“Viva Termas Centro” – o mais antigo hospital termal do mundo é nas Caldas da Rainha

No passado dia 11 realizou-se a penúltima ação do “Viver as termas” na agradável e emblemática cidade de Caldas da Rainha.

“Viva Termas Centro” - Jardim inacabado, Caldas da Rainha

Há semelhança de outras iniciativas das termas do centro, o dia iniciou-se com um percurso pedestre, desta feita, pela Mata Rainha D. Leonor. Situada na área envolvente do complexo hospitalar, disfrutámos das frondosas alamedas, onde se encontra reunido um significativo conjunto de flora e avifauna, mostrando que a convivência entre a cidade e a natureza, é possível e desejável. É nesta Mata que se encontram os importantes recursos aquíferos subterrâneos, de valor inestimável para as Termas, e cuja necessidade de proteção, ditaram a sua construção.

O percurso pedestre veio a terminar no Parque D. Carlos I, onde a Companhia Persona nos aguardava para interpretar, de forma magistral, o “Mistério no Parque Termal”.

O Parque D. Carlos I foi idealizado e concebido pelo arquiteto e administrador do Hospital Termal, Rodrigo Berquó, como uma área de convalescença e recreio para quem frequentava o Hospital Termal, cujas aguas, já nessa época, eram reconhecidas pela sua qualidade.

Construídos de frente para o lago do Parque, pela sua imponência, não passam despercebidos os “Pavilhões do Parque”, que começaram a ser edificados em 1893 com a finalidade de virem a ser o Hospital D Carlos, o que nunca veio a acontecer.

Hoje estes pavilhões, em franco estado de degradação, estão ao abandono, esperando-se que por pouco tempo, já que foram concessionados à Visabeira. A empresa propõe-se investir 15 milhões de euros na construção de um hotel de cinco estrelas. Recentemente Fernando Tinta Ferreira, Presidente da Camara Municipal das Caldas da Rainha, em entrevista à Lusa, sublinhou “a relevância deste investimento” que, além da requalificação, irá permitir “ao fim de mais de um século que os pavilhões tenham um uso parecido com aquele que Rodrigo Berquó [arquiteto] lhes quis dar”.

A manhã tinha passado num ápice! O pouco tempo que restava até à hora de almoço, tinha de ser aproveitado e havia duas experiências que ninguém queria perder. Uma, os “Jogos do Hélder”, instalados no Largo Termal, que incentiva miúdos e graúdos a treinar a destreza e a agilidade mental. A outra, situado no Posto de Turismo, a Oficina dos Cartazes, que sob a orientação de Bruno Borges, proporcionava a criação de cartazes de sensibilização à comunidade para as propriedades terapêuticas desta agua termal que cheira mal, mas cura!

A parte da tarde começou com a visita ao Hospital Termal mais antigo do mundo. Criado por vontade da Rainha D. Leonor que, segundo a lenda, conheceu estas aguas quando por mero acaso terá visto pessoas a banharem-se em aguas quentes com cheiro intenso que brotavam do solo. D. Leonor desde logo se terá apercebido (e, diz-se, usufruído) dos benefícios curativos das Águas, tendo criado uma unidade hospitalar assistencial baseada em tratamentos termais, a pensar sobretudo nos mais necessitados. Para atender ao hospital, a soberana concedeu foral à povoação que, entretanto, se formou em torno dele e a qual começou a ser conhecida como Caldas da Rainha.

O hospital, concluído cerca de 1488, segundo as lendas, recebeu o nome de Nossa Senhora do Pópulo, por se destinar ao atendimento do povo. Presentemente desse hospital, resta apenas a Igreja da Nossa Senhora do Pópulo.

