Prémio Gulbenkian para a Humanidade, atribuído à liderança climática e trabalho com indígenas

O "Prémio Gulbenkian para a Humanidade" distinguiu três personalidades, da Indonésia, dos Camarões e do Brasil.

Prémio Gulbenkian para Humanidade
Prémio Gulbenkian para a Humanidade, atribuído à liderança climática e trabalho com indígenas - ©Armando Saldanha (Aldrabiscas)

Três personalidades da Indonésia, Camarões e Brasil receberam, esta quarta-feira, o prémio Gulbenkian para a Humanidade, no valor de um milhão de euros. Os vencedores foram escolhidos pela sua liderança e trabalho incansável, ao longo de décadas, no restauro de ecossistemas vitais – florestas, paisagens e mangais -, e na proteção de territórios em conjunto com as comunidades locais.

Este ano, a Gulbenkian atribuiu o prémio a três personalidades, nomeadamente a Bandi ‘Apai Janggut’, líder da comunidade Sungai Utik na Indonésia, a Cécile Bibiane Ndjebet, natural dos Camarões e defensora da igualdade de género e do direito das comunidades à floresta e aos seus recursos naturais, e a Lélia Wanick Salgado, uma ambientalista, designer e cenógrafa brasileira.

O júri, liderado pela antiga chanceler alemã Angela Merkel, selecionou estas três personalidades entre 143 nomeados, oriundos de 55 países, de todos os continentes.

O Presidente da República afirmou hoje que o Prémio Gulbenkian para a Humanidade, que este ano distinguiu três personalidades que contribuiram para mitigar o impacto das alterações climáticas, dá a conhecer “famosos por aquilo que fazem no seu anonimato”.

“E o que há de comum entre todos estes premiados? É que eles são famosos por aquilo que fazem no seu anonimato e não famosos pela sua fama mediática”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa na cerimónia de entrega do prémio, em que também marcou presença o primeiro-ministro, António Costa.

Um dos vencedores, Bandi “Apai Janggut”, líder da comunidade indígena Dayak Iban Sungai Utik Long House, situada na floresta tropical de Kalimantan, na Indonésia. É conhecido como o “guardião” da floresta de Dayak Iban pelo seu combate ambiental, de quatro décadas, contra a desflorestação ilegal, a produção de óleo de palma e os interesses corporativos, conduzindo a sua comunidade na luta pelo direito à terra que habita.

De acordo com um estudo conduzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 2019, durante mais de 130 anos o povo da Dayak Iban tem gerido de forma sustentável a sua terra, tendo sempre negado ofertas de empresas privadas.

Em 2020, o governo indonésio concedeu o direito de propriedade de 9 453,3 hectares à comunidade Dayak Iban, que atualmente está presente na aldeia Sugai Utik, Batu Lintang, no distrito Embaloh, na regência Kapuas Hulu, e em Kalimantan ocidental.

Uma das outras vencedoras do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, Cécile Bibiane Ndjebet, é natural dos Camarões, co-fundadora da Cameroon Ecology e presidente da Rede de Mulheres Africanas para Gestão Comunitária de Florestas.

Durante mais de 30 anos, Cécile lutou pela igualdade de género e o direito das comunidades à floresta e aos seus recursos naturais. Ao PNUD, disse que “as mulheres estão realmente a conduzir a restauração. Elas mantêm a floresta viva. Não podemos ter sucesso se trabalharmos isoladamente. O nosso trabalho é trazer todos a bordo.”

Cécile tem liderado os esforços para influenciar políticas de igualdade de género na gestão das florestas em 20 países africanos. É também membro ativo da UN Women Major Group e uma reconhecida advogada para o direito das mulheres à terra em várias redes globais. O seu trabalho inclui a mobilização das mulheres que, em zonas rurais, se dedicam ao restauro dos mangais ao longo da costa de Camarões, tendo conduzido à restauração de mais de 650 hectares de terra em degradação.

Em 2000, fundou a Cameroon Ecology, uma organização não governamental empenhada em promover a gestão dos recursos naturais, a governança local e o desenvolvimento económico. Em 2009, fundou a African Women’s Network for Community Management of Forests (REFACOF), uma rede regional de 17 países da África Central e Ocidental. É também membro de vários outros grupos multilaterais e de iniciativas focadas na conservação e restauro da floresta e na igualdade de género.

A outra vencedora do prémio foi Lélia Wanick Salgado, ambientalista, designer e cenógrafa brasileira. Estudou arquitetura e planeamento urbanístico em Paris. O seu interesse pela fotografia surgiu em 1970 e, nos anos 80, começou a trabalhar na conceção e design da maior parte dos livros de fotografia de Sebastião Salgado, seu marido, e de todas as suas exposições. Um destes livros chama-se “Amazónia” e documenta cerca de 58 viagens que o casal fez à floresta tropical Amazónia entre 1980 e 2019.

No fim dos anos 90, Lélia e Sebastião criaram o Instituto Terra, uma organização não governamental dedicada à reflorestação, conservação e educação ambiental no Vale do Rio Doce, Brasil. A instituição, serve também de programa de captação de recursos, criado para pessoas jurídicas (empresas de pequeno e médio porte), e localiza-se na floresta tropical da Mata Atlântica. Já plantou quase três milhões de árvores e tornou-se uma referência mundial em termos de restauro dos ecossistemas e de recuperação e preservação ambientais.

O Prémio Gulbenkian para a Humanidade distingue pessoas ou organizações que contribuem com a sua liderança para enfrentar os grandes desafios atuais da humanidade – as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. No valor de um milhão de euros, divididos equitativamente pelos três vencedores, Bandi, Cécile e Lélia poderão usar este dinheiro para consolidar os seus esforços ou apoiar novos projetos de restauro.

O prémio, que vai na quarta edição, teve como vencedores nas edicões transactas Greta Thunberg, ativista sueca, em 2020, o Pacto de Autarcas para o Clima e Energia, a maior aliança global para a liderança climática das cidades foi vencedor, em 2021, e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos, em 2022.

aNOTÍCIA.pt