Gato-Bravo identificado primeira vez, em 30 anos, no Grande Vale do Côa

O gato-bravo está em Perigo de Extinção em Portugal e este que foi identificado é o primeiro detetado, nos últimos 30 anos, no Grande Vale do Côa

Gato-Bravo no Vale do Côa
Gato-Bravo identificado primeira vez, em 30 anos, no Grande Vale do Côa - ®DR

Segundo o Livro Vermelho dos Mamíferos o gato-bravo está em Perigo de Extinção em Portugal e estima-se que existam menos de 100 indivíduos adultos, e este é o primeiro registo confirmado para o Grande Vale do Côa, fora da Serra da Malcata, em mais de 30 anos, embora tenham existido algumas observações esporádicas não confirmadas. A perda de habitat e a hibridação com gatos domésticos são dos seus maiores problemas de conservação. Em locais da Europa como na Escócia, 88% dos gatos-bravos têm genes de gato doméstico. Estamos a perder a singularidade genética desta espécie e é urgente agir para conservar este animal único!

O gato-bravo em causa foi primeiro registado com recurso a fotoarmadilhagem, mas este método não é por si só infalível, já que “é muito difícil distinguir esta espécie de um gato doméstico com fenótipo selvagem”, diz-nos Pedro Ribeiro, biólogo da Rewilding Portugal envolvido nesta descoberta, e razão pela qual, depois de consultar especialistas do ICNF, fez-se uma prospeção no terreno, onde foi possível encontrar excrementos.

“Quando me deparei com a primeira foto deste gato quase saltei da cadeira! É extremamente raro encontrar gatos-bravos em Portugal e, em especial, na região do Côa”, conta-nos o biólogo sobre o primeiro momento em que a identificação se parecia confirmar, ainda antes dos testes de genética através dos excrementos, que viriam a acontecer posteriormente. Não é raro fotografar gatos domésticos e assilvestrados no campo através deste tipo de câmaras, já que estes animais conseguem viver a dezenas de quilómetros das povoações humanas mais próximas, podendo até ter impactos negativos nas populações selvagens de aves, répteis e mamíferos. Também competem por território com o autóctone gato-bravo e hibridizam com esta espécie, diluindo a sua genética selvagem, principalmente quando falamos de uma espécie em perigo de extinção como neste caso.

Os excrementos seguiram então para análise genética, no âmbito da colaboração com o CIBIO-InBIO/BIOPOLIS da Universidade do Porto, em que o grupo CONGEN, coordenado por Paulo Célio Alves, está a desenvolver um estudo sobre a diversidade genética e o grau de hibridação do gato-bravo a nível Ibérico. A análise de marcadores moleculares do ADN nuclear permitiu confirmar geneticamente que o animal era de facto um gato-bravo, o primeiro registo numa das nossas áreas rewilding no Grande Vale do Côa. Um dos objetivos das áreas rewilding é atuarem como refúgios onde a vida selvagem encontra as condições necessárias para prosperar e estas descobertas são indicativos de que estão de facto a cumprir esta função.

O gato-bravo está em Perigo de Extinção em Portugal e estima-se que existam menos de 100 indivíduos adultos, uma situação crítica que é necessário inverter, começando a trabalhar com esta espécie no imediato. É no Norte de Espanha que estão as maiores populações na Península Ibérica, mas os especialistas falam de uma extinção silenciosa a nível ibérico, principalmente no sul de Portugal e de Espanha, mas também em outras regiões da Europa. A perda de habitat e a hibridação com gatos domésticos são dos seus maiores problemas de conservação. É urgente iniciar ações para recuperar o gato-bravo na Península Ibérica e, desde já, a Rewilding Portugal vai começar por apoiar a esterilização dos gatos domésticos que se encontram nas proximidades desta área onde foi registado o gato-bravo, para evitar riscos de hibridação.

aNOTÍCIA.pt