Serra da Estrela: a sedutora por natureza

Com um dia ainda de inverno, mas a fazer lembrar a tão desejada primavera não resistimos ao apelo da, por natureza, sedutora Serra da Estrela e partimos à descoberta.

sedutora Serra da Estrela
Serra da Estrela: a sedutora por natureza - ©Nuno Adriano

Serra da Estrela: a sedutora por natureza

Um dia radioso, com sintomas de primavera alimenta-nos o olhar sobre a montanha. Qual o nosso destino desta manhã? Indeterminado e inconclusivo. Dado certo e adquirido é que, independentemente do nosso destino, a satisfação será plena, algo em que a Serra da Estrela é exímia. Uma sedutora por natureza, uma presença que, só por si, é sinónimo de poder.

A primavera no inverno

Olhar à nossa volta e sentir aquele ar primaveril quase que nos olvidou que ainda estamos no inverno. A temperatura amena aquece-nos os músculos e o trilho que acena por entre os intervalos da neve derretida faz o seu chamamento. Tudo verificado e feito o check up do equipamento, atempadamente, encetámos a nossa aventura num dia incrivelmente tranquilo e sereno.

As paisagens que compensam

A paisagem já é uma habitué, mas todos os dias são dias diferentes. A Estrela tem uma personalidade multifacetada, diria mesmo, ‘caleidoscópica’ e aqui reside a sua magia, a sua sedução. A cada passo da nossa caminhada, a cada colina que transponhamos, éramos empolados por um sentimento descoberta, qual impulso de continuar a descobrir, de manter e perpetuar um contacto de 1.º grau com este território, tal como vários génios da Humanidade que, ao longo de séculos, fizeram da descoberta a razão de ser das suas vidas. Estávamos embebidos deste pensamento pois sabíamos que a compensação seria enorme.

A vida renasce

Imiscuídas nas depressões escavadas e moldadas pelos últimos glaciares, a neve blinda as pequenas lagoas, ainda adormecidas sobre a capa de gelo que as abraça. De forma ténue, os sintomas de alguma vida de flora e fauna já se manifestam, ainda tímidos, mas com o dever de missão: viver. É o renascer dialético do ciclo ininterrupto e imemorial da história da natureza. Que prazer único caminhar pelo topo das rochas, no limite do abismo!… Víamos nestas escarpas a purificação do espírito, um antibiótico anticonfinamento que nos deixa torpes física e mentalmente. Verdadeiramente, observando estes horizontes infinitos, carregamos as baterias para o dia-a-dia.

Tsunami

Caminhamos nas encostas que nos revelam muros de neve, autênticos tsunamis de água sólida, mas que permanecem imóveis e hirtos, testando a gravidade que os empolam para a base dos vales e covões. São paredes que encantam pela sua intocabilidade efémera, aguardando pela chegada da fusão que os fazem passar à história. Até isso acontecer, estendem a passadeira vermelha para que os possamos contemplar e comentar a sua imponência.

A Estrela feita poema

A nossa presença aqui tem limites. Convém nunca esquecer que a montanha tem a sua ordem e heráldica. Para memória fica esta manhã, onde habitámos durante algumas horas no âmago da Serra da Estrela. “Habitar o mundo como poeta” (Hölderlin em “In lieblicher Bläue”), é pensamento com o qual visitámos e percorremos a Serra da Estrela, admirando-a e respeitando-a tal como ela é: uma montanha que é um poema com ilimitados versos.

NOTA IMPORTANTE: Nestes percursos, aconselha-se vivamente a visita com acompanhamento de guia.

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