CIAJG apresenta ‘Geometria Sónica’ e ‘Carlos Bunga – Arquitetura da Vida’

Este sábado (29 junho) será preenchido e celebrado no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) com a inauguração de um novo ciclo expositivo.

Centro Internacional das Artes José de Guimarães, CIAJG
Geometria Sónica - ®DR

 

Uma inauguração pronta para nos surpreender às 21h30 com duas novas exposições – ‘Carlos Bunga – Arquitetura da Vida’, com curadoria de Iwona Blazwick, e ‘Geometria Sónica’,  com curadoria de Nuno Faria –, num dia que traz o filósofo italiano Emanuele Coccia ao CIAJG para uma conferência às 17h00 e se prolonga para uma Noite Sónica, pelas 23h00, onde a programação de concertos e performances, de Ricardo Jacinto e Pedro Tropa, Manon Harrois, Francisco Janes, Tomás Cunha Ferreira e Pedro Tudela, amplia e estende a atmosfera de ‘Geometria Sónica’. O convite para este dia é pleno e de entrada livre para todos.

Neste segundo ciclo expositivo de 2019, o CIAJG apresenta duas exposições que nos conduzem por uma experiência sensorial onde o corpo e o som são figuras centrais. ‘Carlos Bunga – Arquitetura da Vida’, antologia do trabalho deste artista português, originalmente apresentada no MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, e ‘Geometria Sónica’, projeto coletivo concebido, produzido e apresentado no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande, em São Miguel, nos Açores. As duas mostras estabelecem um eixo de reflexão em torno da importância do corpo como entidade pensante e poderoso dispositivo de perceção, que articula tempos, lugares e acontecimentos e que transporta a memória filtrada pela experiência do passado e a intuição daquilo que está por vir. As obras da Coleção Permanente mantêm o seu diálogo com as exposições ‘Clareira’ de Manuel Rosa e ‘A Morte de Ubu’ de João Louro.

Fruto de uma coprodução com o MAAT, onde esta exposição se apresentou inicialmente em novembro do ano passado, ‘Arquitetura da Vida’ é a primeira grande revisão da obra do artista português Carlos Bunga, radicado desde há uma década em Barcelona. Esta mostra reúne obras de diferentes períodos, ao longo de 15 anos de produção do criador, mas também distintas linguagens e meios, como o título da exposição antecipa. As estruturas escultóricas e pictóricas de Carlos Bunga (n. 1976) sugerem a arquitetura como corpo e espaço mental.
Carlos Bunga cresceu no concelho de Lisboa e estudou pintura na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha – uma universidade alternativa e vanguardista onde vários artistas da sua geração estudaram e produziram os seus primeiros trabalhos. A sua obra começou por ganhar destaque em 2004, na Manifesta 5 de San Sebastian, onde criou a sua primeira instalação efémera de grande escala, propositadamente destruída durante a inauguração da exposição. Atualmente, o artista vive e trabalha perto de Barcelona, em Espanha.

A exposição começa com uma pequena maquete de habitação social onde o artista cresceu, e que mais tarde viu ser demolida. É o início de uma viagem desde a miniatura ao monumental. A exposição documenta as construções de grande escala que o artista cria e destrói como performance, e é animada por vídeos das suas interações com o mundo material, constituindo a primeira grande retrospetiva da sua obra. Na sua prática, Carlos Bunga sempre se interessou pelas propriedades do cartão, simultaneamente leve e robusto. Para além de construir espaços, o artista também utiliza este material para criar esculturas de fantásticos habitats e objetos domésticos. Estes são apresentados tendo como pano de fundo grandes pinturas monocromáticas. A sua obra combina uma poderosa materialidade com a evocação de estados psíquicos. Encenando ciclos de construção e destruição, Bunga explora condições de despojamento e nomadismo, a natureza da experiência espacial, e o potencial criativo e simbólico da ruína.

A partir de 29 de junho, o som será matéria incontornável através do qual se constroem as peças de ‘Geometria Sónica (energia – frequência – forma)’, exposição fruto de uma outra coprodução, desta feita entre o CIAJG e o Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na ilha de S. Miguel nos Açores. A presente exposição é uma versão do projeto que, durante cerca de um ano, reuniu um extenso conjunto de artistas que trabalharam a partir do contexto institucional do Arquipélago — Centro de Artes Contemporâneas em diferentes plataformas físicas e concetuais. O projeto reúne artistas portugueses e estrangeiros cujas obras e pesquisas incorporam o som, como material, ou como estrutura concetual. Todos eles fundam o trabalho numa sólida base de pesquisa e de experimentação. A escolha do elenco baseou-se, em primeiro lugar, na sensibilidade colaborativa e, em segundo lugar, na relação que o trabalho de cada um estabelece com as caraterísticas do arquipélago dos Açores, cuja a origem vulcânica, a ressonância cósmica, a presença intensa e diversa da natureza (enquanto imanência e enquanto sentimento) exerce um forte apelo sobre os mais diversos criadores e pensadores.

