
A Região de Turismo do Algarve (RTA) organizou a Conferência “Turismo do Algarve: superar desafios, construindo o amanhã”, que decorreu hoje, 18 de março, no Centro de Congressos do Hotel Epic Sana Algarve, na Praia da Falésia. A conferência assinalou ainda o aniversário dos 55 anos da RTA, criada a 18 de março de 1970 na figura de Comissão Regional de Turismo do Algarve.
O evento reuniu especialistas, líderes do setor e personalidades de relevo em cinco painéis de debate sobre os desafios e as oportunidades do turismo no Algarve.
A abrir a conferência de celebração dos 55 anos da Região de Turismo do Algarve, André Gomes, Presidente do Turismo do Algarve, fez uma reflexão sobre o crescimento da região nos últimos 55 anos desde a criação do Turismo do Algarve, destacando o reconhecimento internacional do destino, como o título de “Melhor Destino de Praia do Mundo” pelos World Travel Awards 2024.
André Gomes sublinhou que, além do orgulho, este prémio traz a responsabilidade de manter a competitividade e a sustentabilidade da oferta turística, destacando os números positivos de 2024, como o crescimento de 2,6% no número de hóspedes e as 20,7 milhões de dormidas.
O Presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve, enfatizou que “a sustentabilidade é uma prioridade inegociável” para a região. Sublinhou o papel fundamental do setor turístico na preservação dos recursos naturais e anunciou a expansão do selo de eficiência hídrica “Save Water” a outros setores, como o Alojamento Local e a restauração, após resultados positivos na redução do consumo de água.
André Gomes destacou ainda os resultados positivos do turismo e do Aeroporto de Faro, com aumentos significativos no número de turistas e passageiros. “2024 foi um ano de recordes”, afirmou, prevendo que o aeroporto alcance a meta dos dez milhões de passageiros em 2025. O presidente do Turismo do Algarve anunciou também o aumento da conectividade aérea, com novas rotas internacionais, incluindo voos diretos para os Estados Unidos, sublinhando que “este verão, o Aeroporto de Faro contará com 86 rotas para 75 destinos”.
No que diz respeito ao futuro do turismo na região, André Gomes referiu que o Plano de Marketing Estratégico do Turismo do Algarve (PMETA 2028) estabelece “eixos fundamentais” para o setor, focando na qualidade, inovação e benefícios para os residentes. “Queremos afirmar o território pela qualidade e inovação, pela preservação e valorização dos seus recursos naturais e patrimoniais, e pela criação de benefícios económicos para os residentes”, reiterou.
No encerramento da sua intervenção, André Gomes convidou todos a imaginar um futuro para o Algarve como um destino turístico competitivo, sustentável e reconhecido internacionalmente, com uma oferta diversificada ao longo do ano, que valorize a cultura, a gastronomia, a natureza e a hospitalidade da região.
Francisco Calheiros, Presidente da Confederação do Turismo de Portugal, que também participou na conferência, destacou que, em 2024, o Algarve ultrapassou a marca dos 5,2 milhões de hóspedes e 20,7 milhões de dormidas, consolidando-se como a região com o maior número de dormidas do país. Calheiros elogiou o investimento estratégico da região na diversificação da oferta turística, como o turismo de natureza, que se reflete em iniciativas como a Rota Vicentina e a Rota do Guadiana, atraindo visitantes durante todo o ano. A gastronomia, baseada na Dieta Mediterrânica, foi igualmente apontada como um dos pilares que posicionam o Algarve como um destino de referência.
No que respeita ao futuro, Calheiros sublinhou a importância da sustentabilidade e da gestão equilibrada dos recursos naturais, para assegurar que o turismo continue a crescer de forma inovadora e responsável. Alertou ainda para a necessidade de estabilidade política em Portugal, para que investimentos cruciais, como a privatização da TAP, a construção do novo aeroporto e a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), não sejam comprometidos, uma vez que estão diretamente ligados ao sucesso do setor turístico.
Já Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), na sua intervenção manifestou a convicção de que a TAP não traria nenhum benefício para o Algarve, argumentando que, sem um hub na região, a companhia aérea não conseguiria competir com as companhias low cost.
De igual forma o presidente da APAVT, defendeu que o Aeroporto de Faro é, sem dúvida, o farol da mobilidade algarvia, mas a região debate-se com um problema grave: a falta de capacidade para se movimentar internamente.
“Considero que o Algarve tem valências, do ponto de vista da mobilidade, assim como fragilidades importantes que deverão ser revistas. Entre as valências, o aeroporto é o maior ativo, contudo, aponto a mobilidade interna como uma das maiores fragilidades na região”, sublinhou Costa Ferreira.
A falta de transportes públicos eficientes está a ter um impacto devastador na hotelaria, dificultando o acesso dos trabalhadores aos seus locais de trabalho. “Isto reflete-se na hotelaria, porque os recursos humanos não podem morar perto dos hotéis, por uma questão de ordenamento de território, e, portanto, têm que morar longe dos hotéis, mas sem transportes torna-se difícil”, explicou o presidente da APAVT.
A escassez de recursos humanos coloca em risco a qualidade do serviço turístico, alertou Costa Ferreira, que considera urgente encontrar soluções para este problema.
A ferrovia é outro ponto fraco do Algarve, segundo Costa Ferreira. “Uma das ameaças que o Algarve enfrenta é a crescente consciência ambiental do consumidor – que o pode afastar dos voos de curto curso. Esta tendência seria uma oportunidade para a TAP ter uma maior capacidade de intervenção na região, se houvesse uma boa ferrovia que chegasse à cidade”, afirmou. O presidente da APAVT defendeu uma ligação ferroviária entre Faro e a Andaluzia, em vez de Madrid, por considerar que seria mais benéfico para ambas as regiões.
As declarações de Pedro Costa Ferreira, juntamente com as reflexões de André Gomes e Francisco Calheiros, evidenciaram a complexidade do cenário turístico algarvio. Se, por um lado, o Aeroporto de Faro se consolida como um motor de crescimento e a região celebra os seus 55 anos com números recordes, por outro, a mobilidade interna e a ferrovia emergem como obstáculos que exigem soluções urgentes.
A conferência “Turismo do Algarve: Superar Desafios, Construindo o Amanhã” serviu, assim, como um palco de debate crucial, onde especialistas e líderes do setor partilharam visões e preocupações. A celebração do passado, marcada pelo crescimento e reconhecimento internacional do Algarve, deu lugar a uma reflexão profunda sobre o futuro.
A sustentabilidade, a inovação e a estabilidade política foram apontadas como pilares para um turismo algarvio competitivo e responsável. No entanto, a necessidade de ações concretas para melhorar a mobilidade interna e a ferrovia ressoou como um apelo unânime.
O futuro do turismo no Algarve dependerá, em grande medida, da capacidade da região em transformar os desafios em oportunidades, garantindo que o seu crescimento seja não apenas sustentável, mas também inclusivo e benéfico para todos os que aqui vivem e visitam. A conferência encerrou com um sentimento de urgência e um compromisso renovado de construir um Algarve ainda mais forte e resiliente, capaz de enfrentar os desafios do futuro e de continuar a encantar o mundo.
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