
Durante a cerimónia dos Prémios Abadesa Mariana, o presidente da Câmara Municipal galega de A Estrada, Gonzalo Louzao, destacou o valor histórico e cultural do Caminho da Geira e dos Arrieiros (CGA), que liga Braga a Santiago de Compostela. Esta rota, segundo o autarca, é muito mais do que um percurso de peregrinação — é um verdadeiro elo entre patrimónios partilhados de Portugal e da Galiza.
Desde a sua apresentação, em abril de 2017, o CGA tem impulsionado a recuperação de património e história ao longo do seu trajeto. “Esta via jamais teria sido recuperada sem o trabalho incansável de associações como a Codeseda Viva e de tantas pessoas envolvidas”, sublinhou Louzao no sábado, dia 5, durante a cerimónia realizada no Museu do Móvel e da Madeira, em A Estrada.
O autarca frisou ainda a importância da mobilização da sociedade civil e das administrações públicas, que têm colaborado na preservação do trajeto, transformando-o num caminho de excelência. “O CGA é hoje uma referência cultural, económica e turística, graças ao esforço de todos”, afirmou.
A 6.ª edição dos Prémios Abadesa Mariana reconheceu figuras e instituições que se têm destacado na valorização do Caminho. Entre os distinguidos esteve o escritor e peregrino português Luís Ferreira, premiado pela sua obra dedicada ao Caminho de Santiago. Também foram homenageados a Associação Fervenza de Ouzande, pela sua longa dedicação à promoção do património natural e cultural galego, e a hoteleira Maricarmen Gaspar, do Bar Pub Caminho da Geira, pelo apoio constante aos peregrinos que passam por Codeseda.
Ao receber o prémio, Luís Ferreira expressou a sua gratidão, sublinhando que a distinção simboliza os 13 anos dedicados a escrever sobre o Caminho e a partilhar informações com milhares de peregrinos. “Este prémio é também das pessoas que, antes de mim, se dedicaram a este percurso, estudaram-no, sinalizaram-no e o mantêm vivo”, referiu o autor de Um Caminho que o tempo não apagou.
Antes da entrega dos prémios, decorreram seis apresentações sobre diferentes vertentes do Caminho de Santiago. Entre os intervenientes estiveram o veterano peregrino Manuel Rocha, que abordou o “Caminho Português da Costa”, e Celestino Lores, presidente da Associação de Amigos do Caminho Português, que destacou o impacto crescente deste percurso. Carlos Fernández Coto, da Associação para a Defesa do Património Cultural Galego, refletiu sobre os laços patrimoniais entre Portugal e Galiza. Houve ainda intervenções de Andrés Sampedro, Daniel Antelo e do próprio Luís Ferreira, que partilhou a sua visão literária sobre o CGA.
Com um trajeto de 239 quilómetros, o Caminho da Geira e dos Arrieiros tem início na Sé de Braga e atravessa os concelhos de Amares, Terras de Bouro e Melgaço, entrando na Galiza pela Portela do Homem. Em apenas oito anos, mais de cinco mil peregrinos, oriundos de Portugal, Espanha e outros 16 países, percorreram este caminho que une natureza, história e espiritualidade.
Apresentado oficialmente em 2017 e reconhecido pela Igreja em 2019, o CGA é hoje valorizado em diversas publicações institucionais, como as do Eixo Atlântico (2020) e do Turismo do Porto e Norte de Portugal (2021). O seu trajeto inclui tesouros únicos, como a Geira — a via romana mais bem preservada do antigo império ocidental — e a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés, afirmando-se como um dos raros cinco caminhos que conduzem diretamente à Catedral de Santiago de Compostela.