Dora Mendes, técnica do Museu do Hospital e das Caldas, foi a nossa brilhante cicerone. Começámos pela “Piscina da Rainha” que “é uma nascente natural de agua termal e que nos dias de hoje é apenas um espaço museológico”, segundo Dora. Destacando a remodelação do hospital aquando da passagem de D. João V, pela cidade, para usufruir das aguas, assim como a reestruturação, durante a administração de Rodrigo Berquó, das quais se destaca o acréscimo do terceiro piso, subimos ao Salão Nobre e à zona das inalações. Estas instalações serão as primeiras a entrar em funcionamento quando da reabertura do Hospital Termal, previsto para 2018. Dora Mendes esclareceu que “já a zona de banhos, que tem tratamentos diferenciados de banheiras e de duches, não será das primeiras zonas a reabrir do Hospital, mas ficamos a perceber como as coisas funcionavam até pouco tempo atrás”.

Depois do Hospital Termal, não podíamos deixar de visitar a Igreja Nossa Senhora do Pópulo, classificada como Monumento Nacional desde 1911. Construída inicialmente como capela privada do Hospital Termal, foi elevada a Igreja Matriz, devido ao rápido crescimento da localidade.

Da autoria do Mestre Mateus Fernandes, a Igreja Nossa Senhora do Pópulo, é um dos primeiros edifícios onde se pode encontrar indícios do estilo Manuelino e pela riqueza de pormenores que, quer no interior quer no exterior, tem ainda a particularidade de a capela-mor ter sido erguida sobre uma das nascentes termais.

Do outro lado da rua encontramos O Museu do Hospital e das Caldas que nos propõe uma viagem pela história daquele que é considerado o mais antigo Hospital Termal do mundo e da localidade que o mesmo ajudou a fundar.

Inaugurado em 1999, este espaço museológico, cujo espólio nos remete para a história da instituição hospitalar, das atividades termais ali praticadas e da própria localidade, exibe uma grande variedade de elementos documentais, artísticos, religiosos e científicos ligados à história daquela instituição e de Caldas da Rainha.

A tarde já ia longa, mas ainda houve tempo para, apreciarmos a gastronomia regional num workshop de degustação, com o chefe João Sá, acompanhado do nutricionista Pedro Botelho. Todas as receitas (crumble vegetais, babaganoush, hummus e molho de iogurte e ervas frescas com legumes), confecionadas com vegetais, oriundos da região Oeste, permitiram aos participantes aprender a aliar a tradição gastronómica regional a uma dieta saudável.

A noite caiu e no Largo Dr. Jose Barbosa, a banda de Coimbra “Birds Are Indie”, apresentaram temas dos últimos trabalhos, intercalados com alguns novos, que irão fazer parte do próximo álbum.

Os Birds Are Indie juntaram-se em 2010, ano em que gravaram “Life is Long”, o seu primeiro EP. Até hoje a sua discografia é constituída por 4 EP e 3 albúns, sendo o último, “Let’s Pretend The World Has Stopped”, considerado um dos discos do ano (2016) por alguma da imprensa especializada.

A terminar a noite foi a vez de ver e ouvir “O Som das Estrelas”, que conta a história de uma estrela cadente que foge da rotação normal do universo e desagua no planeta terra. Esta performance esteve a cargo da Associação Cultural Nuvem Voadora.

Esta foi mais uma das iniciativas do “Viva Termas Centro”, desenvolvida pelas Termas do Centro, tendo como objetivo dinamizar as estâncias termais da região centro, proporcionando fins-de-semana preenchidos com “um dia cheio de atividades diferentes e gratuitas para toda a família”.

O ciclo que teve início a 2 de julho em Castro Daire, nas Termas do Carvalhal e percorreu as 22 termas abrangidas pelas Termas do Centro, terminou no passado fim-de-semana nas Termas de Almeida Fonte Santa, no distrito da Guarda. Além de dinamizar a vertente turística das várias estâncias termais da região centro, dando a conhecer não só as termas, mas também os benefícios das suas águas, esta ação de divulgação pretende desmistificar a ideia de que ir às termas é uma atividade exclusiva dos seniores. A iniciativa também proporciona uma ‘experiência termal’ para que as pessoas possam perceber o que pode ser feito no espaço termal sem consulta médica.

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