Acordámos com os primeiros raios de sol outonal, a refletirem-se nas águas calmas de um braço do Tejo, que bordeja a Herdade da Urgeira. Mais um dia que prometia ser longo, já que iriamos regressar a Lisboa. Porém, antes disso, duas das mais pitorescas aldeias da Beira Baixa – Bemposta e Medelim esperavam por nós, para nos revelarem alguns dos seus segredos.
Apesar de ser, no presente, a mais pequena freguesia do concelho de Penamacor, Bemposta foi até 1836, sede de concelho. Testemunho disso é o pelourinho que ainda podemos admirar, símbolo da jurisdição municipal, a antiga Casa da Câmara, tribunal e prisão, que ainda hoje se erguem num largo central da povoação, junto à Capela do Espírito Santo (século XVIII) e à Torre Sineira (possivelmente uma antiga Torre de Menagem medieval).
Hoje, Bemposta tem pouco mais de 50 habitantes, “80 nos dias bons, quer dizer nos dias de festa”, sublinhou o guia que nos acompanhou na visita, não tendo atualmente, sequer um minimercado com os produtos essenciais à subsistência desta pequena população, maioritariamente idosa.
Recentemente foi aberto um pequeno núcleo museológico na capela de S. Sebastião, onde estão expostas um conjunto de valiosas aras do período romano, bem como um lote de estelas funerárias de tipologia rara.
A poucos quilómetros de distância (5 m de carro) fica Medelim, conhecida como a “aldeia dos balcões”.
Medelim, no concelho de Idanha-a-Nova, guarda no seu interior segredos que são fruto de uma história antiga que remonta ao tempo dos Romanos.
É conhecida como “aldeia dos balcões”, em virtude das inúmeras casas de balcão que conserva na sua malha urbana. Terra de bons canteiros e serralheiros, a eles se deve muita da qualidade dos trabalhos em pedra e ferro que encontramos por toda a aldeia e nos arredores.
O balcão é uma escadaria exterior com pedras de granito, cada uma delas de grande dimensão, e que dá acesso ao piso superior da casa. Em alguns casos, a parte superior tem um alpendre e duas pedras na vertical a servirem de proteção.
Normalmente a escadaria tem uma pequena concavidade onde se guardavam ferramentas ou animais, O mais vulgar era servir de galinheiro. Muitos destes balcões foram restaurados e têm agora vasos de flores que embelezam as entradas das casas.
A Rua da Judiaria, em particular, evoca a memória da comunidade judaica que aqui viveu até ao século XVI. Nesta rua podemos observar várias casas, todas elas com o seu balcão e com duas portas – uma mais larga que dava acesso ao local do comércio ou oficina, e a outra que leva a uma escada permite aceder à habitação no andar de cima.
Diz-se ainda que estas casas, teriam uma ligação interior entre elas para favorecer reuniões entre os seus moradores ou ainda para uma eventual necessidade de fuga.
A Rede das Judiarias de Portugal passa por aqui, mas Medelim vai mais além. Importante lugar Templário, alberga uma Misericórdia com um valioso património religioso. Aqui coabitam os legados cristão, judaico e islâmico, inscritos na história de uma aldeia que vivenciou de forma privilegiada o encontro entre fé e culturas e o espírito ecuménico como fator de identidade nacional.
Na Bemposta e em Medelim chegava ao fim mais uma das nossas incursões por terras da Beira Baixa. Regressamos de coração cheio, com a hospitalidade dos habitantes desta região tão fértil em belezas naturais, histórias, lendas e tradições. Muitas, descobrimos nestes dias. Outras ficarão para uma próxima oportunidade, já que a vontade de regressar é muita.
Até breve!
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