o médico, explicando que as subidas inusitadas produzem “bolhas em vários órgãos do corpo humano”.
Ao longo dos tempos, vários têm sido os acidentes graves com submarinos. Em novembro de 2017, o submarino argentino San Juan afundou-se após explosões, entre Ushuaia e Mar del Plata, com 44 tripulantes. Só um ano depois foi localizado, a 907 metros de profundidade.
Há 20 anos, o submarino nuclear russo Kursk afundou-se também no Mar de Barents, após registo de explosões, com uma tripulação de 118 homens, mas à escassa profundidade de 108 metros.
“A operação com submarinos está sempre assente no risco, que é maximizado pelas características do navio: baixa assinatura acústica, visual e térmica, que o torna difícil de ser detetado e potencia colisões à cota periscópica, com contactos com navios de superfície” explicou o capitão de fragata Amaral Henriques, acrescentando que “a água é um meio hostil e tipicamente opaco”.
Para Amaral Henriques, “este exercício de salvamento de submarinos é um dos mais importantes que foi feito porque potencia um conjunto de treinos e de avaliação em diversas áreas que nunca foi feito até agora”, acrescentando que “Permite treinar toda a cadeia de apoio inerente ao salvamento de submarinos e pessoal sinistrado. Permite o treino da guarnição com os equipamentos de salvamento reais existentes a bordo, aos militares, de forma individual, fazer os procedimentos de abandono [do navio], permite que toda a estrutura de coordenação e organização de comando e controlo seja testada e avaliada, assim como toda a ação médica, que vai trabalhar para maximizar a sobrevivência do militar assim que chega cá a cima”, concluiu.
A classe Tridente, constituída pelo submarino Tridente e Arpão, foi construída em Kiel nos estaleiros da empresa alemã Howaldtswerke Deutsche Werft GmbH (HDW) e são movidos através de dois geradores AIP Siemens Sinavy (BZM-120), dois motores diesel MTU 16V396 TB-94 e um motor elétrico Siemens Permasyn, contendo um sistema de lançamento para seis mísseis Harpoon UGM 84 e 12 torpedos.
O Tridente e o Arpão, têm um comprimento total de 67,79 metros e uma altura (da quilha ao topo da torre) de 13 metros, com autonomia para 50 dias no mar. O navio pesa 2.180 toneladas, pode “mergulhar” até mais de 300 metros e consegue uma velocidade de 20 nós (37 km/h) em imersão.
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