Ricardo Reis: “taxas de juro não baixam tão cedo”

Segundo Ricardo Reis "voltar aos 2% só será possível na segunda metade de 2025, mais de 4 anos depois do desvio inicial, o que me parece tarde."

Ricardo Reis
Ricardo Reis: "taxas de juro não baixam tão cedo" - ®DR

A Axians, marca do grupo VINCI Energies dedicada às Tecnologias de Informação e Comunicação, e ao desafio da Transformação Digital, trouxe a Portugal, em parceria com a APDC, o professor Ricardo Reis, reconhecido especialista em macroeconomia e economia monetária e financeira.

O encontro que contou com a presença de cerca de 80 destacados líderes – dos setores público, privado e social – teve como principal objetivo debater a origem dos atuais níveis de inflação, a atuação do Banco Central Europeu (BCE) na política monetária e a forte possibilidade de uma recessão europeia em 2024.

Ricardo Reis, professor na London School of Economics and Political Science, consultor académico do Banco de Inglaterra e da Reserva Federal de Richmond, e vencedor do prémio Yrjo Jahnsson, apresentou o seu pensamento sobre os erros do BCE, o choque energético, a quebra na confiança dos consumidores e empresas, e também sobre a crise na habitação, a pressão salarial, não esquecendo todas as tensões geopolíticas existentes, que hoje condicionam a economia.

“Como consequência das medidas implementadas, pela primeira vez num ano os mercados estão a confiar no BCE”, afirma o especialista em macroeconomia no início da sua palestra. Ainda de acordo com Ricardo Reis, “a próxima recessão, que poderá começar em 2024, tem origem na crise energética despoletada pela invasão da Ucrânia. Esta não é a recessão com origem no BCE como muitos querem fazer crer. Se o BCE tem alguma responsabilidade é pelo facto de só ter atuado em meados de 2022, quando devia ter começado a implementar medidas de contenção da inflação no último trimestre de 2021”.

“Quer queiramos quer não, esta será uma recessão ainda com origem no pós-pandemia. A recuperação foi demasiado rápida, a atuação do BCE foi demasiado lenta, e em 2024, quando a recessão chegar e for preciso baixar as taxas de juro, o BCE não o vai poder fazer pois ainda está a combater a inflação”, conclui o académico. E adianta que: “voltar aos 2% só será possível na segunda metade de 2025, mais de 4 anos depois do desvio inicial, o que me parece tarde.”

Na visão de Pedro Faustino, Managing Director na Axians Portugal, “Não há milagres e a situação estrutural da economia portuguesa só muda se o país criar mais riqueza. E isso faz-se nas empresas. Portugal precisa, por isso, de mais empresas e empresas mais fortes.” Em relação à importância deste debate para os gestores nacionais refere: “A grande maioria da população ativa do país conta com as nossas empresas, com o nosso espaço de influência e com o nosso ativismo económico. Tem sido para nós, por isso, um enorme privilégio promover estes encontros-debate com reconhecidas personalidades do pensamento económico. A riqueza, profundidade técnica e frontalidade do Prof. Ricardo Reis são assinaláveis.” E conclui: “Precisamos definitivamente de mais pragmatismo na decisão e de mais ambição e rigor na execução, para contrariarmos estes indicadores.”.

Rogério Carapuça, Presidente da APDC, afirma que: “vivemos tempos de profundas transformações e de enorme imprevisibilidade, ao nível mundial, europeu e nacional. Neste cenário, é essencial refletir sobre as políticas e estratégias que estão a ser implementadas e o que é preciso mudar, para garantir que temos empresas e economias mais resilientes e à ‘prova de futuro’ e maior qualidade de vida para os cidadãos. O país tem uma oportunidade sem precedentes de mudança estrutural, que não podemos perder, e o setor das TIC é essencial para a construção do amanhã. Por isso, temos todos, em colaboração e ecossistema, de refletir para tomar decisões esclarecidas e contribuir positivamente para o nosso futuro comum. Foi o que aconteceu com este debate com Ricardo Reis, que já esteve presente em maio no Congresso da APDC. Foi um grande contributo para perceber o contexto macroeconómico”.

aNOTÍCIA.pt