New Hand Lab, um espaço de memórias virado para o futuro em plena cidade da Covilhã
Há espaços que por si só são o ícone de uma cidade, uma espécie de montra daquilo que é essência da cidade da Covilhã desde tempos áureos, mas adaptada a uma visão futurista, onde a história se mistura com a contemporaneidade. Neste espaço, viajamos no tempo para o passado e, ao mesmo tempo, para o futuro.
A ponte que une a cidade ao passado das fábricas…
A nossa visita inicia-se pela travessia pedestre de uma estrutura que moldou a paisagem da Covilhã: a ponte pedonal da Ribeira da Carpinteira. Uma ponte que une a cidade, mas mais que isso, une-nos a um vale que está intrinsecamente ligado à evolução da Covilhã como polo industrial laneiro. Neste vale, temos a evolução manifestada pelas fábricas devolutas, que estão atracadas nas margens da Ribeira da Carpinteira, lembrando-nos um passado fabril glorioso e que enrugou esta cidade para todo o sempre (tal tatuagem para a vida), mas que hoje adormecem num sono profundo e, provavelmente, eterno. Mas, como em tudo na vida, há sempre uma exceção à regra. Há sempre alguém que diz ‘Não’ e decide ‘agitar as águas’.
O passado e o futuro de mãos dadas…
Há uma fábrica que se destaca neste oceano de betão, de edifícios colossais com formas geométricas e janelas devidamente repetidas. A sua cor branca, os seus jardins devidamente cuidados, chama-nos a atenção. Alguém pergunta: – O que existe naquele edifício? Eu respondo: Ali é onde o passado se mistura com futuro.
Passamos pelo portão que nos indica que chegamos ao New Hand Lab. Esta fábrica já não tem as máquinas a laborar, já não existem os operários numa azáfama contínua, os tecidos já não estão estendidos e secar ao sol nas râmolas que davam cor a uma cidade cinzenta e marcada pelo fumo que era emanado pelas chaminés. Estas, nos dias de hoje, apenas estão à mercê do tempo e da contemplação. Esta fábrica reúne agora as vontades de vários autores, sobre a batuta de alguém que não a deixou abandonada, que não a condenou ao repouso eterno, mas deu-lhe uma segunda vida. Talvez a melhor segunda vida que este edifício e aquilo que ele representa podiam desejar.
Na porta de entrada, sobre o som das águas turbulentas da ribeira, que fazem tremer o chão e nos obriga a concentrar mais que nunca na nossa audição, o Sr. Francisco Afonso convida-nos para entrar, sempre com a boa disposição que lhe é reconhecida. Não é necessário muito tempo para os meus convidados perceberem a sua paixão. Cada palavra, que soletra de forma ritmada e contínua quando nos apresenta este espaço de criatividade, assim o denuncia. A fábrica António Estrela / Júlio Afonso, agora reencarnada no New Hand Lab é sem dúvida parte integrante da vida do nosso anfitrião, que na minha sincera opinião, é mais que um mentor: é um inovador. Só por isso, já merece a nossa (e a vossa) visita.
O legado que continua em forma de arte, na Covilhã, no New Hand Lab
No seu interior encontramos um espaço que mescla os alicerces do que é um típico museu, representado por várias máquinas, equipamentos, exposições de artefactos de outrora, mas que sofrem um metamorfismo quando se entrelaçam com a presença de vários autores, que encontram nestas paredes e na história que erradia delas, a fonte de inspiração, a tão pretendida criatividade, e cujas obras expostas expressam os seus sentimentos, emoções e vontades. Podemos falar com eles, conhecer o seu trabalho, perceber as suas visões e até as técnicas que empregam. Essa é a essência deste espaço, que o transforma em algo vivo e orgânico. Aqui vivemos as suas experiências, da autora têxtil, à designer, do fotógrafo, passando pelo criativo, ao estilista, ou do pintor ao sketcher, entre outros que constroiem, cada um com a sua arte, a coluna vertebral que sustenta toda uma ideia: um espaço de memórias e criatividade.
As obras têm todas o cunho pessoal de cada autor, cada um com a sua arte, a sua interpretação da mesma, com a sua impressão digital que se reflete quer nas suas obras individuais, quer elaboradas conjuntamente, onde tudo se congrega num princípio que os une: o passado da cidade ligado aos lanifícios e todo o manancial de usos e costumes em redor deles. Visão que ganha corpo, em título de exemplo, em obras “artísticas” como um Volkswagen Carocha, decorado a rigor e em que cada artista deixou a sua marca e sentimento ou numa vasta peça intitulada “Sem Fim”, cuja extensão em comprimento é a própria ampliação do que cada artista pensou e transpareceu para a realidade.
Interesse interminável…
Quase no fim da visita, já todos sentados à mesa e a deliciarmo-nos com a ‘merenda do operário’ incluída no programa, debatemos as nossas opiniões. Uma é confluente: a diferença em que assentam os objetivos deste projeto, dando aos nossos convidados uma sensação completamente nova e distinta. Estão a ver o nosso passado como povo, a nossa história, mas agora projetada no futuro, numa inovadora forma que cativa e capta a nossa atenção em todos os momentos. Uma visita que deriva facilmente e cujo interesse é sempre interminável.
Aos sairmos e após as despedidas saudosas, com os parabéns à mistura, o que eu posso garantir, e não é efémero, é a vontade dos nossos convidados de regressar. É a essência deste projeto New Hand Lab que entronca, verdadeiramente, no meu prisma do que é o turismo. É só esse o turismo que sei fazer…
NOTA IMPORTANTE: Embora o percurso que efetuamos para o New Hand Lab tenha sido na cidade da Covilhã, aconselha-se a visita com acompanhamento de guia. Há detalhes que se nos escapam e que fazem a diferença.
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