“Conta-me Uma Canção” estreou ontem a edição de 2024, num Teatro Maria Matos cheio para ouvir as histórias e as canções de Samuel Úria e de Miguel Angelo. Uma noite calorosa e feliz, onde as gargalhadas do público – e as vozes – se misturavam com as conversas e músicas em palco.
Pouco passava das 21h quando os dois artistas assumiram os seus lugares, recebidos pelos aplausos de uma plateia expectante. Samuel Úria inaugurou a noite com a sua guitarra, cantando “Não Arrastes o Meu Caixão”, seguindo-se Miguel Angelo com “Precioso”, ambas entoadas pelo público presente na sala – um início auspicioso de uma noite que se revelaria especial.
A química entre Samuel Úria e Miguel Angelo em palco era óbvia, mesmo que imprevisível. Ambos contadores de histórias natos, foram partilhando com o público curiosidades das suas canções, composições, histórias do meio artístico que habitam há tantos anos, momentos em que as suas vidas e carreiras se cruzaram directa ou indirectamente. Uma partilha genuína e única, que deu sentido à palavra “intimista”: uma ligação honesta e directa com quem assistia ao espetáculo.
Musicalmente, a noite foi cheia de surpresas, tanto para o público como para os artistas. Samuel Úria tocou “Ferrugem”, do EP “Marcha Atroz”, e Miguel Angelo entoou “Fado do Fim do Mundo”. Pouco depois, Mário Andrade, que acompanhava à guitarra as canções de Miguel Angelo, lembrou que este dia marcava 8 anos da morte de David Bowie. O que se seguiu foi uma versão improvisada de “Space Oddity”, justa homenagem ao camaleão do rock. Este à vontade com a música e a canção levou a mais momentos não planeados, como “Sou Teu Amigo Sim” de Toy Story e “Aquele Inverno”, dos Delfins.
O gosto de ambos em adaptar para português canções originalmente noutras línguas ficou claro quando cantaram “Ultimamente”, versão de “Lately” de Stevie Wonder, ou “Toda a Gente Sabe Que Te Amo”, adaptada de “Everybody Knows (Except You)” dos Divine Comedy. A troca de canções, uma das premissas do “Conta-me Uma Canção”, trouxe-nos interpretações inéditas de “Baía de Cascais” por Samuel, e “Aeromoço” foi cantada por Miguel, tendo ambas acabado em agradecimentos sentidos do autor original, respectivamente. Samuel Úria recuperou para a noite de ontem “Para Perto”, originalmente escrita para o Festival da Canção de 2017 e interpretada pelas Golden Slumbers e Miguel Angelo partilhou “Só Eu Te Posso Ajudar”, que compôs para o filmeZona J (1998). A fechar, eventualmente a maior surpresa deste encontro, numa homenagem à importância das palavras nas canções, juntaram-se numa versão de “Arrocachula”, uma composição de José Mário Branco. Houve ainda oportunidade para um encore, onde artistas e público entoaram “Nasce Selvagem” em uníssono.
“Conta-me Uma Canção” é muito mais que um concerto. É, aliás, tudo o que envolve um concerto e ainda mais: é a cumplicidade entre os pares, a camaradagem com os músicos, as histórias da estrada, as histórias da vida de cada um, a intimidade entre os artistas e o público. É tudo aquilo a que um verdadeiro fã de música e dos seus compositores pode desejar assistir.
“Conta-me Uma Canção” regressa ao Teatro Maria Matos no próximo dia 16, com Surma e TOMARA. Dia 17 será a vez de Capicua e Sérgio Godinho e termina dia 24, com Luísa Sobral e Márcia. Os bilhetes para os dois últimos espectáculos já se encontram esgotados, podendo os ingressos para a dupla Surma e TOMARA serem adquridos aqui.