O OSCAR QUE PORTUGAL MERECE

Passadas algumas semanas sobre a entrega dos famosos prémios da academia de cinema norte-americana, vale a pena refletir sobre o papel (até à data inexistente) da cinematografia Portuguesa naquela que é considerada a meca do cinema mundial.

Passadas algumas semanas sobre a entrega dos famosos prémios da academia de cinema norte-americana, vale a pena refletir sobre o papel (até à data inexistente) da cinematografia Portuguesa naquela que é considerada a meca do cinema mundial.

Desde o lançamento do documentário de Joaquim Pinto E agora? Lembra-me (2014), que Portugal soma um novo recorde na academia de Hollywood: Maior número de rejeições na submissão de candidato ao óscar de melhor filme estrangeiro. À data, contamos com nenhuma nomeação entre 31 candidaturas, desde 1980.

Curiosamente, quase um terço dos filmes submetidos foram realizados por Manoel de Oliveira, cineasta aclamado em praticamente todas as competições cinematográficas mundiais, à exceção, claro está, da americana.

Não obstante, Portugal vai estando presente na cerimónia: O óscar técnico já foi entregue duas vezes a Carlos de Mattos, um português nascido em Luanda, e emigrado para os Estados- Unidos aos 18 anos.

Os prémios atribuídos ao português em 1983 e 1986 salientaram a invenção de um tipo de grua especial (A tulip crane, utilizada em filmes como E.T- o extraterrestre), e uma câmara operada por controlo remoto, presente em Cotton Club e África Minha.

De resto, a face mais visível de Portugal na cerimónia, tem sido o brilhante diretor de fotografia Eduardo Serra, trabalhando regularmente na indústria americana, e nomeado ao longo dos anos por As asas do amor (1997), e A rapariga com brinco de pérola (2003).

Merece também destaque a nomeação de Daniel Sousa, português residente nos Estados-Unidos desde 1986, com a curta-metragem de animação, Feral. Embora não conte como uma nomeação Portuguesa, o seu realizador nasceu em terras lusas.

Não obstante, o nosso país já foi citado inúmeras vezes no contexto de filmes americanos célebres, sendo Casablanca (1942) o mais notório. De forma indireta, podemos até dizer que Portugal já ganhou um dos óscares principais, como exemplifica o Actor Spencer Tracy na sua vitória em 1937 com um personagem português em Captain courageous.

Mesmo assim: 31 submissões, 0 nomeações.

A razão principal para esta aparente inépcia do nosso cinema em impressionar a academia, pode prender-se com dois fatores fundamentais: De ser um cinema em que os principais moldes formais (entenda-se estética e abordagem às histórias) não se coadunam de todo com o que a academia americana considera essencial na forma como se apresenta uma narrativa, ou, de abordar muitas vezes histórias/fenómenos internos, que pouco, ou nada dizem a um espectador além-fronteiras (e por vezes, aquém-fronteiras).

Eventualmente, um dos obstáculos a ultrapassar poderia ser o conseguir universalizar os conteúdos abordados, e produzir reais adaptações para cinema de conteúdos de outras fontes (principalmente literários), não significando essa mudança um descarte de valores artísticos na obra fílmica em geral.

No fundo, trata-se de um processo de reformulação na escrita de argumento e de uma abordagem estética ao cinema português que se afaste um pouco dos exemplos de cinema Europeu dos anos 40, 50 e 60 que tenta muitas vezes emular ou homenagear. Nomeadamente o francês.

Porém, tem-se vindo a acentuar nos últimos anos uma certa produção de cinema documental, tal como o já referido filme de Joaquim Pinto, e, sobretudo, José e Pilar (2010) de Miguel Gonçalves Mendes. Este último, apresentou – se (pelo menos, aparentemente) como uma séria candidatura ao óscar de melhor filme estrangeiro nesse ano. Mas não.

Apesar destes desequilíbrios, é de saudar a tentativa de aproximação pelo cinema nacional a um público mais vasto, como demonstram os exemplos das recentes adaptações de O pátio das cantigas e O leão da estrela.

Embora questionáveis os seus méritos como objetos cinematográficos, saliente-se a vasta adesão do público nacional a este modelo de cinema que acaba por confirmar – pelo menos nestes dois exemplos – que por vezes, os velhos modelos são os que resultam melhor.