A Cova da Beira e a sua ‘neve’ em forma de flor …
Com a primavera, a neve na serra dá lugar à ‘neve’ na planície. Isso seria um busílis à nossa forma de pensar, mas a realidade demonstra exatamente o contrário. É a pura verdade. Um manto branco que não deixa ninguém indiferente: Por entre a neblina matinal, o manto emerge ao trono do reino da beleza; a meio do dia, irradia uma luz imensa chamando a ele o nosso olhar; ao pôr do sol, essa mesma capa branca muta-se para dourado, como um campo semeado de ouro.
Seguir a luz
Como um farol no mar, as cerejeiras em flor guiam-nos pela Cova da Beira. Olhamos para elas, fixados naquela luz que irradiam. O destino está traçado no GPS visual e as curvas da estrada parecem retas, tal é a obstinação de chegar ao destino. Queremos chegar na hora D do dia, o mesmo é dizer, ao por do sol em que as cerejeiras se ornamentam de ouro. Alguém proferiu como sendo o melhor antídoto para o frenesim de um dia fechado entre quatro paredes. Tão verdade!
Chegados
Cada época do ano tem a sua elegância e molda a paisagem a seu belo prazer, sem limites, sem tomar em linha de conta o que nós, humanos, pensamos. Mas a primavera realmente abusa, faz-nos espantar com as cerejeiras a tomar banhos de sol e a espalhar sedução e beleza pura. Estamos especados à porta da quinta e inquietos para que abram o portão. De repente, voilá, este abre-se, e temos guia de marcha para as cerejeiras candentes e o resultado é claro como água: abre-se de chofre o espírito, os aparelhos sensoriais são levados ao limite, a razão de estar aqui que se torna algo sagrado. São os atributos deste bestseller, um espetáculo que merece milhões de visualizações e aplausos, cujo fim nunca se deseja.
Obsessão
Sentados no meio de cerejal, qual espiões infiltrados nesta cortina de cerejeiras em flor, conseguíamos ver aquilo que de longe e do exterior não se constata. Não encontrar aqui delicadeza é uma missão mais que impossível. Observar a azáfama de seres polinizadores a fazer o seu trabalho, a perpetuação da biodiversidade e o assegurar o futuro do nosso ecossistema. Ficamos adictos a esta visão, imaginando o fruto benemérito que sairá desta Arca de Noé e sentir já no estômago o fervilhar das borboletas. É um efeito psicológico comum, não sendo de igual modo estranho ficar-se obcecado a esta paisagem, sem exceção.
Esperar pela metamorfose
Ao final do dia, o sol deixa-nos, como se fartasse de nós. Não há mais movimento, as flores adormecem e entram em hibernação, fermentam no seu íntimo aquilo que daqui saíra mais tarde: a aclamada cereja, o derradeiro teste de fogo às nossas papilas gustativas.
NOTA IMPORTANTE: Nestes percursos, aconselha-se vivamente a visita com acompanhamento de guia.
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