Numa noite bem ao estilo dos Xutos e Pontapés, o Soul esteve presente na voz de Orlando Santos.
Há quase 40 anos que os Xutos e pontapés continuam a fazer Portugal saltar e na sétima noita das Festas do Mar em Cascais, não foi diferente. Goste-se ou não se goste, ninguém lhes fica indiferentes e uma coisa é certa, os Xutos começaram, os Xutos continuaram e hoje em dia continuam a existir, sempre em grande estilo. Kalu na Bateria, Zé Pedro e João Cabeleira na Guitarra e Tim no baixo e voz continuam bem e recomendam-se.
Num concerto recheado de temas imortalizados (“Contentores”, “Circo de Feras”, “Homem do Leme”, “À Minha Maneira”, “Não Sou o Único”, “Casinha”) e outros mais recentes (“Enquanto a Noite Cai”, “Salve-se Quem Puder”, “Esquadrão da Morta”, “Se Me Amas”, “Ai se Ele Cai”, “Fim de Semana” etc…), os Xutos mais uma vez fizeram a festa. Com a casa cheia por uma plateia intergeracional, os Xutos e Pontapés provaram que as grandes bandas são como o Vinho do Porto.
Antes destes profissionais do Rock entrarem em palco, o mesmo foi ocupado por Orlando Santos. Este músico/intérprete “surge de há muitos anos atrás”. Como muitos músicos o seu início de carreiro foi feito em bares onde tocava tendo sido um convite feito pelos Cool Hipnoise o seu “primeiro trabalho assim mais oficial”, tendo feito vocalizações nomeadamente no álbum “Música Exótica Para Rádio e TV”. Por volta do ano 2000 teve ainda uma passagem pela música eletrónica onde juntamente com Miguel Guia participou “em algumas coisas no Shelter Avenue”. Foi nesse contexto que surge um dos seus singles do álbum My Soul que viria a ser editado anos mais tarde. Falamos de “For Real” tendo as restantes músicas sido à volta da mesma. Porém este “não foi um processo logo imediato”. Simultaneamente, Orlando Santos trabalhou “com os Orelha Negra num tema muito conhecido deles que é o “Since You’ve Been Gone””, assim como com os Buraka Som Sistema, Olávio Bilac e Kika Santos.
Apesar de Orlando Santos ser um artista marcadamente mais virado para o Soul e para o Reggae, o mesmo gosta de explorar várias sonoridades, sejam elas acústicas ou outras mais elaboradas. Uma coisa que se notou na sua atuação foi a influência de Bem Harper, seja pela slide guitar que utiliza seja pela sonoridade da sua voz. Assim, de acordo com o mesmo “o Harper é uma referência. É um músico que eu ouço há bastante tempo. Quanto ao timbre acho que é uma coisa natural; não é nada forçado”. Acrescenta ainda que ouviu “muito Harper e também já cantei algumas músicas dele e hoje canto também”, tendo um projeto paralelo de covers onde às vezes canta algumas canções do Bem Harper. Sobre a slide guitar que utiliza, a mesma foi uma oferta do músico americano aquando da sua vinda a Portugal em 2003. De uma forma descontraída Orlando Santos conta-nos esse episódio. “Ele [Ben Harper] deu um grande concerto e pouco e depois através de um amigo meu que tinha ganho um Meet and Greet eu consegui ir ao camarim. (…) e conheci o Ben Harper e disse-lhe “Epá, muita bom o concerto” (…) e depois começamos a falar um pouco das guitarras e eu disse-lhe “essas guitarras [slide guitar], isso nem há cá!”. O gajo ficou um bocado admirado e disse-me “a sério, não há cá?” e eu disse-lhe “não”. (…) “Epá, dá-me só um segundo”. Chamou uma pessoa da equipa técnica e pediu a alguém para ir buscar uma guitarra ao tour bus e eu fiquei à toa. Até fiquei comovido. Comecei ali um bocado a chorar (…) Depois o rapaz chega com a viola e demos uns grandes abraços, trocámos mais umas palavras, tirámos umas fotos e eu disse-lhe algumas mil vezes “Thank you” e o gajo “you said it man””. Foi depois deste momento que Orlando Santos iniciou a sua prática na slide guitar, sendo hoje em dia uma das suas expertises.
O Álbum que editou em 2013, “My Soul” tem tido boa recetividade por parte do público, porém Orlando Santos afiança que “já estamos a chegar ao fim deste episódio. Começa a ser altura de gravar um disco novo para mais umas aventuras. Apresentei aqui uma canção desse segundo álbum. Foi o “Lust on The Way”.
Apesar de hoje, Orlando Santos se ter apresentado perante uma plateia que esperava ansiosamente a chegada dos Xutos e Pontapés, o intérprete foi capaz de cativar aqueles que estavam presentes, tendo preconizado um concerto que primou pelo Soul intimista e por vários acordes de slide guitar, um instrumento pouco comum nos músicos deste Jardim à Beira-Mar Plantado.
