Comissariada por Catarina Alfaro, curadora e coordenadora da programação e conservação da Casa das Histórias Paula Rego, a exposição “Mudam-se as histórias, mudam-se os estilos“ apresenta uma cuidadosa selecção de obras da autoria de Paula Rego que integram a Colecção da Câmara Municipal de Cascais / Fundação D. Luís I / CHPR, além de obras que integram importantes colecções privadas nacionais, para oferecer ao público uma visão perspetiva do seu percurso criativo, desde a década de 1950 até aos últimos anos de produção artística.
Através da exposição de mais de uma centena de obras, a mostra descortina o processo criativo de Paula Rego ao longo de sete décadas, para evidenciar como foi capaz de construir um território figurativo único e pessoal, onde as histórias funcionam, desde as suas primeiras criações, como verdadeiras estruturas realistas.
“Paula Rego pintou para contar e foi, ao mesmo tempo, personagem e narradora de histórias intemporais, reinscrevendo-as no seu próprio tempo. A sua personalidade insubmissa e o combate pela afirmação da auto-expressão levaram-na a declarar independência face aos movimentos artísticos do seu tempo e a uma redefinição constante da sua linguagem figurativa”, afirma Catarina Alfaro, curadora da exposição, que ocupará todas as salas do emblemático edifício projectado pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura, destinadas à apresentação de exposições temporárias.
Além de pinturas e desenhos a óleo, tinta acrílica, guache, aguarela, pastel, lápis de cera e de cor sobre os mais variados suportes, colagens, tapeçaria, serigrafias, água-forte e água-tinta, para listar apenas alguns dos materiais e técnicas que Paula Rego utilizou durante a sua longa carreira, a exposição apresenta também cerca de 18 estudos em tinta da China sobre papel executados por Paula Rego para algumas das pinturas que viria depois a realizar.
As décadas de 1960 e 1970, dentro do panorama da obra de Paula Rego, são caracterizadas pela exploração de práticas experimentais, que estarão na origem da construção do seu universo simbólico particular. Nesse período, com a inclusão elementos autorreferenciais ou autobiográficos, refletiu e confrontou nas suas telas a complexidade das questões da época: a rigidez da realidade política e social sob um regime ditatorial, patriarcal e católico, e a multiplicidade de sensações que isso causava, do medo, à ansiedade e à raiva.
É também nessa altura que Paula Rego reclama a sua autonomia perante os movimentos artísticos do seu tempo, uma especificidade que a sua obra manteria até ao final. Nos anos de 1980, esse sentido de liberdade em relação às convenções impostas ao modo de “fazer arte” intensificar-se-ia, resultando numa reformulação do seu processo criativo e no estabelecimento de uma linguagem visual radicalmente nova, para contar as suas histórias através da pintura.
Nas décadas seguintes, a sua metodologia de trabalho tornar-se-ia paulatinamente ainda mais complexa e arrojada, com o uso de modelos vivos ou bonecos tridimensionais, rigorosamente vestidos e posicionados entre objectos e adereços para construir a história e compor tactilmente a cena a ser transportada para a tela. “A dimensão narrativa, sempre presente na sua obra, é organizada a partir da vivacidade e solidez do seu mundo imaginário“, observa a curadora.
Obras como “Noite” (1954), “Batalha de Alcácer-Quibir” (1966), “O cerco” (1976), “Os Amantes” (1982), “Madame Butterfly” (c. 1985), “Branca de Neve no cavalo do Príncipe“, (1995), ”Príncipe Porco e a sua primeira noiva” (2006), que poderão ser vistas pelo público de 13 de julho de 2023 a 31 de março de 2024 em “Mudam-se as histórias, mudam-se os estilos”, evidenciam a personalidade insubmissa de Paula Rego e a sua determinação por uma expressão artística livre de amarras e convenções, que a levaram a uma redefinição constante da sua linguagem figurativa e à criação de telas composicionalmente complexas, que abrangem contextos narrativos e inspirações muitíssimo diversificados.