Camarada Cunhal: A histórica evasão de Peniche

A histórica fuga de Álvaro Cunhal em 1960 da prisão de Peniche: a ousadia que desafiou um regime e marcou a luta pela liberdade.

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Cunhal
Camarada Cunhal: A histórica evasão de Peniche - @Armando Saldanha (Aldrabiscas)

A noite da passada segunda-feira ficou marcada pela antestreia do aguardado filme “Camarada Cunhal”, uma obra cinematográfica que revisita um dos momentos mais audazes da história portuguesa: a fuga espetacular de Álvaro Cunhal e outros militantes da prisão de Peniche. O evento, que decorreu em Lisboa, contou com a presença do elenco e de Adelino Cunha, autor do livro que inspirou o filme.

Com o ator Romeu Vala a dar vida a Álvaro Cunhal, o filme promete ser um retrato intenso de um homem que se tornou um símbolo da luta pela liberdade. “Quando fui convidado para o papel, senti um aperto na barriga,” confessa Romeu Vala. “Pela figura que Álvaro Cunhal é, enquanto ator, ter a possibilidade de interpretá-lo é algo significativo. Independentemente de questões ideológicas – com as quais as pessoas podem concordar ou não –, há um facto inegável: Álvaro Cunhal foi um dos principais fundadores da nossa democracia e dedicou toda a sua vida à liberdade do povo. Isso, à partida, foi o maior privilégio que senti ao ser escolhido para este papel.” O filme denuncia a repressão da ditadura, as condições desumanas da prisão e a engenhosidade da comunicação entre os presos e o exterior, que culminou na audaciosa fuga com a ajuda de um guarda da GNR.

A estreia de “Camarada Cunhal” surge num ano particularmente significativo, assinalando uma década desde a morte de Álvaro Cunhal (1913-2005). A produtora Sky Dreams apresenta o filme como uma oportunidade crucial para que a nova geração de portugueses possa conhecer “um dos momentos mais decisivos da História e um dos protagonistas mais emblemáticos da luta pela liberdade”. O filme centra-se, sobretudo, na fuga de Álvaro Cunhal e de outros militantes comunistas, em janeiro de 1960, da Fortaleza de Peniche, que tinha sido transformada em prisão política pelo regime de Salazar.

Na construção deste retrato multifacetado, o filme não esquece a brutal tortura a que Cunhal foi sujeito, a sua notável capacidade de organização política dentro dos muros da prisão e a sua produção intelectual, registada em inúmeros cadernos. Sobre a fidelidade da representação, Romeu Vala afirma: “Acredito que o filme transmite, na sua perspetiva, com bastante exatidão o que se passou. Tentámos reproduzir ao máximo todos os detalhes, baseando-nos em toda a vasta documentação e material existente. O nosso objetivo foi recriar a realidade dos acontecimentos. Houve apenas um pequeno pormenor que, idealmente, teria sido diferente: gostaríamos de ter filmado algumas cenas na prisão de Peniche, onde Cunhal esteve preso, mas infelizmente não foi possível. Lamento isso, pois acredito que teria proporcionado a nós, atores, uma sensação ainda mais crua daquele ambiente, por estarmos num local onde ele e outros camaradas estiveram detidos. Isso teria adicionado uma carga emocional mais forte. Filmámos noutra prisão, o que não foi problemático, mas sinto que Peniche teria sido especial. No geral, creio que o filme retrata com bastante fidelidade o que aconteceu.”

Após onze longos anos de encarceramento e a icónica fuga de Peniche, Álvaro Cunhal ascendeu à clandestinidade, sendo eleito secretário-geral do PCP em 1961, cargo que ocupou até 1992. “Camarada Cunhal” junta-se a outros filmes de cariz biográfico e histórico de sucesso da Sky Dreams, como “Soares é fixe” (2024) e “Salgueiro Maia — O Implicado” (2022), todos realizados por Sérgio Graciano, solidificando a sua aposta em revisitar figuras e momentos cruciais da história de Portugal. Romeu Vala antecipa ainda um aprofundamento da figura de Cunhal: “Pessoalmente, e aguardando a opinião do público, senti, após a visualização, que queria ver mais, queria saber mais. Isso é um bom sinal. Se as pessoas sentirem que poderíamos ter aprofundado ainda mais, é porque este filme serve como prelúdio para uma série posterior, intitulada ‘Homens de Honra’. Essa série irá abranger a vida de Álvaro Cunhal desde os seus sete anos até o pós-25 de Abril. Portanto, se o público sair do filme com vontade de saber mais, é positivo, pois poderá acompanhar a série na RTP. ‘Homens de Honra’ também aborda toda a sua vida, desde os sete até aproximadamente os setenta e poucos anos. Eu interpreto Cunhal durante um longo período, mas há também o Santiago André, que faz o Cunhal mais jovem, e o Victor de Andrade, que o interpreta a partir do pós-25 de Abril, quando ele regressa do exílio.”

Após onze longos anos de encarceramento e a icónica fuga de Peniche, Álvaro Cunhal ascendeu à clandestinidade, sendo eleito secretário-geral do PCP em 1961, cargo que ocupou até 1992. “Camarada Cunhal” junta-se a outros filmes de cariz biográfico e histórico de sucesso da Sky Dreams, como “Soares é fixe” (2024) e “Salgueiro Maia — O Implicado” (2022), todos realizados por Sérgio Graciano, solidificando a sua aposta em revisitar figuras e momentos cruciais da história de Portugal.

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