
Na essência da cozinha portuguesa, há nomes que se tornam sinónimos de tradição, paixão e autenticidade. Justa Nobre é um desses nomes. Nascida na pitoresca aldeia de Vale de Prados, em Trás-os-Montes, cresceu rodeada pelos aromas e sabores da terra. A sua ligação à gastronomia começou cedo, e foi essa paixão que a levou a tornar-se uma das mais respeitadas chefs portuguesas.
Aos 15 anos, mudou-se para Lisboa, trazendo consigo as raízes transmontanas. Começou por trabalhar numa casa particular, onde, além de cuidar de uma jovem com paralisia cerebral, foi refinando o seu talento culinário. A grande viragem na sua vida deu-se aos 21 anos, quando recebeu o convite para abrir um restaurante, o “33”, ao lado do marido, José Nobre. Durante oito anos, explorou e desenvolveu a sua paixão pela cozinha, consolidando a sua identidade gastronómica.
O desejo de inovar levou o casal a novos desafios. A experiência no restaurante “Iate Ben”, em Carcavelos, foi um trampolim para o sonho de abrir um espaço próprio. Assim nasceu, em 1988, o icónico “Constituinte”, na Rua de São Bento, um restaurante que rapidamente se tornou um marco na restauração lisboeta. “Não foi fácil, começámos com pouco dinheiro, mas conseguimos e foi um êxito”, recorda Justa.
Em 1990, deu mais um passo na sua trajetória ao inaugurar o seu primeiro restaurante “Nobre”, um espaço, em pleno coração da Ajuda, onde a cozinha portuguesa brilhou com um toque sofisticado. O sucesso levou Justa e José a abrirem outros espaços, chegando a ter oito restaurantes.
Hoje, o ‘segundo’ Nobre, localizado na Avenida Sacadura Cabral, em Lisboa, é um dos restaurantes mais famosos pela sua cozinha tradicional com um toque contemporâneo, mantendo uma clientela de muitos anos.
Entre pratos que encantam os críticos e uma clientela fiel, a chef consolidou o seu nome como sinónimo de excelência. A sopa de santola, o bacalhau à transmontana e a perna de cabrito assado tornaram-se verdadeiras referências gastronómicas.
No coração da sua cozinha, estão sempre os sabores de Trás-os-Montes. Num dia frio, quando conversámos com Justa Nobre, o aroma que preenchia o ar era inconfundível: butelo com casulas. Este prato, profundamente enraizado na tradição transmontana, é um verdadeiro abraço de conforto. O butelo, com a sua intensidade de sabores, desfaz-se na boca, enquanto as casulas, vagens de feijão secas, trazem uma textura macia e um sabor terroso que harmoniza na perfeição. Mais do que uma refeição, é uma viagem sensorial à cultura gastronómica portuguesa.
Para Justa Nobre, a gastronomia é um ato de amor e partilha. A chef tem dedicado a sua carreira a valorizar os produtos locais e a preservar as receitas tradicionais, transmitindo esse legado através dos pratos que cria e dos livros que publica. Inspirou uma geração de jovens cozinheiros, que a veem como uma referência. “Cada um tem o seu caminho a trilhar, e eu sigo o meu, fiel à cozinha portuguesa, sem necessidade de explorar outras culinárias. Sinto-me realizada”, afirma.
A sua cozinha é um espaço de memórias e afetos. A família, sobretudo o filho Filipe e os netos, são parte essencial dessa história. As visitas frequentes à aldeia natal são um regresso às origens, um reencontro com os sabores que marcaram a sua infância. “A casa é onde está a família”, diz, com um brilho nos olhos. E é na cozinha, onde a tradição se encontra com a criatividade, que a magia acontece. Justa Nobre não é apenas uma chef; é uma guardiã da alma gastronómica portuguesa.