Dona Fátima é um branco português da Manzwine e o único do mundo feito a 100% com a casta Jampal

Fruto da persistência e teimosia de André Manz, a Manzwine, produz o Dona Fátima, o único branco do mundo com casta Jampal a 100%

André Manz e a casta Jampal da Manzwine
Dona Fátima é um branco português da Manzwine e o único do mundo feito a 100% com a casta Jampal - ©Armando Saldanha (Aldrabiscas)

Dona Fátima é o único vinho branco no mundo a ser feito exclusivamente com a casta Jampal, fruto da teimosia e persistência de André Manz, um brasileiro que se apaixonou por Cheleiros e aí fundou a Manzwine. Com assinatura do enólogo Ricardo Noronha, este vinho da Região de Lisboa traduz como nenhum outro o espírito da Manzwine e coloca no mapa a pequena e histórica vila de Cheleiros.

Na passada quarta-feira, rumamos à outrora importante vila e atualmente pequena aldeia de Cheleiros, para descobrir a casta Jampal e o Dona Fátima produzido pela Manzwine.

À chegada, fomos recebidos com “Manz”, um espumante 100% Jampal, único no mundo a ser produzido apenas com esta casta autóctone. Na sua elaboração é utilizado o método clássico, o que lhe dá uma boa estrutura. É um espumante de corpo médio, seco e refrescante que se desenvolve delicadamente. A acidez está na proporção certa recomendando-se a sua utilização à mesa.

Após a visita à adega, participámos numa degustação vertical dos Dona Fátima colheitas de 2016, 2018, 2019, 2020 e 2021. As colheitas em degustação revelaram vinhos   distintos   entre   si, mas   iguais   na   sua   peculiaridade e elegância.

De todas as colheitas em degustação, permitimo-nos fazer um destaque especial a duas, o Dona Fátima 2016 e o Dona Fátima 2021.

O Dona Fátima 2016 é um vinho elegante, delicado e empolgante. O seu corpo sedoso e frescura sobressaem na boca. Um vinho frutado na proporção certa, que está numa excelente fase para dele se disfrutar.

O Dona Fátima 2021, que agora chega ao mercado, é um vinho de cor citrina limão, aromático, floral e enriquecido pela complexidade resultante do estágio em barricas. De corpo e acidez firme é fresco, persistente e envolvente. Diríamos mesmo que com a sua esperada evolução no tempo será um digno “sucessor” do Dona Fátima 2016

A história de André Manz, Cheleiros e da Manzwine

Brasileiro de origem, veio para Portugal, como guarda-redes de um Club de Futebol. Apaixonou-se, casou com uma portuguesa – Margarida, e tem dois filhos.

Em 2004, André compra uma propriedade, o Pomar do Espírito Santo, onde se instala com a família. “Foi amor à primeira vista! Estava perto de tudo, a 30 minutos de Lisboa, a 10 minutos do centro de Mafra, bem perto da Ericeira e do surf, uma das minhas paixões.” diz André.

Criou a Manzwine que simboliza o regresso de Cheleiros a uma época em que a aldeia era célebre pela qualidade das suas vinhas, plantadas em encostas e socalcos deste microclima singular, cravadas entre a proteção amena da ribeira de Cheleiros e a influência marítima.

Jampal é o nome das cerca de 200 cepas de uva branca descobertas pelos enólogos num pomar repleto de Castelão, sobre a qual os locais sabiam pouco, tendo inclusive dificuldade em dizer o nome: Jampali, João Paulo ou Jampal. Mas uma coisa sabiam! é que era, “uma uva muito boa, doce, muito rijinha, o melhor que temos em branco”.

Manz procurou saber mais. Com a ajuda de Eiras Dias, um dos maiores especialistas portugueses em ampelografia, ficou a saber que era uma casta rara, “as últimas cepas de uma casta autóctone”. Uva frágil, pouco rentável e quase extinta. Trata-se de uma variedade que uns anos produz bem, outros nem por isso. Se podada em talão, exige poda à vara, mais longa, mas por isso mesmo mais onerosa. Quase se pode assumir que o seu declínio se deveu à pouca rentabilidade. Só que como salienta, André Manz “não quero fazer muito vinho, quero fazer vinho bom”

O único vinho no mundo feito 100% com a casta Jampal, devido à enorme qualidade vínica desta casa, só poderia ser fantástico. Untuosidade e bom corpo harmonizados por uma acidez firme, num conjunto fresco, aromático, persistente e envolvente.

Desde então que sommeliers e críticos de vinho de todo o mundo têm enaltecido a elegância, o carácter, a honestidade de terroir, a qualidade do Dona Fátima 100% Jampal e a coragem da ManzWine por apostar na recuperação de um património vitivinícola português que estava à beira do desaparecimento.

Dependendo da colheita a produção pode variar entre as 5000 e as 9000 garrafas, cuidadosamente distribuídas pelos 26 países em que é comercializado, quase sempre em restaurantes e garrafeiras de topo, para um cliente que gosta de vinhos únicos e diferenciados.

A ligação a Cheleiros é assim ponto de partida e chegada. A presença da Manzwine é incontornável no centro histórico da vila, não só porque este é o local onde se situa a adega, mas também fruto da grande aposta na reabilitação do património local. A recuperação de vários edifícios, incluindo a antiga escola primária, é visível e convida a uma visita. Neste campo, destaque para o núcleo museológico onde um ancestral lagar mecânico nos transporta para uma viagem no tempo onde o vinho era rei e senhor.

E é precisamente por culpa da casta branca Jampal, e da teimosia do seu produtor André Manz, que Cheleiros, voltou a estar nas bocas dos apreciadores de vinho, com o seu Dona Fátima, a joia da coroa do projeto Manzwine.

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