iPlanta – III conferência biotecnológica sobre desenvolvimento e proteção das culturas agrícolas de doenças e pestes.

Decorreu de 27 de fevereiro a 1 de março, no Auditório do ITQB Nova, em Oeiras, a terceira edição da conferência anual iPlanta, um dos mais importantes debates internacionais, sobre a necessidade de usar a biotecnologia para o desenvolvimento de novas formas de proteger as culturas agrícolas de doenças e pestes.

iPlanta
iPlanta – III conferência biotecnológica - ®DR

 

A conferência foi promovida pelo Centro de Informação de Biotecnologia (CiB) e pelo Laboratório de Biotecnologia de Células Vegetais, da Unidade de Investigação Green-it e contou com a presença e a intervenção de vários investigadores de diferentes países, que discutiram o desenvolvimento de novas metodologias através da utilização do RNA de interferência.

Para o investigador Pedro Fevereiro, a realização da III Conferência iPlanta em Portugal “é uma oportunidade para debater e divulgar os aspetos científicos e técnicos desta tecnologia, de forma a se efetivar a sua utilização na proteção das culturas agrícolas contra pragas e doenças.”

Desafiámos o Professor Pedro Fevereiro a explicar-nos, de forma simples o que são os RNAs e ficámos a saber que “são ácidos nucleicos que transferem a informação codificada nos genes, portanto no DNA, para a maquinaria que sintetiza as proteínas nas células de todos os organismos vivos” explica o investigador, “ Nos últimos anos descobriu-se que existem pequenos RNAs que em vez de fazer a função descrita acima, impedem que essa função se realize, de uma forma específica, controlando assim o nível de proteínas que são sintetizadas. A alguns desses RNAs foi dado o nome RNA de interferência (RNAi), porque interferem com a síntese das proteínas” concluiu.

 E o que distingue o RNAi, o OGM e a edição de genoma, quisemos saber. De uma forma simples Pedro Fevereiro, explicou-nos que “OGM é uma denominação genérica que se refere à introdução num organismo de um ou mais genes que codificam para proteínas que conferem uma característica específica nova a uma cultura. Essa caraterística pode ser uma resistência a um herbicida ou a maior tolerância à secura. No caso do RNAi em vez de um (ou mais) genes que codificam para proteínas, são introduzidas sequências que codificam para um pequeno RNA cuja função é reduzir a acumulação de uma proteína específica. Um exemplo é a redução de proteínas que constituem os vírus, impedindo que estes se reproduzam e evitando assim que as doenças que induzem se propaguem. Na edição do genoma, a finalidade é silenciar um determinado gene, através da introdução de uma mutação na sequência desse gene, de forma a que a proteína por ele codificada não se sintetize. Um exemplo prático é a mutação de genes das plantas que facilitam a interação com fungos ou bactérias patogénicas, impedindo a progressão das doenças por eles causadas”.

Chega-se à conclusão que esta tecnologia pode ser uma alternativa mais amiga do ambiente relativamente ao uso dos pesticidas tradicionais. “O RNA é uma molécula ubíqua no ambiente sendo também uma molécula que se encontra presente em todos os organismos e em todos os alimentos que ingerimos. É uma molécula que se degrada rapidamente, não produzindo resíduos tóxicos. Os RNAi podem ser desenhados para serem extremamente específicos, de forma a serem direcionados para um determinado organismo, reduzindo muito o risco de afetação de organismos não alvo” refere o investigador.

De qualquer forma, mesmo com os avanços das metodologias, será necessário desenvolver mais conhecimento aplicável, no sentido de aumentar as produtividades das culturas, que garanta a segurança alimentar a 10 mil milhões de pessoas. Os investigadores associados a esta ação COST acreditam que as técnicas que estão a ser desenvolvidas, bem como outras novas tecnologias para o melhoramento e proteção das plantas, aliadas a práticas agrícolas racionais e sustentáveis são a melhor forma de responder ao enorme desafio, de alimentar uma população humana em crescimento, sendo certo que não será possível aumentar a área de produção agrícola mundial, sem aumentar significativamente o risco de um colapso ambiental mundial.

Nesta conferência,  foram ainda apresentados resultados sobre o uso de RNAi para controlo da Drosophila susukii, uma mosca da fruta que destrói vários frutos, sem que exista um pesticida tradicional que se possa utilizar para a controlar, para alem dos resultados de um novo tipo de péptidos (pequenas proteínas) que permitem o controlo da expressão dos genes, ao nível da síntese de proteínas específicas e foram apresentados também resultados do controlo de afídios pela aplicação por aspersão de um RNA de interferência.

Em jeito de resumo, o investigador Pedro Fevereiro, salienta a importância desta conferencia, referindo “Que a tecnologia do RNA de interferência se encontra suficientemente madura para se perspetivar a sua utilização no controlo de pragas e doenças, quer através da sua expressão nas próprias plantas, quer a través da sua aplicação tópica numa cultura. Concluiu-se ainda que esta tecnologia permite o desenvolvimento de produtos seguros e amigos do ambiente, e com um maior grau de especificidade para o organismo alvo. Concluiu-se ainda que os agricultores portugueses desejam que esta tecnologia esteja disponível, de formar a terem soluções alternativas para garantir as produções agrícolas, num cenário de alteração climática brusca, acompanhada do aparecimento de novas pragas e doenças que dificilmente conseguem controlar”.

 

_______________

Com um vasto e prestigiado Curriculum reconhecido internacionalmente, Pedro Fevereiro é atualmente presidente do CiB-Centro de Informação de Biotecnologia, Professor Auxiliar do Departamento de Biologia Vegetal na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Chefe do Laboratório do Grupo de Biotecnologia Vegetal no ITQB NOVA.