Fortunato Garcia, produtor do vinho Czar, apresenta dois novos lançamentos, o “O último Czar do século XX“, um vinho muito especial de homenagem ao pai, José Duarte Garcia, um dos últimos que produziu em vida; e o “Czar 2014″, que sucede o “Czar 2013”, considerado como um dos melhores vinhos portugueses do ano.
Tal como todos os Czares, são dois vinhos de colheita tardia e completamente naturais, sem nenhum tipo de adição. São puros sumos de uva fermentada, que atingem um mínimo de 18º, e que respeitam a forma como os Czares foram produzidos até aos dias de hoje, o que leva a que, devido às condições atmosféricas incertas, não seja possível ter Czar todos os anos. Sem garantias de produção, sujeita às intempéries próprias da Ilha do Pico, a única certeza é a incerteza, e se, por vezes, existe produção em dois anos consecutivos, a Czar pode estar cinco anos sem vinhos, como sucedeu nesta última década.
E é esta vulnerabilidade que, a juntar a um método de produção único no mundo, faz dos vinhos Czar preciosos néctares, outrora dignos de czares e Papas e que, ainda hoje, faz chegar às ilustres casas do mundo o melhor das referências nacionais.
Uma das barricas deste ano é do exclusivo “O último Czar do século XX”, vindimada em 1999, a preferida de José Duarte Garcia que, por ser a que mais gostava, não a quis adicionar ao lote e guardou-a para beber com a família e amigos. Passados quase 25 anos após a sua colheita, os irmãos uniram-se e decidiram comercializar o restante vinho desta barrica, em homenagem ao pai, a celebrar o que chamam de “bodas de prata”. Este vinho vai ser engarrafado em 86 garrafas especiais de cristal Vista Alegre, com gravação a ouro de 21,3K.
Esta é a última possibilidade de se provar um Czar do século XX, que está intrinsecamente ligado aos vinhos seculares passados do Pico. Trata-se de uma réplica exata destes vinhos antigos, em que o vinho é enviado para a barrica, procede-se à fermentação e, assim que terminar, este vai novamente para a barrica de envelhecimento, onde permanece durante alguns anos sem qualquer tipo de intervenção. Pelas mãos de José Duarte Garcia, é o último dos Czares produzido sem nenhuns cuidados enológicos ou inovações científicas mais modernas.
“Após as pragas que atingiram as vinhas do Pico, principalmente a filoxera em 1872, o então famoso vinho passado do Pico desapareceu. Vinho que durante séculos passou pelas mesas de reis, Papas, imperadores e czares. Em seu lugar, aparece o que passou a ser conhecido como o Verdelho do Pico. Fruto da teimosia do meu pai, desde os anos 60 que deu continuidade ao que também chamava vinho verdelho, embora fosse elaborado da mesma forma que o vinho passado, nos seus tempos mais áureos. E este Czar 1999 tem a particularidade de ter sido produzido desta forma mais rústica. Hoje em dia, a única diferença em relação à produção de há 500 anos atrás é que agora faço a decantação a frio e depois faço o resto da fermentação em borras limpas, retirando uma quantidade mínima de borras, mas que podem mudar os aromas do vinho”, relata Fortunato Garcia.
“O último Czar do século XX” – Czar 1999 – é um vinho muito querido para Fortunato Garcia, pela ligação emocional ao seu pai e mentor e também por ser o último Czar do século passado a ser comercializado. Uma “jóia” que se apresenta em garrafas personalizadas, gravadas com a inscrição do nome escolhido pelo comprador, com a exclusividade de ser apenas possível uma garrafa por nome. Este processo exige que a gravação seja efetuada antes do ouro ser cozido, para se firmar no cristal. Um luxo que apenas está acessível às pré-compras efetuadas até ao primeiro trimestre de 2024, antes da Vista Alegre produzir as garrafas com o nome gravado a ouro. Posteriormente, as gravações poderão ser elaboradas, mas sem o preenchimento deste metal precioso.
“O último Czar do século XX”* está disponível a 7.500€ cada garrafa e a 6.500€ em pré-compra (até ao 1º trimestre de 2024).
*Rótulo em aprovação na CVR Açores.
Mas as novidades não se ficam “apenas” por esta raridade. Após o “Czar 2013” ter sido considerado um dos melhores vinhos portugueses do ano, surge agora o “Czar 2014”, um vinho engarrafado nove anos após a sua colheita. Com quase uma década a estagiar em barricas velhas, este processo leva a que cerca de 45% do vinho evapore, a famosa “parte dos anjos”, tal como acontece com todos os vinhos da marca. No entanto, na opinião do produtor, justifica-se esta perda tão grande com a riqueza que os vinhos adquirem. “As grandes perdas compensam-se pela oxidação mais rápida, o que garante que o vinho Czar possa ser consumido 6 ou 8 meses após ser aberto e manter exactamente a mesma qualidade”, explica Fortunato Garcia, acrescentando: “Uma das minhas grandes alterações, enquanto responsável pela produção do Czar, foi a de passar a realizar a fermentação somente sobre borras finas e o estágio em barrica crescer de três para cerca de oito anos. Isso permitiu assumir o Czar como um produto topo de gama, condizente com as suas dificuldades de produção – em 2020, por exemplo, nos 3,5 hectares de vinha na Criação Velha produziu-se apenas 350 litros de vinho (uma relação de 100 litros de vinho por hectare)”.
Com uma produção tão baixa, a exclusividade deste vinho só é possível com uma grande dose de dedicação e resiliência. “É puro amor à camisola. Em média, numa década, há pelo menos quatro anos em que não há Czar, devido às condições atmosféricas e, por vezes, devido à fermentação, que não ocorre normalmente. É uma cultura de loucos. Querer uvas passas para produzir vinho só permite produções muito reduzidas“, assume Fortunato. É com estas uvas das vinhas centenárias do Pico, classificado como Património da Unesco em 2004, que se faz o Czar, a partir das castas autóctones da ilha (65% Verdelho, 30% Arinto dos Açores e 5% Terrantez do Pico), plantadas em chão de lava nas curraletas, muros de pedra negra que as protegem dos ventos marítimos, que resistiram aos séculos e à passagem do tempo. As vindimas chegam a ser feitas em três fases para que as uvas fiquem a amadurecer mais tempo nas videiras.
O Czar tem ainda uma outra particularidade: não tem uma categoria clara. Segundo a legislação da União Europeia, um vinho que não é fortificado não pode ser licoroso. Como não tem muitos açúcares e tem muito mais álcool, também não pode ser considerado um “late harvest”. Por serem vinhos em que nada é adicionado, variam consoante o clima de cada ano, fazendo com que sejam todos parecidos e todos diferentes. “O ideal acontece quando a conjugação da acidez, açúcares residuais e álcool se anulam e ao mesmo tempo se complementam, tornando o vinho quase perfeito”, comenta o produtor.
Passas, mel, laranja caramelizada, nozes e limão tangerino são as notas predominantes no nariz do “Czar 2014”. Na boca, o equilíbrio entre o álcool, como sempre natural, a acidez estonteante os açucares restantes, e o sal, faz com que a persistência e, por consequência, a longevidade deste vinho, fique e perdure no palato durante longos minutos, a parecer que o provador não o quer deixar ir embora. O centro da língua não para de salivar, pedindo sempre mais, sensação provocada pela frescura da acidez aliada à salinidade.
O “Czar 2014” será comercializado a 500€ cada garrafa, numa produção limitada a 996 garrafas.