Dia de luto nacional na despedida de Mestre Manuel Cargaleiro

Tendo vivido em Paris desde 1957, Manuel Cargaleiro nunca deixou que o cosmopolitismo significasse desenraizamento.

Manuel Cargaleiro
Dia de luto nacional na despedida de Mestre Manuel Cargaleiro - ©Armando Saldanha (Aldrabiscas)

As exéquias fúnebres de Manuel Cargaleiro, que faleceu este domingo, aos 97 anos, terão início hoje, dia 2 de julho às 12h00 horas, com celebração de Missa de Corpo Presente na Igreja de São Tomás de Aquino. O funeral será reservado à família.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou o seu pesar pela morte do pintor, ceramista e escultor português, referindo que “Tendo vivido em Paris desde 1957, Manuel Cargaleiro nunca deixou que o cosmopolitismo significasse desenraizamento. Prova disso é a memória das imagens e das cores da Beira Baixa na sua obra, nomeadamente a lembrança das mantas de retalhos; prova disso igualmente a empenhada presença do artista na região onde nasceu, através da Fundação e do Museu Cargaleiro.”

Marcelo lembra ainda que “Mestre Cargaleiro deixou a sua assinatura em igrejas, jardins ou estações de metro, e em inúmeras peças tão geométricas e cromáticas como as de outros artistas cosmopolitas que viveram em Portugal”, acrescentando: “Por isso, tendo estado fora décadas, continuou a sentir-se, e continuámos a senti-lo, um artista português”.

Manuel Cargaleiro nasceu em março de 1927, em Chão das Servas, Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco. Aqui criou a Fundação Manuel Cargaleiro, com o objetivo de dar origem a um museu dedicado à sua obra, o que aconteceu em 2005, com base num acervo de cerca de 10 mil peças.

Sucedeu-se, cerca de uma década mais tarde, a Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, no Seixal, num edifício concebido por Álvaro Siza, para a divulgação e estudo da obra do artista. Em Itália, existe a Fondazione Manuel Cargaleiro, assim como o Museo Artistico Industriale Manuel Cargaleiro, em Vietri sul Mare, Salerno, com os mesmos objetivos.

Detentor de uma obra marcada pela inspiração no azulejo português, com composições complexas e jogos intensos de luz e cor, Manuel Cargaleiro está representado em coleções nacionais e internacionais.

Foi condecorado como comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal, em 1983, Officier des Arts et des Lettres, de França, em 1984, recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Mérito em 1989, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, em 2017.

O ceramista recebeu, em Paris, em 2019, a medalha de Mérito Cultural do Governo português e a Medalha Grand Vermeil, a mais alta condecoração da capital francesa, onde viveu grande parte da sua vida. No ano passado recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Camões.

Na altura, foi também inaugurada a ampliação da estação de metro de Champs Elysées-Clémenceau, com novas obras de Manuel Cargaleiro, depois de ser originalmente concebida e totalmente decorada pelo artista português, em 1995, incluindo o painel em azulejo “Paris-Lisbonne”.

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