Varanda dos Pastores. Um miradouro para o mundo

Varanda dos Pastores, um dos miradouros naturais ícone da vertente sul/sudeste da Serra da Estrela.

Varanda dos Pastores
Varanda dos Pastores. Um miradouro para o mundo - ©Nuno Adriano

Quando falamos de verão na Serra da Estrela, a transumância e, de uma forma geral, a cultura pastoril são sempre temas que vêm à memória. E o melhor veículo para viver este espírito pastoril é caminhar até à Varanda dos Pastores, um dos miradouros naturais ícone da vertente sul/sudeste da Serra da Estrela.

O coral da Estrela

Fazendo parte integrante da PR14 – CVL, a Varanda dos Pastores configura-se como um destino dos amantes do pedestrianismo. Obviamente, foi o alvo de atenção de uma das nossas caminhadas do início de verão, onde a flora compôs o cenário e o mosaico de cores fez-nos lembrar um coral: o coral da Serra da Estrela. Iniciando a nossa aventura já a meio da pequena rota, no local onde o Piorno-da-Estrela e a sua cor amarelo ouro são dominadores, subimos em direção ao Cascalvo, marco geodésico cujas vistas superam tudo o que se possa imaginar e em que a vista 360º marca-nos para sempre: é imemorial. Será a nossa primeira amostra, o “aquecimento” do que íamos encontrar e revelar mais tarde.

A paisagem marcante

Continuamos com o nosso ritmo pausado, num cenário que faz jus ao melhor jardim que podemos encontrar, evidenciando num dos lados, a vertente Este do planalto superior da Serra da Estrela e da sua imponência única e, do outro, o planalto das Penhas da Saúde e da Pedrice. Estas duas rivalizam de forma saudável pela nossa atenção e funcionam como uma força extra que nos impulsiona a avançar sempre com a sistemática companhia das cores e dos aromas tão suaves e exclusivos da montanha.

Uma riqueza geológica

Chegamos ao Malhão da Pedrice, estrutura construída com blocos de pedra que simboliza a definição de limites territoriais, quer de freguesias ou de concelho, quer de áreas de pastorícia. Uma ilha no ‘oceano’, ao mesmo tempo útil como ponto de orientação. Obrigatória uma visita mais pormenorizada às Cascalheiras da Pedrice, que escorrem para o Vale Glaciário de Alforfa. Um geossítio que merece uma atenção especial, marcado pela existência de uma cascalheira granítica bem patente e resultante de fenómenos de crioclastia. A água e/gelo funcionam em conluio com as amplitudes térmicas, construindo um mar austero de rochas fragmentadas e angulosas e onde podemos encontrar uma flora rupícola bem adaptada a este ecossistema muito próprio.

A varanda para o mundo

Está quase a chegar. Passo a passo, aproximamo-nos do destino quando, do nada, o percurso termina numa espécie de limbo, uma varanda natural sobre uma área escarpada, um “miradouro intocável para o mundo”, como um dos nossos convidados designou. Com vista impressionante que vai desde das povoações serranas que vivem encaixadas nos vales e outras que se espalham pelos terrenos de aluvião que delimitam as várias linhas de água que jorram da Estrela. Daqui vemos a dança sintonizada de quem constrói a paisagem natural, onde os/as intervenientes de destaque são a Serra da Gardunha, do Açor, de Alvoaça, a Cova da Beira, o Rio Zêzere ou as ribeiras do Caia e de Alforfa.

A montanha está viva

O crivo do relógio é algo que faz parte da nossa vida e lembra-nos que a hora de regresso está por um fio. Na impossibilidade de continuarmos a explorar a restante rota e de voltarmos pelo mesmo trajeto, a avifauna deste território único passou a ser o foco de atenção das nossas lentes. De olhos postos no topo dos piornos e das poucas rochas que salpicam este planalto, este é o domínio, por exemplo, da Sombria, da Ferreirinha-comum, da Cotovia e do Chasco-cinzento, cujos machos começam a apresentar a sua tonalidade mais clara, sinal que o frenesim da época nupcial e de acasalamento está à porta.

Bem-haja

Ao chegarmos ao ponto de partida fica na nossa retina uma montanha que respira vida, que ainda é berço de tradições, mas que merece que aqui se prolongue para o futuro. Um território a ser protegido e respeitado por todos e que seja um símbolo máximo de orgulho para quem aqui viva e, acima de tudo, de quem a visita. Bem-haja.    

Nota importante: Em alguns dos locais mencionadas aconselha-se a visita com acompanhamento de guia.

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