A (re) descoberta da rota das Invasão Francesas, continuou pelas terras da Beira Baixa, percorrendo várias formações naturais que ajudaram na defesa de Portugal frente às Invasões Francesas.
O dia havia amanhecido solarengo, com aquele sol de outono que nos aquece o coração, mas que não chega para nos aquecer o corpo. A (re)descoberta da rota das Invasões Francesas, levou-nos ao Concelho de Oleiros, em direção ao miradouro do Zebro, situado em plena serra do Moradal, um espaço de magníficas e deslumbrantes panorâmicas, onde impera uma densa vegetação, nomeadamente urzes, tojos, rosmaninhos, estevas, giestas e medronheiro.
Do Miradouro do Zebro observa-se a divisão da crista do Moradal em três alinhamentos, um local emblemático para as gentes locais e para os amantes da escalada, que aqui encontram 15 vias de escalada com diferentes graus de dificuldade.
Neste geossítio pode-se observar os materiais que constituíam os fundos marinhos, há cerca de 500 milhões de anos, e que agora surgem a formar os cumes da Serra do Moradal. Estes materiais foram enrugados e elevados por forças compressivas derivadas da gigantesca colisão continental que originou a formação do supercontinente Pangeia.
Por aqui também podemos seguir pela «Rota dos Apalaches» um dos maiores e mais antigos trilhos do mundo. Este é um percurso integrado na Grande Rota Pangeia, que proporciona a sensação de andar 38km nas cristas de pedra da serra do Moradal.
Este local faz parte da linha defensiva Talhadas-Moradal, de grande importância para a defesa de Portugal, frente às tropas do General Junot aquando da 1ª Invasão Francesa.
Já no concelho de Proença-a-Nova, visitamos em Sobreira Formosa o Forte das Batarias, estruturas militares defensivas que se encontram no alto e no meio das encostas com boas perspetivas panorâmicas que serviram de defesa contra invasores.
Mas, ao contrário da zona de Castelo Branco, onde a passagem das tropas de Napoleão é recordada pela morte, violação, roubos e outros desmandos, a tradição oral em Sobreira Formosa evoca sobretudo as condições desumanas com que os invasores atravessaram a vasta serra das Talhadas e chegaram à vila. Muitos foram os franceses que morreram, sem combate, na travessia penosa de uma região muito agreste, onde o frio e a chuva constante, aliadas à falta de vias de comunicação e de pontes sobre os rios, veio dificultar o avanço das tropas, tornando-se um verdadeiro pesadelo.
Daqui partimos para Vila Velha de Ródão a tempo de ver o pôr-do-sol no miradouro sobranceiro às Portas de Ródão e visitar o Castelo do Rei Wamba.
O Castelo do Rei Wamba, ergue-se numa escarpa sobranceira ao rio Tejo, sobre as Portas de Ródão, num local de beleza surpreendente e grande importância estratégica. Acredita-se que a sua origem remonte ao tempo da ocupação muçulmana e esteja relacionada com a doação do território da Açafa, por D. Sancho I, à Ordem do Templo, em 1199, embora se admita uma origem anterior e a tradição oral o associe ao Rei Wamba, rei visigodo.
Enquanto construção para fins militares, deve ser considerado uma torre de vigia, embora mais complexa que o comum destas estruturas. Durante a Reconquista Cristã, teria como principais funções a vigilância da linha de fronteira do Tejo das incursões muçulmanas provenientes do sul.
A partir dos tempos modernos, o Castelo viria a ser utilizado, em particular no século XVIII e XIX, como base de artilharia, tendo em vista impedir a passagem do Tejo e a entrada no Alentejo, de acordo com uma rota de invasão através da Beira Baixa, como sucedeu a 1.ª Invasão Francesa (1807).
Diz a lenda que o rei Wamba, rei Visigodo da Hispânia, que reinou entre os anos 672 e 680, foi traído pela rainha que se apaixonou por um rei mouro, que vivia na outra margem.
Para ir buscar a rainha cristã, o rei Mouro logrou escavar um túnel que passaria por baixo do Tejo, mas os seus cálculos saíram errados e o túnel saiu na escarpa sul, acima do nível da água. Terá ainda assim o rei mouro conseguido fugir com a rainha para o seu castelo.
Descobrindo a traição, o rei Wamba disfarçou-se de mendigo e foi ao castelo mouro, conseguindo raptar a rainha, que foi depois julgada em tribunal familiar. A sentença decidida foi a de que seria atada à mó de um moinho e atirada a rebolar pela escarpa abaixo até ao Tejo.
Mesmo antes da sentença ser executada a rainha terá amaldiçoado as gentes daquela terra. Diz-se que por onde a mó passou com a rainha nunca mais cresceu mato.
O dia chegava ao fim e o corpo pedia descanso. A Herdade da Urgeira foi o repouso do guerreiro. Um jantar com os sabores da terra, num ambiente calmo e acolhedor, foi o mote para o consolidar de ideias e opiniões acerca do dia e dos belíssimos locais que tínhamos percorrido.
O dia seguinte nos levaria a outras (re)descobertas pelas terras da Beira Baixa.
Artigo relacionado com a rota das Invasões Francesas na Beira Baixa:
Na rota das Invasões Francesas : em Castelo Branco começou a (re)descoberta
Pela Beira Baixa na rota das Invasões Francesas
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