Serra da Estrela: os dois vales que hipnotizam.
No adro do hotel, os nossos convidados para esta caminhada queriam algo de intangível, de diferente, de ver as suas expectativas mais que superadas. Eu já tinha a resposta idealizada e bastou rodar o meu braço 180º, apontando com assertividade para os vales glaciários de Estrela e Alforfa, com qual temos uma fidelidade que desafia a regras da balística. O coração deles bateu mais forte… A Estrela já tinha iniciado a sua natural hipnotização.
Subir para o infinito
Saindo de Unhais da Serra por uma canada secular e interminável, entramos e progredimos pelo vale acima. Muros de pedra imóveis e suaves ao tato, que carregam em si histórias e episódios da vida das gentes serranas, que calcorreavam estas encostas com os seus rebanhos intermináveis. O som ritmado das águas que provém do degelo fecunda-nos a inspiração, dá aquele o imput extraordinário para deitarmos as mãos a este tesouro e dando a leveza necessária ao nosso caminhar.
O halo
Circulando na cumeada entre os dois vales glaciários e com o Terroeiro como santuário natural e testemunha ao longe, alguém proferiu que esta montanha “é um museu sublime”, onde podemos interagir dualmente, quer com as obras da natureza marcadamente moldada pelos antigos glaciares e tectónica, quer com feitos forjados pelas gentes serranas que habilmente se adaptaram a este território. Aqui somos domados pela dimensão da montanha e do selvagem que ainda domina estas encostas. Olhamos pela vastidão das encostas para detetarmos de onde provém a origem do daquele beat que é tão comum para nós, como o som do mar para os costeiros: o som dos chocalhos, um dos halos desta montanha.
O que queremos como turismo
Descendo até à ribeira de Estrela, paramos para apreciar as quedas de águas, onde água descobre sempre o caminho mais fácil por depósitos de blocos rochosos, arrastados para o fundo do vale pelas torrentes provocadas pela fusão definitiva dos últimos glaciares da Serra da Estrela. Este amassar rochoso casa para vida com o poder e beleza. Tudo num só cenário exótico e intocável, no fundo aquilo que representa o que é uma montanha e como se devia proteger contra o turismo massificado e o modelo de parque de diversões. A montanha aceita-nos, somos dados de bandeja à Estrela. Ela como sempre convida-nos e como tal, temos que respeitar quem nos convida. É isso que pretendo transmitir sempre que estou com os meus convidados na montanha. É o nosso dever. Se o fazemos na nossa vida social, porque não o fazemos com a natureza?
A leveza do fim
Traçamos o rumo do regresso. Os meus convidados sentiam-se os donos do mundo, com sangue novo purificado pelas paisagens e o ar puro que circula neste mix de vales, planaltos e encostas. Não queriam regressar. É normal. Aceito e compreendo piamente essa vontade. Aqui, sentiam-se livres do mundo da urbe, da rotina que esmaga o nosso DNA humano, aquela genética que fez o Homem explorar o mundo e de não se manter restrito a um só lugar. A vida é muito curta e, mais se torna, se as paisagens aos nossos olhos também o forem. “Só foram umas horas, imaginemos nós aqui passar dias”!… Uma frase proferida na despedida que nunca esquecerei.
São estas frases que fazem as pessoas viajar até nós…
NOTA IMPORTANTE: Nestes percursos, aconselha-se vivamente a visita com acompanhamento de guia.
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