Congresso da AHRESP: À conversa com Carlos Moura e Ana Jacinto sobre o evento que decorreu em Aveiro

No final do congresso da AHRESP, em Aveiro, conversámos com Ana Jacinto e Carlos Moura sobre a importância do evento e os seus impactos.

AHRESP Congresso
Congresso da AHRESP: À conversa com Carlos Moura e Ana Jacinto sobre o evento que decorreu em Aveiro - ©Armando Saldanha (Aldrabiscas)

No encerramento do congresso da AHRESP, que decorreu a 11 e 12 de outubro em Aveiro conversámos com Ana Jacinto e Carlos Moura, respetivamente Secretária-Geral e Presidente da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, para nos fazerem uma avaliação acerca deste evento, que levou à Veneza portuguesa, muitos autarcas, governantes, chefs, empresários e associados da AHRESP.

Em jeito de balanço, e sobre o congresso que agora terminou, de acordo com Ana Jacinto “As expetativas foram cumpridas e até diria superadas. Nós tivemos mais de 1500 congressistas inscritos, as pessoas participaram e estiveram connosco. Aliás, o próprio modelo do Congresso, como se aperceberam, era mesmo para que as pessoas se envolvessem e estivessem mais participativas. E nesse ponto de vista, acho que os objetivos foram alcançados e até superados.”

Quanto às perspetivas para o próximo congresso, em 2027, a secretária-geral da AHRESP, reforçou a necessidade de continuar a defender medidas essenciais para o crescimento do setor, sobretudo para as microempresas de restauração, que enfrentam dificuldades devido à diminuição da procura interna, à inflação e ao endividamento pós-pandemia.

Além disso, Ana Jacinto frisou a importância de um turismo sustentável, sublinhando que o crescimento em valor, e não apenas em número de turistas, deve ser o objetivo principal. “E quando eu digo isto, estou a falar de darmos mais território aos turistas, algo que conseguimos fazer gradualmente. Conseguimos diversificar os nossos mercados, porque estávamos com mercados sempre muito repetidos e hoje temos mercados diferentes. Temos o caso do mercado dos Estados Unidos, que tem crescido bastante, assim como o Brasil e o Canadá. Portanto, temos um cenário que, do nosso ponto de vista, é muito positivo. Acreditamos que devemos continuar a crescer, mas não significa que precisamos aumentar o número de turistas, e sim o valor que eles trazem. Esse é o caminho que devemos seguir: qualidade em vez de quantidade” concluiu.

Ana Jacinto referiu ainda que no caso do alojamento, “não está apenas a aumentar o número de dormidas e hóspedes, mas também a crescer em termos de valor e benefícios, de quem nos visita, o que também resulta, obviamente, do ajuste de preços que o alojamento teve de fazer para cobrir os seus custos No caso da restauração, esse ajuste não foi tão possível, pois a maioria depende mais do mercado interno e, portanto, essencialmente de preços. O mercado interno perdeu poder de compra, e  como disse o nosso governador [do Banco de Portugal, Mário Centeno], há escolhas que têm que ser feitas e poupanças que têm que ser feitas e, portanto, as pessoas procuram pagar aquilo que são os bens de primeira necessidade.”

Também Carlos Moura, presidente da AHRESP, mostrou-se muito satisfeito com os resultados do congresso e com expectativas altas relativamente á aceitação das propostas feitas ao Governo. “Este foi um Congresso em que procuramos juntar várias valências que impacta nas atividades que representamos, tanto no alojamento quanto na restauração. A propósito do Orçamento Geral do Estado, apresentamos 25 propostas, que discutimos com o Governo e também com os grupos parlamentares. Ontem (dia 11), tive a oportunidade de destacar 10 dessas 25 medidas, aproveitando a presença do Ministro da Economia.”

Carlos Moura destacou algumas das medidas que a AHRESP, considera mais importantes. “A primeira é seguramente a fiscalidade, que afeta transversalmente tanto do ponto de vista fiscal quanto contributivo, sobretudo em atividades de mão de obra intensiva, como o turismo, em particular o canal HORECA. Também abordamos o tema do IVA, nas bebidas, porque não é entendível que já tendo havido uma taxa intermédia aplicada a toda a fileira de alimentação, o vinho continuo a ser taxado a 23% na restauração e a 13% no retalho.”

A segunda medida é uma necessidade de mão de obra. “Precisamos de mais profissionais, e há um problema demográfico: não fazemos filhos e precisamos de gente. Como divulgado pelo governador do Banco de Portugal, 60% dos 1 milhão de novos postos de trabalho criados nos últimos 10 anos foram preenchidos por imigrantes. Precisamos que o Estado resolva a questão dos vistos e autorizações de residência nos consulados, especialmente para trabalhadores de países da América Latina, que já demonstraram interesse em vir para Portugal.” referiu Carlos Moura.

O terceiro ponto de destaque é a capitalização das pequenas e médias empresas. “Sabemos que existem fundos e apoios, mas as pequenas empresas, que compõem mais de 60% do setor de restauração e similares, não cumprem os requisitos de sustentabilidade para aceder a esses fundos. Muitas dessas empresas não têm contabilidade organizada e, por isso, nem aparecem nas estatísticas oficiais. Temos insistido com o Governo na necessidade de desenvolver os capitais próprios dessas empresas e ajudá-las a evoluir.” Sublinhou o presidente da AHRESP.

Para Carlos Moura, este Congresso foi um espaço de inovação, procurando através de várias atividades, homenagear a gastronomia. “Uma das nossas propostas e desafio é a criação de uma alta escola de gastronomia em Portugal, pois consideramos que a gastronomia é um fator distintivo para o país, capaz de prolongar a estadia dos turistas”.

A gastronomia não se limita à restauração, nem aos hotéis; é algo distintivo do nosso país. É um fator que prolonga a estadia do turista e enriquece a sua experiência. A nossa gastronomia é única, e quando bem pensado e valorizado, torna-se um grande atrativo. Com a riqueza das nossas materiais-primas, como os peixes, mariscos, carnes, legumes, frutas e azeites, além da doçaria tradicional, temos tudo para destacar o país no cenário internacional. Uma escola de excelência contribuiria para formar profissionais que preservassem e inovassem a tradição gastronômica, impulsionando-a.”

Outro desafio que Carlos Moura assumiu, foi a organização de um evento para divulgar a indústria chocolateira e os seus profissionais, industria que muita gente que não  sabe existir em Portugal.

A terminar Carlos Moura, confessou “Estamos muito orgulhosos deste Congresso, que contou com 1.542 inscritos (números à hora do encerramento). O evento foi totalmente financiado por nós, sem cobrar nada dos participantes, porque acreditamos que é um investimento no setor. Além disso, houve a presença de várias autoridades e instituições, o que demonstra uma crescente adição à nossa organização.

Artigos relacionados:

Congresso da AHRESP: Salários pagos no setor privado em Portugal aumentaram 92% em 10 anos, segundo Mário Centeno

AHRESP pede reposição da taxa intermédia de IVA e regulação das taxas turísticas