Cova da Beira: A quinta da saudade (a triplicar)
Há meses referia-me a esta quinta num artigo que não passou despercebido, obviamente. Como em tudo na vida, há sempre momentos de uma espécie de ‘dejà vu’. Como sempre, ciclicamente, a Cova da Beira estava aquele quadro pela qual é amplamente conhecida na época da primavera: as cores do seu mar de flores e pastagens verdejantes a perder de vista. De novo, teremos o privilégio de entrar neste palco, experienciando “Momentos numa quinta típica”. Uma experiência muito terra a terra, onde o mundo rural se mostra na sua plenitude e ao qual nós, citadinos, já consideramos algo de outros tempos distantes. Nada mais que o contrário.
Uma receção Real
A caminho da quinta, somos recebidos com uma guarda de honra de elite constituída por um bando de Abelharucos, outra forma da natureza mostrar o arco-íris em forma de ave. Umas cores incandescentes, um voo esbelto e dinâmico que dá as boas vindas aos nossos convidados. Mas o que distingue mais esta visita é o ‘tsunami’ gigantesco de simpatia dos anfitriões que nos contagia e faz entrar num mundo paralelo. Uma receção em modo principesco, fazendo-nos sentir da família, algo tão natural e inerente nas gentes beirãs.
Introdução cativante
A visita começou logo com uma singela demonstração da confeção artesanal do queijo, uma arte imemorial de um ‘saber de luxo’, que torna o queijo da Serra da Estrela um produto tão refinado e inigualável. Experimentaram, deliciaram-se, envolveram-se, mexeram. Todo um conjunto de experiências autênticas e vividas que só liam nos livros, que viam nos filmes e que aqui estava à sua mercê, tão real e palpável.
O rebanho e seu pastor
Em autênticos banhos de sol ampliados pelas encostadas da Estrela, o rebanho pastoreia sem tempo limite. O tempo aqui não segue os patamares da Fórmula 1, anda vagarosamente, ninguém corre atrás dele e o lobo, esse está extinto há muito devido à nossa incompreensão e capacidade de viver em comunidade com outras espécies. O pastor, uma figura incontornável desta montanha, partilha connosco as suas experiências, a rudeza da vida controlada pela vontade própria do rebanho, num dançar cíclico com as épocas do ano e com aquilo que a natureza dá. Não há férias, não há fins-de-semana, isso é inexistente no reportório de vida da ovelha. Final de tarde, chegada a hora da romaria para a ordenha, qual procissão, acompanhamos o rebanho que sabe o seu destino. Numa sala, num gesto mecanizado, diário e ritmado extrai-se o fino ‘néctar’, o leite genuíno e com propriedades desenvolvidas e aprimoradas durante milhares de anos, para se obter um produto de qualidade à prova de críticas. Com mãos sábias dum saber ancestral, o leite transforma-se em queijo. Este repousa e cura na queijaria tradicional, esperando o seu momento, a ‘golden hour’ de poder dar alegrias ao mundo das papilas gustativas.
Manjar à moda da serra
O sol dá sinais de cansaço e quer retira-se. É o sinal bíblico do fim de dia e um convite apelativo para o manjar antes da nossa despedida. Mesa posta, um fartar de produtos da quinta, tradicionais, feitos com amor e carinho e à nossa inteira disposição. Por mais palavras que existam, há momentos que estas não traduzem ou não dão a devida grandiosidade a estes momentos. A riqueza não se mede apenas pela componente financeira, mas sim também pela oportunidade de gozarmos estes momentos de convívio tão ligados à nossa cultura e à nossa região.
Adeus
Tal como mencionei no primeiro artigo: “já nos afastávamos da quinta, com esta a ser ofuscada com o pó do caminho de terra e a perder-se no horizonte, e sentirmos aquele aperto no peito a que chamamos ‘Saudade’. A “saudade de voltar”, mas agora posso acrescentar que essa saudade é a triplicar!!! Mesmo assim, não sei se define tudo o que aqui vivemos…
NOTA IMPORTANTE: Nestes percursos, aconselha-se vivamente a visita com acompanhamento de guia.
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