Serra da Estrela : O paraíso ficou aqui
Num artigo anterior sobre uma cascata no vale glaciário de Loriga referi: “ao longo da nossa história, sempre tentámos definir em que consistia o paraíso”. Disse, nesse mesmo artigo, que ele tinha descido à Terra. É a pura verdade. No entanto, nunca referi que é aqui, neste lugar, que se instalou em parte, para nosso gáudio e regozijo.
Leandres, o paraíso.
Paramos o carro no Poço do Inferno, Manteigas. Um ícone dos pontos de interesse da Serra a Estrela, mas que neste artigo, digamos, é apenas a portagem que nos permite aceder a uma via rápida de cascatas e lugares recônditos, onde a natureza ainda manda sem a intervenção humana. Na “Teoria da Viagem” do filósofo francês Michael Ofray diz que uma “A viagem começa numa biblioteca (…) ”. Foi nesse espírito de demanda que se apodera de quem gosta de me acompanhar pelas entranhas da Serra da Estrela, que iniciamos uma leitura frenética de um livro que aqui é best seller e que conta com edições infinitas: a natureza, em si mesmo, infinita.
Nas margens do paraíso.
Calcorreando as margens íngremes da ribeira de Leandres, a vida é marcada pelo ambiente ripícola, controlado pelo fluxo da água, pela humidade e temperatura controladas por um vale encaixado, um perfeito exemplo do fenómeno geológico de metamorfismo de contacto. Uma sala de aula a céu aberto, que dá (só para começar) quinze a zero a uma sala de aula tradicional.
Os bosques verdejantes que transpiram de vida após a longa letargia do Inverno entram também neste jogo, equilibrando a tática e dando ênfase à máxima que o ‘ataque é a melhor defesa’. As nossas defesas são claramente abatidas pela invasão dos verdes, com as cascatas a jogar entre as linhas de árvores centenárias. Que podem fazer face a estas paisagens naturais, a esta peça cénica, onde resistir é impossível? Os nossos olhos ficam cada vez mais curiosos, excitados e, porque não, agradecidos, neste paraíso que é a Serra da Estrela.
Cascata de Babel
Chegámos onde pretendia. Era aqui que queria partilhar a paixão deste território com os meus convidados. Chamo-lhe a cascata de Babel, uma cascata construída pela natureza que é um portal entre o mundo humano e dos Deuses. Não há nada melhor quando temos um dilúvio de emoções, quando encontramos algo para o qual o que tínhamos expectável na mente é superado e essa é daquelas propriedades em que este vale escondido e desconhecido é exímio.
Um desfibrilhador que eletriza as nossas emoções, criando uma corrente interminável de afeto, surpresa, entusiasmo, alegria e estupefação, que são sempre objetivos de um ‘jogo’ que queremos atingir quando conhecemos um local novo e que supera aquilo que ansiávamos no ponto de partida. Se até os Deuses gostam, como nós humanos, não devíamos gostar?
Nota importante: Em alguns dos locais mencionadas aconselha-se a visita com acompanhamento de guia.
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