Terras Sem Sombra – O encontro improvável entre o Cante Alentejano e o Flamenco, em Sevilha.


A “embaixada cultural” alentejana que apresentou o festival Terras Sem Sombra em terras andaluzas terminou com “Imenso Sul”, o concerto que juntou dois Patrimónios Imateriais da Humanidade – o Cante Alentejano e o Flamenco -, no Consulado de Portugal em Sevilha.

O Rancho dos Cantadores de Aldeia Nova de S. Bento, acompanhados pela viola campaniça de Pedro Mestre e os Cantadores do Desassossego, a que se juntaram o Flamenco na voz da sevilhana Esperanza Fernández e a viola de gamba de Fahmi Alqhai, proporcionaram um concerto único que terminou em apoteose.

“Toda a gente saiu de alma cheia. O cante sai da sala cantando, os cantadores satisfeitos, harmoniosos e acabam com força e vontade de continuar”, palavras de Pedro Mestre no final do concerto. Pedro sublinharia ainda que “é, sem dúvida, sempre gratificante” o Cante poder envolver outras realidades como o Flamenco e a viola campaniça em cantes alentejanos como os “cantes de trabalho, lazer e convívio”.

Não menos emocionado e satisfeito, mestre Francisco Torrão, dos Cantadores do Desassossego, dizia-nos que tinha sido “extremamente importante” a apresentação, a qual “aproxima mais” o Alentejo e a Andaluzia. “Foi muito gratificante verificar que não tem havido um processo de aculturação. Foi relevante escutar uma andaluza a cantar modas alentejanas. De facto, a música é universal e aproxima os povos”, fez ainda questão de sublinhar.

Esperanza Fernández, por seu turno, sublinhou que se encontrava “orgulhosa e como em casa outra vez” relembrando que já em 2005 havia tido a “sorte” de ter tido uma experiência “fantástica” com um coro alentejano.

Para Juan Angel del Campo, diretor artístico do festival, foi “uma noite mágica, distinta de tudo”. O Cante Alentejano causou “uma grande sensação” pelo “poder das vozes baixas” e pela “capacidade de comunicação” que têm os seus cantadores.

“Tudo se uniu a uma cantadora mítica como Esperanza Fernández. O público, e eu em primeiro, levamos as mãos aos olhos porque estávamos a chorar de emoção”.

“O concerto traduziu-se por elevado nível artístico, não era fácil. Existe aqui uma herança comum, há um fundo lírico e também um conjunto de manifestações que a ele estão associadas que convergiram com uma grande facilidade”, dizia-nos José António Falcão, diretor-geral do Terras Sem Sombra, que acrescentou “existe um imenso Sul” que também invade a música e iluminou quem assistiu a este concerto no Consulado-Geral de Portugal, em Sevilha.

“Do espiritual na arte – Identidades e práticas musicais na Europa dos séculos XVI-XX” é o tema do Festival Terras Sem Sombra que irá ter lugar de 11 de fevereiro a 1 de julho nos municípios de Almodôvar, Sines, Santiago do Cacém, Ferreira do Alentejo, Odemira, Serpa, Castro Verde e Beja.