Pela primeira vez avistada no Atlântico, a “enguia fantasma” está em Portugal e causa apreensão

A “enguia fantasma” é um predador noturno conhecido pela caça de emboscada de pequenos peixes e crustáceos.

enguia fantasma
Pela primeira vez avistada no Atlântico, a “enguia fantasma” está em Portugal e causa apreensão - ®DR

Durante um mergulho noturno em Porto Covo, um cientista do MARE-Coimbra observou (e filmou) uma espécie de enguia do indo-pacífico (Pseudechidna brummeri). Com mais de um metro de comprimento, esta “enguia fantasma” nunca antes avistada no Atlântico é um predador noturno conhecido pela caça de emboscada de pequenos peixes e crustáceos. Sem registos no Atlântico para além deste primeiro aparecimento em águas nacionais, os cientistas perguntam-se, agora, como chegou a esta zona e que medidas de prevenção se podem tomar para evitar a chegada de outros exemplares.

Vulgarmente conhecida como moreia de Brummer, enguia de fita branca ou enguia fantasma, a enguia do indo-pacífico é uma espécie bastante comum em locais como o Pacífico Ocidental, o Oceano Índico e o Oceano Índico Ocidental, ou seja, todos muito distantes do local onde agora foi encontrada. Quando foi avistada, encontrava-se a uma profundidade de 1 a 2 metros, junto ao porto de pesca de Porto Covo.

Durante um mergulho noturno, o investigador do MARE-Coimbra Joaquim Parrinha filmou a enguia, enviando, de seguida, o registo à sua coordenadora, Sónia Seixas, que não teve dúvidas na sua identificação. “Esta espécie tem a particularidade de se enrolar de um modo muito específico parecendo uma ‘tira de papel’. O exemplar observado estava bem ativo e aparentava uma boa condição física”.

Para validar esta descoberta, escreveram um artigo científico que submeteram à revista científica Marine Pollution Bulletin. A descoberta já foi confirmada por pares independentes selecionados por este órgão de referência, que já a publicou on-line. Ficará registada em papel na edição de Novembro.

O avistamento desta espécie, pela primeira vez e tão longe do seu local de origem, intrigou os cientistas que agora se questionam sobre a forma como ali chegou.

“Não há registo da sua existência no Atlântico, sendo esta a primeira observação. Pode ter vindo na água de balastro (água do mar que o navio usa para estabilizar e permitir uma boa navegação, que é inserida numa zona e largada noutra, consoante a carga que transporta), ou por intermédio da aquariofilia, uma vez que se vende na Europa como espécie ornamental para aquários de água salgada”, começa por explicar Sónia Seixas. “Devido à localização onde foi encontrada, Porto Covo, acreditamos mais na primeira opção, até pela proximidade do Porto de Sines”, continua.

Tratando-se de uma espécie exótica, caso não seja um indivíduo único, os investigadores do MARE ponderam a necessidade de lançar uma campanha de monitorização. Estão, também, a estudar medidas para prevenir o aparecimento de outros exemplares – caso tenha potencial para se tornar uma espécie invasora, e dado o seu perfil predador, terá, certamente impacto no ecossistema da região. “Sendo proveniente do indo-pacífico, esta espécie traz-nos grandes apreensões pois sabemos o que algumas espécies que foram introduzidas são nefastas para o ambiente. No entanto, e sendo a espécie ativa de noite, não nos parece que seja um problema para os banhistas nas praias”, conclui a investigadora do MARE.

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