
A Cooperativa Árvore, no Porto, inaugura no próximo dia 19 de abril, às 16h, duas exposições que integram programas distintos da instituição e prometem provocar reflexão e emoção. Até 10 de maio, o público poderá visitar “Num Copo de Água”, de Diogo Vieira Saraiva, no âmbito do Programa Jovens Criadores, e “Animot”, de Ana Lapa, integrada no Programa Artistas Cooperadores.
Diogo Vieira Saraiva: pintura como campo de batalha da memória
Na sua primeira exposição individual, Diogo Vieira Saraiva convida-nos a mergulhar num universo onde a pintura se torna uma forma de reconstrução da memória. Em “Num Copo de Água”, o jovem artista propõe uma viagem entre o nostálgico e o profético, onde o gesto pictórico é enfrentamento, sofrimento, revelação — quase um ato de fé.
A sua prática artística é marcada por uma constante tensão entre intuição e razão, inspirada nos conceitos psicanalíticos de Melanie Klein e Hanna Segal. Cada obra torna-se um território de descoberta, não apenas do mundo, mas de si mesmo. O linóleo, material escolhido por Vieira Saraiva, transforma-se no chão simbólico de um ringue de combate interno, onde o espectador é convidado a também enfrentar as suas próprias tempestades emocionais.
Ana Lapa: dar voz ao animal, para além da linguagem humana
Na exposição “Animot”, Ana Lapa parte de uma crítica à visão antropocêntrica que tradicionalmente define o animal como irracional e sem subjetividade. Inspirada pelo filósofo Jacques Derrida — que funde os termos “animal” e “mot” (palavra, em francês) para propor uma nova perceção —, a artista explora os limites da linguagem na construção da alteridade entre humanos e não-humanos.
Esta mostra na Cooperativa Árvore, no Porto, desafia o visitante a repensar a forma como se relaciona com o mundo animal e propõe uma rutura com a categorização hierárquica que o pensamento ocidental impõe. Lapa abre caminho para uma nova empatia, onde o gesto artístico procura restaurar laços e ampliar vozes silenciadas.