Do ponto de vista filosófico, o projeto é influenciado por alguns pensadores que desenvolveram e problematizaram os conceitos de arquipélago, migração e miscigenação, tais como Édouard Glissant, Emanuele Coccia, Agostinho da Silva ou, ainda, Vitorino Nemésio. Trata-se de um projeto que foi concebido para integrar e cumprir as diferentes valências do Arquipélago, quer em termos do espaço expositivo e performativo, quer no que concerne à sua missão (produzir e trazer conhecimento à população da Ilha e do Arquipélago, mas também exportá-lo para outras paragens). É um projeto inovador que explora de forma inédita o maior arquivo audiovisual nacional, o arquivo da RTP, cujo horizonte de existência se confunde com a formação de um sentimento de pós-modernidade e de contemporaneidade em Portugal. É, finalmente, um projeto de criação, realizada a partir da residência na Ilha (ou ilhas), e de apresentação e diálogo com a comunidade.

‘Geometria Sónica’ pretende tematizar a importância do som na construção da nossa presença no mundo. As sociedades animistas, por exemplo, utilizam o som desde tempos imemoriais, nomeadamente certos ritmos e frequências, para curar ou para atingir níveis de hiperconsciência. O projeto propõe pensar a relação entre determinados padrões ou frequências sonoras e a criação de estruturas arquetípicas do pensamento e da arquitetura, tais como monumentos antigos edificados em diferentes lugares do mundo. As civilizações antigas construíam a partir da observação do Cosmos e acredita-se que, também, a partir da harmonia e ressonância sonora do Universo. É nesse pressentimento intemporal de que todos os seres são ligados por uma consciência global e coletiva que o projeto agora apresentado se funda.

A inauguração deste novo ciclo expositivo será precedida, às 17h00, por uma conferência de Emanuele Coccia que traz ao CIAJG Uma teoria do casulo. Os insetos, que são os mestres do casulo e da transformação, enganaram-nos, propõe o filósofo italiano Emanuele Coccia. Os insetos fizeram-nos acreditar que o casulo é uma ferramenta efémera, quando, pelo contrário, ela é a forma como mantêm uma relação com o resto dos vivos e com o planeta. Este professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, que coloca a natureza no centro do seu pensamento com obras como A Vida Sensível (2010), O Bem nas Coisas (2013, edição portuguesa pela Documenta) ou A Vida das Plantas (2016), é o convidado especial da conferência que antecede a abertura do novo ciclo expositivo do CIAJG.

Para celebrar mais um momento de inauguração de novas exposições, somos brindados com uma Noite Sónica, a partir das 23h00. Não sobrará um centímetro cúbico do espaço do CIAJG em silêncio na abertura da exposição ‘Geometria Sónica’. Uma performance de Manon Harrois vai ativar a Noite Sónica, que percorre os diferentes lugares do museu, desde a sala onde a dupla Ricardo Jacinto e Pedro Tropa revela a sua instalação – também ela marcadamente sonora – até à Black Box onde se apresentam Francisco Janes (Açor, montagem em tempo real de um filme realizado o ano passado na Serra do Açor no encalce de um incêndio devastador), Pedro Tudela (set get, uma performance musical em quadrifonia) e Tomás Cunha Ferreira, que apresenta ao vivo pela primeira vez o disco Vai Começar.

Na manhã seguinte, 30 de junho, às 11h00, as famílias são convidadas a participar na ‘Máquina de Fazer Museus – Ver o invisível’, uma oficina performativa que será habitada pela imaginação e pela descoberta dos lugares invisíveis do CIAJG. Orientada por Nuno Preto, criador de Ponto de Fuga, espetáculo que é uma visita performativa a este mesmo lugar, as duas propostas têm um caminho comum. Se ‘Ponto de Fuga’ visita e ativa lugares invisíveis do museu, esta oficina propõe que todos os participantes sejam eles mesmos novas obras de arte nestes sítios inacessíveis.

Recorda-se que, no CIAJG, é possível realizar visitas orientadas e oficinas criativas ao longo de todo o ano, sujeitas a marcação através de telefone 253424700 ou e-mail [email protected]. O museu encontra-se aberto de terça a domingo, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 19h00. Aos domingos de manhã, a entrada é gratuita. A programação pode ser consultada em www.ciajg.pt.