
A nossa recente viagem pela Ruta de Calatrava durante a Semana Santa foi uma verdadeira imersão na história medieval, nas tradições religiosas e nos sabores autênticos da cozinha manchega. Hospedados no charmoso Retiro del Maestre, um hotel que respira história, muito próxima da Plaza Mayor de Almagro, mergulhamos nos vestígios de uma poderosa ordem militar, na fé que moldou estas terras e nos prazeres da sua gastronomia.
Almagro: Um Tesouro Histórico e Gastronômico
A aventura começou em Almagro, uma cidade repleta de um rico património cultural. A imponente Igreja de San Bartolomé el Real, construída nos séculos XVII e XVIII, sobre uma antiga capela, pela Companhia de Jesus, ofereceu-nos uma visão fascinante da evolução religiosa da região. Após admirar a sua arquitetura jesuíta, deliciamo-nos com os tradicionais Duelos y Quebrantos, um prato reconfortante de ovos mexidos, chouriço e toucinho, que nos transportou para a culinária rústica da região. Este prato, retirado da literatura de Cervantes, é uma verdadeira explosão de sabores, onde a combinação de ingredientes simples resulta numa experiência gastronômica memorável.
Aldea del Rey e Calatrava la Nueva: Passos na História
Seguindo os passos da ordem, rumamos a Aldea del Rey, sentindo a proximidade de Calatrava la Nueva. Em cada paragem, a promessa de novas descobertas históricas e gastronómicas pairava no ar. Em Bolaños de Calatrava, a visita à igreja paroquial despertou nossa curiosidade, e a experiência culinária local não desapontou.
Localizada no campo vulcânico de Calatrava, Bolaños de Calatrava é uma visita obrigatória ao longo da rota que une Las Tablas de Deimiel e Almagro. No centro urbano, destacam-se a Ermida do Santo Cristo da Coluna e a igreja de São Filipe e Santiago, localizadas na Praça de Espanha, um claro exemplo da transição do gótico para o renascentista.
Calatrava la Nueva: O Clímax da Jornada
A visita a Calatrava la Nueva foi, sem dúvida, o ponto alto da nossa viagem. Assim que avistamos a imponente fortaleza rochosa a erguer-se no topo da colina, sentimos que íamos embarcar numa verdadeira viagem no tempo, ao coração da poderosa Ordem de Calatrava. Sabendo que este local estratégico, com vestígios de ocupação que recuam à Idade do Bronze e ao período Visigodo, dominava uma importante passagem para a Serra Morena, a sua história tornou-se ainda mais fascinante.
Ao explorarmos as muralhas e os espaços interiores, imaginávamos a agitação de outrora, quando esta fortaleza, inicialmente conhecida como Castelo das Dueñas, se tornou o principal quartel-general da Ordem de Calatrava, após a sua doação no final do século XII e a sua reconstrução entre 1213 e 1217, depois da marcante Batalha de Las Navas de Tolosa. Era fácil visualizar como este local, construído para substituir Calatrava la Vieja, desempenhou um papel crucial em múltiplas funções: como base militar para a luta contra os muçulmanos e a defesa do território cristão, como ponto estratégico de controlo da Serra Morena, como centro administrativo e religioso da Ordem, como refúgio seguro para a comunidade local, incluindo servos e camponeses, e como centro logístico vital para o armazenamento de recursos e apoio às tropas.
Percorrendo a vasta área da fortaleza, com o seu complexo sistema defensivo e as estruturas essenciais como a igreja, o convento e a antiga área residencial, sentimos a força da história. Saber que esta imponente construção manteve a sua importância até ser abandonada no século XIX, após os confiscos religiosos de 1835, marcou o fim de um capítulo fascinante, intrinsecamente ligado à influência e ao poder da Ordem de Calatrava nesta região. A visita a Calatrava la Nueva deixou-nos uma profunda sensação de ligação com o passado.
Mesmo em frente ao imponente Castelo de Salvatierra e tão perto do grandioso Castelo de Calatrava, almoçar no restaurante Villa Isabelica, foi uma maravilhosa experiência. Pela sua descrição, parece um daqueles lugares que nos surpreendem pela positiva em todos os sentidos. A beleza do espaço e da sua localização privilegiada, cria uma atmosfera mágica, carregada de história. É fascinante como um lugar isolado pode guardar um tesouro gastronómico tão inesperado. Destaque para as suculentas costeletas de cordeiro, um prato emblemático da região, e o saboroso pisto, um guisado de vegetais que reflete a riqueza da horta manchega. Saboreamos ainda as reconfortantes Migas Manchegas ou migas do pastor, um prato pastoril e energético que aqueceu nosso corpo e alma. Feito com pão endurecido, alho, pimentão e pedaços de carne, as Migas são um exemplo perfeito de como a simplicidade pode resultar num prato delicioso e nutritivo.
A carne preparada pelo mestre churrasqueiro José Luis Naranjo, que revela um cuidado e grande paixão pela culinária, tornou esta refeição memorável. Foi de facto, um grande prazer descobrir este lugar único.
Doçaria da Semana Santa: Um Doce Final
A doçaria da Semana Santa também deixou sua marca inesquecível. As Torrijas, fatias de pão embebidas em leite, ovos e açúcar, e depois fritas, adoçaram nossos paladares com sua textura suave e sabor reconfortante. As delicadas e estaladiças Flores Fritas foram a cereja no topo desta experiência gastronómica, com sua forma peculiar e toque doce que celebra a época festiva. Estas flores, feitas de uma massa leve e fritas até ficarem crocantes, são polvilhadas com açúcar e canela, proporcionando um final doce e festivo à nossa jornada.
A nossa Semana Santa na região da Ordem de Calatrava foi uma jornada rica e multifacetada. Exploramos vestígios de um passado militar glorioso, sentimos a pulsação da fé nas igrejas históricas e deliciamo-nos com os sabores autênticos da cozinha manchega. Calatrava la Nueva, com sua presença imponente, lembrou-nos a duradoura influência desta ordem, enquanto cada prato saboreado nos ligou ainda mais profundamente com a cultura e as tradições desta fascinante região. O Retiro del Maestre, com seu charme histórico e localização estratégica, foi o cenário perfeito para esta imersão completa na história, na fé e nos sabores da terra da Ruta de Calatrava.
As memórias desta Semana Santa na região da Ruta de Calatrava ficarão para sempre gravadas em nossos corações. Em cada muralha antiga, em cada sabor tradicional e em cada celebração religiosa, sentimos uma ligação profunda com a história e a cultura desta terra. Mal podemos esperar para compartilhar mais relatos desta viagem que despertou em nós uma paixão duradoura pela Ruta de Calatrava.