
Com os desafios atuais a marcar a agenda política portuguesa, um estudo recente da Producto of the Year Portugal investigou a opinião dos portugueses sobre a governação, a inovação e o futuro do país. A pesquisa traça um panorama das preocupações da sociedade e sugere caminhos para uma administração mais eficaz e transparente.
José Borralho, CEO da empresa, destaca uma “sociedade crítica, preocupada com a eficiência governativa e a falta de transparência, onde casos pessoais ganham protagonismo em detrimento de prioridades como saúde e educação”. O inquérito revela um apelo por reformas estruturais para um futuro mais estável e inovador, sublinhando que “sem inovação, não há mudança”.
Os resultados indicam uma perceção predominantemente negativa da atual gestão política: 41% dos inquiridos consideram-na negativa e 13% muito negativa, contrastando com apenas 4% que a avaliam como muito positiva e 20% como positiva.
A instabilidade política é outra preocupação, com 62% a ver a sucessão de eleições como reflexo de falta de estratégia e compromisso governativo. Ainda assim, 32% entendem que, embora preocupante, é um reflexo natural da democracia.
Os participantes identificaram neste estudo, a corrupção e a falta de transparência (ambos com 23%) como os principais problemas da política portuguesa, encarados como obstáculos cruciais ao bom funcionamento do sistema.
O reforço da transparência e o combate à corrupção (42%) são apontados como prioridades essenciais para o futuro. Uma maioria significativa (67%) apoia a implementação de um limite de mandatos para cargos públicos, visando evitar a formação de políticos de carreira.
A instabilidade governativa (19%) e a desconexão entre políticos e cidadãos (17%) também foram mencionadas como problemas relevantes. Outras questões incluem a falta de diversidade nas lideranças políticas (9%) e a falta de inovação e modernização (8%).
Questionados sobre inovação, o conceito é amplamente associado à transformação e eficiência na resolução de problemas (44%). Para 29%, representa novas formas de organização e gestão.
Neste contexto, 60% dos participantes defendem que a gestão política deveria adotar modelos mais eficientes, semelhantes aos do setor empresarial. Outros 36% concordam com esta aproximação, mas ressalvam a necessidade de adaptações às especificidades da governação pública.
A resistência dos partidos à mudança (46%) é vista como a principal barreira à inovação. Para 22%, a política não encara a inovação como uma necessidade real, enquanto 18% apontam a complexidade da gestão pública e 15% a falta de incentivos como fatores limitadores.
Uma parcela significativa dos inquiridos (39%) considera que muitos políticos chegam ao poder sem experiência relevante, e 19% notam uma desconexão entre os políticos e a realidade do país. Apenas 12% acreditam que os políticos portugueses têm, na sua maioria, formação e experiência adequadas para governar.
A maioria dos participantes percebe que os políticos portugueses estão mais focados em interesses partidários imediatos do que no futuro do país: 39% acreditam que se preocupam essencialmente com os seus partidos e 30% com interesses pessoais. Apenas 26% reconhecem um esforço para equilibrar interesses nacionais e partidários.
Os debates políticos são maioritariamente considerados negativos (57%), marcados por ataques pessoais e pouca resolução prática. A maioria defende que os políticos deveriam ser obrigados a apresentar um plano estratégico de longo prazo (53%), essencial para garantir uma visão clara para o país. Outros 44% concordam com a obrigatoriedade, desde que haja um compromisso transparente e mensurável.
Os inquiridos consideram que os políticos raramente assumem responsabilidades pelos seus erros. Para 40%, há uma tendência para justificar ou culpar terceiros, enquanto 28% acreditam que isso acontece ocasionalmente, sob pressão pública. Um total de 26% afirma que nunca há assunção de responsabilidade, refletindo uma cultura de impunidade política.
Uma grande parte dos participantes (49%) defende que os políticos deveriam ter experiência empresarial antes de assumir cargos públicos, por considerarem que isso tornaria a gestão mais eficiente. Outros 31% concordam com a importância dessa experiência, mas não a consideram obrigatória, enquanto 20% acreditam que a política enfrenta desafios distintos e a experiência empresarial não é um requisito necessário.
Consequentemente, a maioria dos intervenientes (64%) apoia a inclusão de especialistas de diferentes áreas no governo, por acreditarem que equipas multidisciplinares trariam melhores soluções para os desafios do país. Outros 33% concordam com essa integração, desde que seja equilibrada com a presença de políticos experientes.
Quanto à preparação de Portugal para os desafios futuros, a maioria considera que as políticas atuais apenas preparam parcialmente o país, apontando a falta de investimento estratégico como principal obstáculo (47%). Para 29%, o país está demasiado focado no curto prazo, enquanto 19% acreditam que Portugal está a perder competitividade.
Nesse sentido, a falta de continuidade entre governos (41%) é vista como um entrave ao desenvolvimento sustentável. Uma parte dos inquiridos neste estudo (19%) considera que a política portuguesa vive de improviso, e apenas 8% acredita que há um verdadeiro planeamento estratégico.
As principais prioridades para o futuro de Portugal, segundo os participantes, devem centrar-se na saúde e bem-estar social (25%), na educação e qualificação profissional (23%) e na economia e emprego (23%).
O estudo revela ainda que 46% considera o papel da União Europeia positivo, destacando o seu contributo para o desenvolvimento e estabilidade do país.
Questionados sobre as perspetivas para Portugal daqui a 20 anos, a maioria (41%) acredita que o país será desenvolvido, mas ainda enfrentará desafios estruturais. Para 34%, não haverá grandes mudanças, mantendo-se alguns dos problemas atuais. Uma parcela (17%) antecipa um cenário mais pessimista, com o país a perder competitividade, e apenas 9% tem uma visão otimista, prevendo um Portugal altamente inovador e competitivo a nível global.
Em suma, os dados do estudo revelam um cenário de insatisfação generalizada e a perceção de uma necessidade urgente de mudanças estruturais para assegurar um futuro melhor para Portugal. A transparência, a inovação na gestão pública e a colaboração entre políticos e especialistas são apontadas como soluções cruciais para um progresso sustentável.